terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O seu ao Seu dono…
Devolvamos Jesus ao Natal
“…não havia lugar para Ele na hospedaria…”
(Lc 2, 6). Esta passagem do Evangelho de São Lucas, que escutamos na Missa do Galo, certamente provoca em nós um sentimento de solidariedade, para com a Santa Família de Nazaré e, sentimo-nos escandalizados com a falta de generosidade e hospitalidade, das gentes de Belém, por não acolherem uma jovem em trabalho de parto. E temos muita razão, contudo… infelizmente hoje, em Dezembro de 2010, com outros nomes, com outras caras e cores… a história dos habitantes de Belém, repete-se na nossa terra, na nossa vizinhança, na nossa casa… Jesus vem ao nosso encontro e nós fechamos-lhe as portas da nossa vida, não deixamos que Ele faça parte de nossa existência… As Suas propostas de uma vida mais justa, mais verdadeira, mais solidária, mais santa, não encontram eco em nós. As suas propostas de acolher e amar o outro como a nós mesmos, de o perdoar, de lhe estender a mão, pois “Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequenos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40), não encontram eco nas nossas vidas. Digam-me lá se isto não é fechar as portas a Jesus, que chega, se isto não é impedi-l’O de fazer parte do nosso quotidiano, da nossa história pessoal?
“Veio ao que era Seu e os Seus não O receberam…” (Jo 1, 11). Não só lhe fechamos a porta, sempre que não escutamos as suas propostas de vida nova, mais feliz, mais autêntica, mais plena…, como nos esforçamos por desalojar Jesus, daquilo que é Seu por direito… É Natal porque Jesus nasceu, e ponto. Luzes, Pais Natais, neve, prendas, renas, bolos-rei, doces, chocolates… E Jesus? Onde está Jesus…? No meu coração, a incredulidade e, depois, quase a rebelião: este mundo rico “apoderou-se” do Natal e de tudo o que o rodeia, e “desalojou” Jesus! Aprecia, do Natal, a poesia, o ambiente, a amizade que suscita, os presentes que sugere, as luzes, as estrelas, os cânticos. Aposta no Natal tendo em mira o maior lucro do ano… Mas não pensa em Jesus” (Chiara Lubich).
Está na hora de dar o seu ao Seu dono. A poesia do Natal, a festa da família, as prendas, etc… devem-se a um Deus que de tal forma nos Ama, com tal entusiasmo, generosidade e paixão, a ponto de se fazer Emanuel, “Deus-Connosco”. Porque nos ama desta forma, quer partilhar a nossa vida, para lhe dar sentido, para a restaurar e encher de esperança, de alegria, de paz…
Devolvamos Jesus ao Natal…
Acolhamo-l’O sempre que cruzar as nossas vidas, vier ao nosso encontro no pobre que nos estende a mão, na pessoa que precisa do nosso perdão, naquele que precisa da nossa companhia para afastar a angústia da solidão, no que implora o nosso sorriso para afastar a nuvem da tristeza ou do isolamento… Nos gritos da Humanidade que sofre, está Jesus, abramos de par em par as portas do nosso coração para o acolher, para o receber… dêmos-lhe lugar…, que Ele faça de nós, verdadeiramente, a morada da Sua predilecção.
Gritemos ao mundo que Ele, Jesus, o Emanuel, o Amor, é o Senhor do Natal… Ele é o segredo, Ele dá sentido às nossas alegrias e tristezas, o seu amor, as suas palavras, curam as feridas do nosso coração, restaura-nos, fazem-nos pessoas melhores…
Gritemos: “o Natal é Jesus, é de Jesus”.
Coloquemo-l’O nas nossas janelas, nos nossos presépios, na celebração da nossa fé - não deixemos passar o Natal sem a Santa Missa -, nos nossos gestos de generosidade verdadeiramente evangélicos…
Que nas nossas casas e nas nossas vidas se grite Quem nasceu: JESUS.
