Mensagem Quaresmal 2020
Sedentos
de Esperança a caminho da Páscoa
1 – A Quaresma é um tempo privilegiado de
conversão, pela escuta da Palavra de Deus e pelo acolhimento de catequeses mais
aprofundadas, que nos recordam os grandes temas baptismais, preparando-nos de
modo renovado e consciente para a vivência da Páscoa.
Este percurso exige de nós combate
espiritual para crescermos nas virtudes cristãs da fé, da esperança e da
caridade, e para renunciarmos ao pecado. Pede-nos igualmente um jejum
medicinal, que nos fortaleça na nossa liberdade interior para dizer “Sim” e
“Não” e, ao mesmo tempo, um jejum caritativo, ou seja, que leve à partilha de
nós mesmos, do nosso tempo e dos nossos bens, com quem tem necessidades
materiais ou da nossa presença.
Baptizados na morte e ressurreição de
Cristo, somos chamados a viver segundo os critérios do Homem Novo, não seguindo
meras propostas ideológicas nem uma moral abstrata, mas o testemunho de vida de
Cristo, na sua obediência filial ao Pai. No tempo da Quaresma, o Povo de Deus é
convidado a empreender um esforço exigente e libertador, abrindo-o ao
chamamento do Senhor e da Comunidade cristã.
Privando-se pelo jejum e pela abstinência
do alimento terreno, o povo santo de Deus, aprenderá a valorizar e a saborear,
acima de tudo, o Pão da Palavra de Deus e da Eucaristia e os apelos vindos dos
sinais dos tempos e da caridade que nos leva ao dever de partilhar os bens com
os outros, como nos exorta o II Concílio do Vaticano, na sua Constituição sobre
a Sagrada Liturgia, nº 110 «A penitência
quaresmal deve ser também externa e social, e não só interna e individual».
Por isso, orar e celebrar a Eucaristia no Tempo Quaresmal significa «percorrer,
juntamente com Cristo, o itinerário da provação que pertence à Igreja e a cada
ser humano; assumir mais decididamente a obediência filial ao Pai e o dom de si
aos irmãos que constituem o sacrifício espiritual». Assim, renovando com o
Espírito Santo os compromissos do nosso Baptismo, na noite pascal poderemos “fazer a passagem”, a Páscoa, para a
vida nova de Jesus, o Senhor ressuscitado, para a glória do Pai, na unidade do
Espírito.
2 – A Quaresma é por nós vivida, sob o
desafio de respondermos aos apelos do Senhor dirigidos a esta Arquidiocese de
Évora, edificando em nós o testemunho de vida como “Discípulos missionários da Esperança”, de modo a construirmos comunidades
empenhadas em “Procurar e acolher os
sedentos da esperança”.
Eis a Palavra de Jesus que nos guia no
amadurecimento espiritual e crescimento pastoral: «Vinde a Mim todos vós que andais cansados e oprimidos e Eu vos
aliviarei» (Mt 11, 28). Nesta perícope, Jesus põe em destaque como os
mistérios do Reino, que os fariseus rejeitaram, são na verdade revelados por
Ele, Filho de Deus, aos pequeninos, isto é, àqueles que os aceitam com
simplicidade. Estes são os discípulos, os pobres de espírito, os fatigados e
oprimidos, pelo fardo da lei e das observâncias farisaicas.
Jesus chama-os à liberdade, a uma
incondicional adesão a Ele, que é o único a tornar tudo leve, pois mostra-se
humilde diante de Deus e suave para com os homens.
Eis os discípulos missionários da
Esperança, os que procuram e acolhem!
Os pobres, os sofredores, os
marginalizados, os pequenos, os desconfiados da possibilidade do Amor, são
bem-aventurados, porque encontrarão conforto e alento n’Aquele que para eles é
o enviado do Pai e com eles se fez, a Ele mesmo, um deles.
Para todos nós, este é tempo de graça, pois
a Quaresma é tempo favorável, Kairós de Deus! Por isso, também para nós, o Hoje
de Deus nos convida a tornarmo-nos pequenos e humildes, percorrendo os caminhos
da metanoia, da conversão, indo até Àquele que nos quer salvar.
O modo sincero, autêntico e coerente de
actuação na caridade solidária e fraterna para com o próximo é sair da
neutralidade passiva, omissa, indiferente e alheada, e comprometermo-nos em
favor de todos os sós, pobres, sofredores e abandonados; no dizer do nosso
querido Papa Francisco, comprometermo-nos com as periferias sociais e
existenciais da Humanidade. Afinal, fazermo-nos presentes com toda a verdade
das nossas vidas. É na busca desta radicalidade de verdade que o Papa nos
dirige a sua mensagem para esta Quaresma, intitulada «Em nome de Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus»
(2 Cor 5, 20)
3 – A Quaresma propõe-nos acções concretas
que testemunhem ao mundo a nossa vontade de conversão e tornem credíveis as
nossas decisões de fraterna partilha, por isso, como nos anos anteriores,
propomo-nos a realizar uma Renúncia Quaresmal que dedicamos a quem nos parece
necessitado do sinal da nossa presença enquanto Igreja Diocesana.
No pretérito Ano Pastoral 2018-2019,
enviámos a nossa Renúncia Quaresmal às Igrejas da Venezuela e de Moçambique
(diocese da Beira), devido às terríveis provações com se debateram e ainda se
debatem.
Agradeço a toda a Arquidiocese a oferta de
vinte cinco mil euros que prontamente fizemos chegar à Cáritas Nacional para
esta lhes enviar.
Neste primeiro Ano Pastoral, de um triénio
dedicado à Esperança, lembro que os Consagrados estão sempre a caminho em busca
do que Deus quer deles e do que os fiéis lhes pedem, por isso, o Santo Padre
insiste constantemente na profecia, como elemento indispensável da vida
consagrada; o «louvor que dá alegria ao
povo de Deus, visão profética que revela o que canta e reza». Assim, a Vida
consagrada é chamada a manter acesa a lâmpada do profetismo, tornando-se um
farol para quantos estão desorientados no alto mar, uma tocha para aqueles que
caminham na escuridão, uma sentinela para aqueles que não veem uma saída na
vida. No coração dos Consagrados o convite do Papa Francisco deve ressoar bem
alto: «Despertai o mundo! Sede testemunho
de uma maneira diferente de fazer, de agir e de viver. Na Igreja, os religiosos
são chamados a ser profetas, a dar testemunho de como Jesus viveu nesta terra e
a proclamar como o Reino de Deus estará na sua perfeição».
Neste
Ano Pastoral, convido toda a Arquidiocese a dedicar a sua Renúncia
Quaresmal às duas comunidades Contemplativas Femininas presentes na nossa
Arquidiocese: a Ordem da
Imaculada Conceição (Monjas Concepcionistas) do Mosteiro da Imaculada Conceição
em Campo Maior e a Família Monástica de Belém da Assunção da Virgem e de S.
Bruno, estas ainda com o seu Mosteiro em construção na paróquia de Santo
António do Couço.Renovo a gratidão da Igreja em Évora, à
Cáritas Arquidiocesana pela coordenação desta campanha nos anos anteriores, e
volto a confiar-lhe esta tarefa de dinamizar e coordenar a recolha das
Renúncias nesta Quaresma.
Santa e Fecunda Quaresma para todos!
Évora, memória litúrgica dos Santos
Pastorinhos de Fátima
e centenário da morte de Santa Jacinta Marto,
20 de fevereiro de 2020
+ Francisco José Senra Coelho,
Arcebispo de Évora
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