Palavra de Vida
Julho 2021
Letizia Magri
“Tem confiança, minha filha, a tua fé te salvou”. (Mt 9,22)
Jesus ia a caminho, circundado pela multidão. Um pai desesperado implora-lhe que vá socorrer a sua filha que está a morrer. Enquanto para lá se dirige, dá-se um outro encontro: uma mulher, que há muitos anos sofria de perdas de sangue, abre caminho por entre as pessoas. A sua condição física tinha consequências tão graves que a obrigavam até a limitar os relacionamentos familiares e sociais. A mulher não chama por Jesus, não fala, mas aproxima-se por trás e ousa tocar na orla do seu manto. Tem uma forte convicção: “Se eu, ao menos, conseguir tocar no seu manto, ficarei curada deste sofrimento que me atormenta”.
Nesse momento, Jesus, voltando-se e olhando para ela, assegura-lhe que a sua fé obteve a salvação. Não apenas a saúde física mas, através do olhar de Jesus, o encontro com o amor de Deus.
“Tem confiança, minha filha, a tua fé te salvou”. (Mt 9,22)
Este episódio do Evangelho de Mateus abre também para nós perspetivas inesperadas: Deus vem sempre ao nosso encontro, mas espera também a nossa iniciativa para não perdermos o encontro com Ele. O nosso percurso de fé, embora acidentado e marcado por erros, fragilidades e deceções, tem um valor muito grande. Ele é o Senhor daquela Vida verdadeira que quer derramar sobre todos nós, seus filhos e filhas, revestidos de uma dignidade que nenhuma circunstância pode suprimir. Hoje, por isso, Jesus diz-nos também a nós:
“Tem confiança, minha filha, a tua fé te salvou”. (Mt 9,22)
Para vivermos esta Palavra, pode ajudar-nos o que Chiara Lubich escreveu, meditando precisamente sobre esta passagem evangélica: «Pela fé, o homem mostra claramente que não se apoia em si mesmo, mas que se confia a Alguém mais forte do que ele. […] Jesus chama à mulher curada “Filha”, para lhe revelar aquilo que deseja realmente dar-lhe: não só um dom para o seu corpo, mas a vida divina que a pode renovar inteiramente. Com efeito, Jesus realiza os milagres para que seja acolhida a salvação de que é portador, o perdão, o dom do Pai que é Ele mesmo e que, comunicando-se ao homem, o transforma. […] Como viver, então, esta Palavra? Demonstrando a Deus, nas necessidades graves, toda a nossa confiança. Esta atitude não nos isenta das nossas responsabilidades, não nos dispensa de fazer toda a nossa parte. […] Pode acontecer que a nossa fé seja posta à prova. É o que verificamos nesta mulher que sofre, mas que consegue ultrapassar o obstáculo da multidão que a separa do Mestre. […] Devemos, portanto, ter fé. Mas aquela fé que não vacila diante da provação. Devemos também mostrar a Jesus que compreendemos o imenso tesouro que Ele nos trouxe, o dom da vida divina, estando-Lhe gratos e correspondendo a esse dom» (C. Lubich, Palavra de Vida de julho de 1997, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 583-585).
“Tem confiança, minha filha, a tua fé te salvou”. (Mt 9,22)
Esta certeza permite-nos também ser portadores de salvação, “tocando” com ternura quem está, por sua vez, em sofrimento, em necessidade, na escuridão, sem rumo.
Assim aconteceu com uma mãe da Venezuela, que encontrou a coragem de perdoar: «Numa desesperada procura de ajuda, participei num encontro sobre o Evangelho, onde ouvi comentar as frases de Jesus: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Cf. Mt 5,9) e “Amai os vossos inimigos” (Cf. Lc 6,35). Como podia eu perdoar a quem tinha assassinado o meu filho? Entretanto, a semente tinha entrado em mim e, finalmente, prevaleceu a decisão de perdoar. Agora posso chamar-me de verdade: “filha de Deus”.
Recentemente fui chamada para encontrar o assassino do meu filho, que tinha sido preso. Foi muito difícil, mas interveio a graça. No meu coração não havia ódio nem rancor, mas apenas uma grande compaixão e a intenção de o confiar à misericórdia de Deus».
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