Preparemos-Lhe uma festa sem igual, pois Ele “…é 0 verdadeiro e único tesouro que temos que dar à humanidade” (cf. Bento XVI).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mensagem de Natal do Arcebispo de Évora
D. José Francisco Sanches Alves
MANIFESTOU-SE A BONDADE DE DEUS (Tit. 3,4)
A bondade é intrínseca à essência de Deus. Mas como a Deus ninguém jamais o viu, também não poderemos captar a Sua bondade a não ser que Ele no-la manifeste. E foi o que Ele fez. Para nos manifestar a Sua bondade, veio viver para o meio de nós. O Verbo de Deus encarnou no seio da Virgem Maria, fez-se homem para que os humanos pudessem captar a Sua bondade e a forma como Ele a colocou ao nosso alcance e ao nosso serviço.
O Evangelho diz-nos o que fez Deus para que nós pudéssemos captar a Sua bondade: desceu do céu à terra e assumiu a nossa humanidade; apresentou-se revestido de humildade; na sua relação privilegiou os mais carenciados de bens materiais, de saúde e de apoio moral; levou a sua bondade até ao extremo de entregar voluntariamente a própria vida pela salvação da humanidade pecadora.
A manifestação da bondade de Deus não tinha como finalidade única enriquecer a nossa informação, o nosso conhecimento. Ia muito mais além. Deus quis libertar-nos do pecado, elevar-nos até à divindade. Desceu do Céu à terra para que nós fôssemos elevados da terra ao Céu. E mostrou-nos o caminho a percorrer para chegar lá, dando-nos o exemplo de vida e acrescentado: como Eu fiz, fazei vós também (Jo 13,15).
Contemplando Jesus Cristo, imagem da substância de Deus, compreenderemos qual deva ser a nossa atitude de cristãos perante a vida e perante os outros, em todo o tempo e lugar, e, nomeadamente, no contexto actual de crise, que tem vindo a lançar tantos concidadãos e irmãos nossos no desemprego, na pobreza inesperada, no rebaixamento social e moral. Cresce, dia a dia, o número dos que se vêem obrigados a recorrer às instituições de solidariedade e a estender a mão à caridade de pessoas singulares. Aumenta o número dos que vivem isolados, gastos pela idade ou deteriorados pela doença. Há crianças e jovens que padecem graves carências alimentares e afectivas. Centenas de homens e mulheres fazem da rua a sua casa por não possuírem o abrigo de um tecto, onde se possam acolher e descansar.
De todas essas situações se elevam gritos silenciosos, dirigidos ao coração dos seus semelhantes mais afortunados, para que, movidos pela bondade aprendida em Jesus Cristo, venham em seu auxílio. Como as vozes dos que esperavam o Messias, as vozes dos pobres dos nossos dias chegam ao trono de Deus. E agora é a nossa vez de escutar os apelos de quem espera que a bondade de Deus se manifeste por nosso intermédio. Para isso, a exemplo de Cristo, revestidos de humildade e de bondade, devemos ir ao encontro dos que precisam, dispostos a partilhar o que temos e o que somos.
Não tapemos os ouvidos - ouçamos os gritos dos pobres. Não cerremos os olhos - vejamos o que se passa à nossa volta. Não fechemos o coração - deixemo-nos comover pela indigência dos abandonados, dos marginalizados e dos isolados. De braços estendidos e mãos abertas, partilhemos os bens materiais, os afectos e os dons espirituais com que fomos enriquecidos pela bondade de Deus, que se manifestou neste mundo, para a todos enriquecer com os seus bens.
Desejo a todos um Santo Natal de partilha, de bondade e de AMOR.
+José, Arcebispo de Évora
Eis a voz do meu amado! Ele aí vem, transpondo os montes, saltando sobre as colinas. O meu amado é semelhante a uma gazela ou ao filhinho da corça. Ei-lo detrás do nosso muro, a olhar pela janela, a espreitar através das grades. O meu amado ergue a voz e diz-me: «Levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem. Já passou o inverno, já se foram e cessaram as chuvas. Desabrocharam as flores sobre a terra; chegou o tempo das canções e já se ouve nos nossos campos a voz da rola. Na figueira começam a brotar os primeiros figos e a vinha em flor exala o seu perfume. Levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem. Minha pomba, escondida nas fendas dos rochedos, ao abrigo das encostas escarpadas, mostra-me o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz. A tua voz é suave e o teu rosto é encantador».
