sábado, 1 de novembro de 2008

Palavra de Vida
Novembro de 2008
Chiara Lubich
«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me»
[Lc 9, 23].
Não pensemos que, por estarmos neste mundo, podemos viver ao seu sabor como um peixe na água. Não pensemos que, pelo facto de o mundo nos entrar em casa através de certos programas de rádio ou da televisão, nos seja permitido ouvir todos os programas e ver todas as transmissões que fazem. Não pensemos que, por andarmos pelas estradas do mundo, podemos olhar impunemente para todos os cartazes e comprar no quiosque ou na livraria, indiscriminadamente, qualquer tipo de publicação. Não pensemos que, por estarmos no meio do mundo, podemos imitar e assumir os modos de viver do mundo: experiências fáceis, imoralidade, aborto, divórcio, ódio, violência, roubo.
Não, não. Nós estamos no mundo. E isso é evidente.
Mas não somos
do mundo (cf. Jo 17, 14).
E isso implica uma grande diferença. Classifica-nos entre aqueles que não se alimentam das coisas mundanas e superficiais, mas das que nos são expressas, dentro de nós, pela voz de Deus que está no coração de cada pessoa. Se a escutarmos, faz-nos penetrar num reino que não é deste mundo. Um reino onde se vive o amor verdadeiro, a justiça, a pureza, a mansidão, a pobreza. Onde vigora o domínio de si mesmo.
Porque é que muitos jovens fogem para o Oriente, para a Índia, por exemplo? E porque tentam encontrar ali um pouco de silêncio e aprender o segredo de algumas figuras importantes, grandes na espiritualidade, que, pela profunda mortificação do seu "eu" inferior, deixam transparecer um amor (...) que impressiona todos os que deles se aproximam. É a reacção natural à confusão do mundo, ao barulho que reina fora e dentro de nós, que já não dá espaço para o silêncio, para se ouvir Deus.
Coitados de nós! Mas será mesmo preciso ir à Índia, quando há dois mil anos Cristo nos disse:
«nega-te a ti mesmo... nega-te a ti mesmo...»?
A vida cómoda e tranquila não é para o cristão. Se quisermos seguir Cristo, ele não pediu nem nos pede menos do que isto.
O mundo invade-nos como um rio na época das cheias, e nós temos que ir contra a corrente. O mundo para o cristão é um matagal cerrado, e é preciso ver onde se põem os pés. E onde é que devemos pôr os nossos pés? Sobre aquelas pegadas que o próprio Cristo, ao passar nesta Terra, nos deixou assinaladas: são as Suas Palavras. Hoje, Ele diz-nos de novo:
«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» [Lc 9, 23].
Por causa disso, talvez se venha a ser alvo de desprezo, de incompreensão, de zombarias, de calúnias. Podemos ter que nos isolar, que aceitar a desconsideração, que abandonar um cristianismo de fachadas.
Mas Jesus continua:
«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» [Lc 9, 23].
Quer queiramos, quer não, o sofrimento amargura a nossa existência. Também a tua. E, todos os dias, chegam-nos pequenos ou grandes sofrimentos. Gostarias de te livrar deles? Revoltas-te? Dão-te vontade de te lamentares? Então, não és cristão.
O cristão ama a cruz, ama o sofrimento, mesmo entre lágrimas, porque sabe que tem valor. Não foi em vão que, entre os muitos meios de que Deus dispunha para salvar a humanidade, escolheu o sofrimento. Mas Ele - lembra-te -, depois de ter levado a cruz e de ser nela crucificado, ressuscitou.
A ressurreição é também o nosso destino (cf. Jo 6, 40). Se aceitarmos com amor - em vez de o desprezarmos - o sofrimento que nos vem da nossa coerência cristã e todos os outros que a vida nos traz, havemos de experimentar, então, que a cruz é o caminho, já nesta Terra, para uma alegria nunca antes experimentada. A vida da nossa alma começará a crescer. O reino de Deus em nós adquirirá consistência. E lá fora, pouco a pouco, o mundo vai desaparecendo aos nossos olhos e parecer-nos-á de cartão. E já não vamos ter inveja de ninguém.
Nessa altura já nos podemos considerar discípulos de Cristo:
«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» [Lc 9, 23].
E, como Cristo a quem seguimos, seremos luz e amor para as chagas sem número que dilaceram a humanidade de hoje.
(Palavra de Vida de Julho de 1978, publicada em “Essere la tua Parola, Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo”, Roma 1980, pp. 67-69)

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