(Cant 2, 8-14)

domingo, 19 de dezembro de 2010

REZAR COM OS SALMOS...
Salmo 111 (112)
Sentido Inicial
Este salmo descreve a vida e o modo de agir do homem justo, e a felicidade que daí lhe advém, nos três domínios fundamentais da vida: a posteridade, a riqueza para distribuir pelos pobres, a vitória sobre os inimigos.
Esse homem é fiel a Deus e ama os seus preceitos (1), é generoso (3. 9), usa de misericórdia para com os outros e em tudo procede com justiça (4-5). As bênçãos desta vida enchê-lo-ão de paz: ele e seus filhos serão poderosos (2), terá riquezas (3), viverá em segurança (6-7), será um homem de fé e verá os adversários confundidos (8), e ao partir deste mundo deixará atrás de si memória eterna (6), apesar da inveja e indignação dos ímpios (10).
Sentido actual
A tradição interpretou este salmo como cântico vespertino a Jesus Cristo, 0 Justo segundo o coração de Deus, «que andou de lugar em lugar, fazendo 0 bem» (Act 10, 38), luz nas trevas, misericórdia, compaixão e bondade do Pai, e hino de louvor aos santos que, depois d'Ele, procedem «como filhos da luz, cujo fruto consiste na bondade, na justiça e na verdade» (Ef 5, 8-9).
Rezado na hora em que o sol desaparece, ele evoca a felicidade daqueles que, pela sua comunhão com Cristo, são herdeiros das bênçãos da nova aliança, e lembra a recompensa dos santos e o seu destino glorioso, ideia tradicional do domingo, chamado pelos Padres o oitavo dia, figura da eternidade feliz.
O homem que, pela sua generosidade, imita a generosidade divina, realiza a palavra de Jesus: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5,48). A ele se refere São Paulo, quando escreve: «Cada um dê como dispôs em seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus tem poder para vos cumular de toda a espécie de graça, para que, tendo sempre e em tudo quanto vos é necessário, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género. Como está escrito: "Distribuiu, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre". Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vossa justiça. Assim, sereis enriquecidos em tudo, para exercer toda a espécie de generosidade que suscitará, por nosso intermédio, a acção de graças a Deus» (2 Cor 9, 7-11).
Salmo 111 (112)
1 Feliz o homem que teme o Senhor *
e ama ardentemente os seus preceitos.
2 A sua descendência será poderosa sobre a terra, *
será abençoada a geração dos justos.
3 Haverá em sua casa abundância e riqueza, *
a sua generosidade permanece para sempre.
4 Brilha aos homens rectos, como luz nas trevas, *
o homem misericordioso, compassivo e justo.
5 Ditoso o homem que se compadece e empresta *
e dispõe das suas coisas com justiça.
6 Este jamais será abalado, *
o justo deixará memória eterna.
7 Ele não receia más notícias, *
seu coração está firme, confiado no Senhor.
8 O seu coração é inabalável, nada teme, *
e verá os adversários confundidos.
9 Reparte com largueza pelos pobres, *
a sua generosidade permanece para sempre e pode levantar a cabeça com altivez.
10 Ao vê-lo, o ímpio fica indignado, *
range os dentes e desfalece: os desejos dos ímpios saem frustrados.
Comentário de Santo Agostinho
«A Igreja é, de maneira mais perfeita, o corpo de Cristo. Aquele que é a sua cabeça subiu ao céu. Ele é por excelência a pedra viva, a pedra angular, da qual Pedro disse: Aproximai-vos d'Ele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. Também vós, como pedras vivas, entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.
Aquele que quiser tornar-se uma pedra viva, adaptada a tal edificio, deve compreender espiritualmente como é que o templo se levanta sobre as ruínas do primeiro Adão, e como renasce um povo novo, segundo o homem novo e celeste, já não à imagem do homem terrestre mas d' Aquele que está no céu.
Em Cristo ressuscitado nós podemos, depois das etapas desta vida, após o longo cativeiro do nosso exílio, construir uma morada já não perecível mas solidamente estabelecida, para durar sempre, a Jerusalém espiritual.
Isso faz dizer ao Apóstolo: O templo de Deus é santo, e vós sois esse templo. Entremos, portanto, como uma pedra viva no templo em construção, para escapar a este mundo que cai em ruínas, e fazer parte da cidade santa e definitiva. Então, não apenas a nossa voz mas também a nossa vida cantará o salmo.
O acabamento do edifício será uma paz inefável e a sabedoria que começa pelo temor de Deus. Comece, pois, por este temor, aquele que, pela sua conversão, quer entrar no edifício de Deus: Feliz o homem que teme ao Senhor e ama ardentemente os seus preceitos».
Oração Sálmica
Senhor misericordioso, compassivo e justo, que repartis com largueza pelos pobres, concedi-nos a abundância e a riqueza da vossa casa, para que seja abençoada a geração dos justos e a generosidade do vosso Filho permaneça para sempre. Por Nosso Senhor...
in Saltério Litúrgico,
Secretariado Nacional de Liturgia / G.C. Gráfica de Coimbra Ldª, pgs 715-719

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

“… com ânsia e gemido saído do coração já ferido do Amor de Deus,
começa a invocar o seu Amado e diz:
Aonde te escondeste, Amado,
e me deixaste com gemidos?
Como cervo fugiste, tendo-me ferido,
saí atrás de ti clamando,
e tinhas ido.”
São João da Cruz

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

REZAR COM OS SALMOS...
Sentido Inicial
Este salmo é mais um dos que cantavam os peregrinos que subiam a Jerusalém. Trata-se de uma acção de graças pela libertação de grandes perigos, impossíveis de identificar, mas provavelmente posteriores ao exílio. Seja como for, podemos continuar a rezá-lo em situações semelhantes.
Começa por um condicional irreal: Se o Senhor não estivesse connosco. O povo de Deus, libertado dum grave perigo, descreve o que lhe teria acontecido se Deus o não tivesse ajudado (1-5). Porém, graças à intervenção do Senhor, o perigo passou, pelo que o salmista dá graças a Deus pela libertação e afirma que só no Senhor está a sua protecção (6-8).
Sentido Actual
Esta é a oração dos pobres de Deus que, ao findar de mais um dia, dão graças pela protecção de que se sentiram objecto. Se o Senhor não estivesse connosco, teríamos sido devorados vivos, as águas ter-nos-iam ajogado. Mas Jesus Cristo foi o nosso companheiro de jornada, e porque Ele bebeu da torrente do sofrimento, a nossa vida escapou como um pássaro, quebrou-se a armadilha e nós ficámos livres. O nosso auxílio vem do Senhor. Bendito seja Deus para sempre.
Podemos imaginar Jesus a pronunciar este condicional irreal: Se o Pai não Me tivesse feito ressuscitar, o túmulo ter-me-ia devorado vivo. Podemos imaginar Paulo a dizer: Se eu não tivesse, por Jesus Cristo, vencido a morte, a torrente teria passado sobre mim.
«Nada temas ... , porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal» (Act 18, 9-10), disse Jesus a Paulo. Ele acreditou e saiu vencedor de todos os perigos: «Cinco vezes fui açoitado, três vezes flagelado, uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar. Viagens a pé sem conta, perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus irmãos de raça, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos da parte dos falsos irmãos! Trabalhos e duras fadigas, muitas noites sem dormir, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez» (2 Cor 11, 24-27). Mas nenhum perigo lhe fez mal. A mão do Senhor protegeu-o. E ele pode dizer com toda a verdade: «Sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10).
Salmo 123 (124)
1 Se o Senhor não estivesse connosco, *
que o diga Israel,
2 se o Senhor não estivesse connosco, *
os homens que se levantaram contra nós
3 ter-nos-iam devorado vivos, *
no furor da sua ira.
4 As águas ter-nos-iam afogado, *
a torrente teria passado sobre nós;
5 sobre nós teriam passado *
as águas impetuosas.
6 Bendito seja o Senhor, *
que não nos abandonou como presa dos seus dentes.
7 A nossa vida escapou como pássaro *
do laço dos caçadores:
quebrou-se a armadilha *
e nós ficámos livres.
8 A nossa protecção está no nome do Senhor, *
que fez o céu e a terra.
Comentário de Santo Agostinho
«Já sabeis, irmãos caríssimos, que um cântico gradual é o cântico da nossa ascensão, não a montanha, mas no fervor do nosso coração. Quer seja um só que o cante, quer seja cantado por vários, não formam mais que um só homem, reunido em Cristo, de quem todos os cristãos são membros. E que cantam eles? Que cantam os membros de Cristo? Eles amam, e o amor faz cantar, o amor eleva. Às vezes cantam na tribulação, outras vezes na alegria, mas sempre com esperança: a nossa provação é na vida presente, a nossa esperança no mundo futuro. A nossa alegria, irmãos, ainda não nasce da posse, mas da esperança. Porém, a nossa esperança é tão segura que já parece realidade perfeita, porque repousa sobre a promessa d' Aquele que é a verdade, que não pode enganar-Se nem enganar. Estamos cheios de alegria ao cantar este salmo: os membros de Cristo cantam-no na alegria. E quem pode exultar aqui na terra, a não ser em esperança, como dissemos? Seja firme a nossa esperança e esfuziante a nossa alegria. Os que cantam não nos são estranhos, e não podemos dizer que não descobrimos no salmo a nossa própria voz. Escutai o salmo, como se vos ouvísseis a vós mesmos; escutai o salmo, como se vos contemplásseis no espelho das Escrituras. Quando olhas para as Escritura como se fossem um espelho, o teu rosto alegra-se. Ao veres que és semelhante, pela alegria da esperança, a certos membros de Cristo que cantaram este salmo, também tu te encontrarás entre eles, e por tua vez o cantarás. Porque cantam eles na alegria? Porque escaparam ao perigo. A esperança fá-los cantar. Alguns membros do nosso corpo podem cantar este salmo com toda a verdade. São os mártires. Já libertados, alegram-se em Cristo».
Oração Sálmica
Senhor Jesus, que predissestes aos vossos discípulos que seriam odiados por causa do vosso nome, mas que nem um só cabelo da sua cabeça se perderia, concedei-nos na provação da vida a protecção do Espírito Santo e a alegria da sua consolação, para que, livres dos laços do caçador, exaltemos para sempre o vosso nome. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Ámen.
in Saltério Litúrgico,
Secretariado Nacional de Liturgia / G.C. Gráfica de Coimbra Ldª, pgs 556-559

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ó Jesus, meu Bem-Amado, como é doce amar-te, pertencer-te, ter-te por único Todo! Ah, agora que vens diariamente ao meu coração, que a nossa união seja ainda mais íntima. Que a minha vida seja uma oração contínua, um longo acto de amor. Que nada me possa distrair de ti, nem ruídos, nem distracção, nada, não é? Gostaria tanto, ó meu Mestre, de viver contigo no silêncio. Mas o que acima de tudo mais amo é fazer a tua vontade, e dado que ainda me queres no mundo, submeto-me de todo o meu coração pelo amor de ti. Ofereço-te a cela do meu coração, que seja a tua pequena Betânia; vem aqui repousar-te, amo-te tanto... Queria consolar-te e ofereço-me a ti como vítima, ó Mestre, por ti, contigo. Aceito antecipadamente todos os sacrifícios, todas as provas, mesmo a de já não te sentir comigo. Não te peço senão uma única coisa: que eu seja sempre, sempre, generosa e fiel; mesmo que nunca me corrija. Quero cumprir perfeitamente a tua vontade, responder sempre à tua graça; desejo ser santa contigo e para ti, mas sinto a minha incapacidade, oh! sê a minha santidade. Se alguma vez [me] arrepender, oh! conjuro-te, suplico-te: enquanto eu for ainda tudo para ti, leva-me, faz-me morrer. Sou a tua «pequena mimada», tu mo dizes, mas talvez, em breve, venha a provação e, então, hei-de ser eu a retribuir-te. Mestre, não são estes dons, estas consolações com que me comulas que procuro; és tu, oh! unicamente tu! Ampara-me sempre, toma-me cada vez mais; que tudo em mim te pertença; quebra, arranca tudo o que te desagradar para que eu tudo seja para ti. Oh!, cada batimento do meu coração é um acto de amor. Meu Jesus, meu Deus, como é bom amar-te, ser inteiramente tua!
Beata Isabel da Santíssima Trindade
23 de Janeiro de 1900
(Notas Íntimas)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Caros irmãos e irmãs!
Hoje o nosso apontamento para a oração do Angelus adquire uma luz especial, no contexto da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Na Liturgia desta festa é proclamado o Evangelho da Anunciação (Lc 1, 26-38), que contém o diálogo entre o anjo Gabriel e a Virgem. “Alegra-te, cheia de graça: o Senhor é contigo” – diz o mensageiro de Deus, e deste modo revela a identidade mais profunda de Maria, o "nome" por assim dizer, com que o próprio Deus a conhece: "cheia de graça". Esta expressão, que nos é tão familiar desde a infância porque a pronunciamos cada vez que recitamos a "Avé Maria", oferece-nos a explicação do mistério que hoje celebramos. Na verdade Maria, desde o momento em que foi concebida pelos seus pais, foi objecto de uma singular predilecção da parte de Deus, o qual, no Seu desígnio eterno, a predestinou para ser a mãe do Seu Filho feito homem e, em consequência, preservada do pecado original. Por isso o Anjo dirige-se a ela com este nome, que implicitamente significa: "desde sempre cheia do amor de Deus", da sua graça.
O mistério da Imaculada Conceição é fonte de luz interior, de esperança e de conforto. No meio das provas da vida e especialmente das contradições que o homem experimenta dentro de si e à sua volta, Maria, Mãe de Cristo, diz-nos que a Graça é maior que o pecado, que a misericórdia de Deus é mais poderosa que o mal e sabe transforma-lo em bem. Infelizmente diariamente fazemos a experiência do mal, que se manifesta de muitas formas nas relações e nos acontecimentos, que tem a sua raiz no coração do Homem, um coração ferido, doente, e incapaz de se curar sozinho. A Sagrada Escritura revela-nos que na origem de todo o mal está a desobediência à Vontade de Deus, e que a morte tomou o domínio porque a liberdade humana cedeu à tentação do Maligno. Mas Deus não desiste do seu desígnio de amor e de vida: através de um longo e paciente caminho de reconciliação preparou para a aliança nova e eterna, firmada no sangue do seu Filho, que para oferecer-se a si mesmo em expiação "nasceu de uma mulher" (Gl 4, 4). Esta mulher, a Virgem Maria, beneficiou antecipadamente da morte redentora do seu Filho e desde a Concepção foi preservada do contágio da culpa. Por isso, com o seu Coração Imaculado, Ela nos diz: confiai-vos a Jesus, Ele vos salva.
(...)
Bento XVI, Angelus "Praça de São Pedro", 8 de Dezembro de 2010
(tradução do Italiano ao Português da responsabilidade do autor deste blog)

sábado, 4 de dezembro de 2010

REZAR COM OS SALMOS...
Sentido Inicial
Cada versículo desta estrofe do salmo 118 é uma súplica. Os quatro primeiros pedem ao Senhor a sua luz e a sua presença para discernir correctamente o caminho a tomar, e para o seguir fielmente e com alegria: ensinai-me o caminho dos vossos decretos; dai-me entendimento e coração; conduzi-me pela senda dos vossos mandamentos (33-36). Os quatro últimos são sobretudo um pedido de socorro: desviai os meu olhos das vaidades, afastai de mim a afronta que me atemoriza e, por duas vezes, fazei-me viver (37-40).

Sentido Actual
No Pai Nosso, Jesus ensinou-nos a pedir ao Pai: «Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu» (Mt 6, 10). A vontade de Deus é que o homem seja santo e viva. Jesus foi santo e vive para sempre na glória do Pai. Ninguém como Ele colocou toda a sua vida ao serviço da vontade de Deus. O Pai conduziu-O pelo caminho dos mandamentos. Essa graça pede-a agora a Igreja para todos os fiéis e para todos os homens.
Salmo 118 (119), 33-40
33 Ensinai-me, Senhor, o caminho dos vossos decretos, *
para ser fiel até ao fim.
34 Dai-me entendimento para guardar a vossa lei *
e para a cumprir de todo o coração.
35 Conduzi-me pela senda dos vossos mandamentos, *
pois nela estão as minhas delícias.
36 Inclinai o meu coração para as vossas ordens *
e não para o vil interesse.
37 Desviai os meus olhos das vaidades *
e fazei-me viver nos vossos caminhos.
38 Cumpri a promessa feita ao vosso servo, *
destinada aos que Vos temem.
39 Afastai de mim a afronta que me atemoriza, *
pois são agradáveis os vossos juízos.
40 Vede como amo os vossos preceitos, *
fazei-me viver segundo a vossa justiça.
Comentário de Santo Agostinho
«Eis como o salmista quer que o Senhor grave a lei dentro de si, não em tábuas de pedra, como se fez aos rebeldes do Antigo Testamento, mas como se escreve nos corações e se grava pelo Espírito Santo, dedo de Deus, na mente dos filhos santos da Jerusalém do alto, dos filhos da promessa e da herança eterna, não para a guardarem na memória e a descuidarem na vida, mas para a conhecerem entendendo-a e a praticarem amando-a, na amplidão do amor e não na estreiteza do temor.
Quem cumpre a lei por temor e não por amor, sem dúvida que a cumpre obrigado. Aquele que cumpre a lei por ser obrigado, se pudesse não a cumpria, e por isso não é amigo da lei mas antes seu inimigo. Não se purifica ao cumpri-la, porque é impuro no querer».
Oração Sálmica
Ensinai-nos, Senhor, a cumprir de todo o coração a vossa vontade, para desviarmos na terra os olhos das vaidades e contemplarmos no céu as delícias eternas. Por Nosso Senhor...
in Saltério Litúrgico,
Secretariado Nacional de Liturgia / G.C. Gráfica de Coimbra Ldª, pgs 256-258

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Eu também estou a teus pés.
Eu também Te vejo ressuscitado…
E não somente me apareceste,
não somente me deste os teus pés a beijar…
encerraste-me nos teus braços
como a Virgem Santíssima…
E estás sempre aqui, sempre diante de mim.
Oh! Que felicidade!
Jesus, meu amado, estás diante de mim,
ressuscitado… e não morres mais…
Tu, que estás diante de mim,
és feliz para a eternidade…
É tão doce ver-Te! Olhar para Ti!
Minha felicidade é acima de tudo tua:
a felicidade do céu, amar-Te e ver-Te feliz…
Beato Carlos de Jesus (Foucauld),
diante do Sacrário na Páscoa 1898
PALAVRA DE VIDA
DEZEMBRO de 2010
Chiara Lubich
«Nada é impossível a Deus»
(Lc 1, 37)
.
Na Anunciação, Maria pergunta ao Anjo: «Como será isso?» (cf. Lc 1, 34), e ele responde: «Nada é impossível a Deus», dando-lhe como prova o exemplo de Isabel, que concebera um filho na sua velhice. Maria acreditou e tornou-se a Mãe do Senhor.
Deus é omnipotente. Esta Sua qualidade é mencionada em diversas situações, na Sagrada Escritura, quando se quer exprimir a força de Deus: ao abençoar, ao julgar, ao dirigir o curso dos acontecimentos, ao realizar os Seus planos.
Existe um único limite à omnipotência de Deus: é a liberdade humana. Esta pode opor-se à vontade de Deus. Mas, opondo-se a Deus, a pessoa enfraquece espiritualmente, quando, pelo contrário, seria chamada a partilhar a própria força de Deus.
«Nada é impossível a Deus»
(Lc 1, 37)
.
(...) É uma Palavra que nos convida a ter uma confiança ilimitada no amor de Deus-Pai, porque, se Deus é e se o Seu ser é Amor, a confiança plena Nele não é senão uma consequência lógica.
Todas as graças estão em Seu poder: tanto as físicas como as espirituais, as possíveis e as impossíveis. E Deus concede-as tanto a quem as pede como a quem não pede, pois, como diz o Evangelho, Ele, o Pai que está no Céu, «faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (cf. Mt 5, 45). Mas Deus pede-nos para agirmos todos como Ele, com o mesmo amor universal, sustentado pela fé de que:
«Nada é impossível a Deus»
(Lc 1, 37)
.
Como viver, então, esta Palavra na vida de todos os dias?
Todos nós temos que enfrentar, de vez em quando, situações difíceis, dolorosas, quer na nossa vida pessoal, quer nos relacionamentos com os outros. E experimentamos, às vezes, toda a nossa fraqueza, porque notamos em nós apegos a coisas e a pessoas que nos tornam escravos, com amarras, de que nos gostaríamos de libertar. Encontramo-nos, muitas vezes, diante de paredes de indiferença e de egoísmo, e sentimo-nos sem coragem perante acontecimentos que não conseguimos compreender.
Pois bem, nesses momentos, a Palavra de Vida pode vir em nosso auxílio. Jesus deixa-nos fazer a experiência da nossa incapacidade, não para nos desencorajar, mas para nos ajudar a compreender melhor que «nada é impossível a Deus». Ele prepara-nos para experimentar a extraordinária força da Sua graça, que se manifesta precisamente quando vemos que, com as nossas pobres forças, não conseguimos resistir.
«Nada é impossível a Deus»
(Lc 1, 37).
Repetindo dentro de nós esta frase nos momentos mais críticos, alcançaremos da Palavra de Deus a energia que ela contém, fazendo-nos participar, de certa forma, da própria omnipotência de Deus. Mas há uma condição: temos que viver a Sua vontade, procurando irradiar à nossa volta o amor que está depositado nos nossos corações. Assim estaremos em sintonia com o Amor omnipotente de Deus pelas suas criaturas, para Quem tudo é possível, contribuindo para realizar os Seus planos sobre os indivíduos e sobre a humanidade.
Mas há um momento especial em que podemos viver esta Palavra e experimentar toda a sua eficácia: é na oração.
Jesus disse que tudo o que pedirmos, em Seu nome, ao Pai, Ele nos concederá. Procuremos, portanto, pedir-Lhe aquilo que considerarmos mais importante, com a certeza da fé de que nada é impossível a Ele: desde a solução de casos desesperados, até à paz no mundo, a cura de doenças graves, e até a resolução de conflitos familiares e sociais.
Além disso, se formos muitos a pedir a mesma coisa, estando em pleno acordo através do amor recíproco, então será o próprio Jesus no meio de nós a pedir ao Pai e, segundo a Sua promessa, seremos atendidos.
Com esta fé na omnipotência de Deus e no seu Amor, também nós pedimos um dia para N. que aquele tumor, detectado numa radiografia, "desaparecesse", ou que fosse um erro ou um fantasma. E assim aconteceu.
Esta confiança ilimitada, que nos faz sentir nos braços de um Pai a Quem tudo é possível, deve acompanhar-nos em todas as vicissitudes da vida. Não quer dizer que vamos obter sempre aquilo que pedirmos. A Sua é a omnipotência de um Pai: Ele usa-a sempre e unicamente para o bem dos seus filhos, mesmo que eles não saibam. O importante é viver cultivando a certeza de que nada é impossível a Deus, e isto vai fazer-nos experimentar uma paz nunca antes sentida.
Palavra de Vida, Dezembro de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/22, p. 7