sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Palavra de Vida

Dezembro de 2023

Texto preparado por Victoria Gómez e pela equipa da Palavra de Vida

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». (1Ts 5,16-18)

Quando Paulo escreveu aos tessalonicenses, ainda estavam vivos muitos dos contemporâneos de Jesus que O tinham visto e ouvido, que foram testemunhas da tragédia da Sua morte e do assombro perante a Sua ressurreição e ascensão. Eles reconheciam o rastro deixado por Jesus e esperavam o Seu retorno iminente. Paulo amava a comunidade de Tessalónica, que era exemplar pela vida, pelo testemunho e pelos frutos. Escreveu-lhes então esta carta, insistindo para que fosse lida a todos (5,27). Nela fez algumas recomendações, para que continuassem a ser “imitadores nossos e do Senhor” (1,6), e resumiu-as assim: 

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». (1Ts 5,16-18)

O fio condutor destas prementes exortações não é apenas aquilo que Deus espera de nós, mas quando: sempre, sem cessar, em todas as circunstâncias. 

Mas será possível mandar alguém alegrar-se? Todos nos sentimos por vezes assolados por problemas e preocupações, por sofrimentos e angústias, sobretudo quando nos deparamos com uma realidade social árida e hostil. No entanto, para Paulo, há um motivo pelo qual é sempre possível ter “aquela alegria” a que ele se refere. Dirige-se a cristãos, por isso recomenda que levem a sério a vida cristã, para que Jesus possa viver neles com a plenitude que Ele prometeu após a ressurreição. É o que também nós podemos experimentar: Ele vive naqueles que amam, e qualquer pessoa pode percorrer o caminho do amor com o desapego de si mesmo, com o amor gratuito pelos outros, aceitando a ajuda dos amigos, mantendo viva a confiança de que “o amor vence tudo” (Virgílio. Écloga X.69).

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». (1Ts 5,16-18)

No diálogo com fiéis de diferentes religiões e com pessoas de outras convicções, compreendemos ainda mais profundamente que orar é uma ação profundamente humana. A oração edifica a pessoa, eleva-a. 

Mas como podemos “orar sem cessar”? Escreve o teólogo ortodoxo Evdokimov: «… Não basta ter a oração, ter regras, ter hábitos; é preciso tornar-se oração, ser oração incarnada, fazer da própria vida uma liturgia, rezar através das coisas mais banais» (Evdokimov, Pavel. «La preghiera di Gesù» in La novità dello Spirito. Milão: Ed. Ancora 1997)Chiara Lubich salienta que “podemos amar [a Deus] como filhos, quando o Espírito Santo enche o nosso coração de amor e de confiança no próprio Pai: aquela confiança que nos leva a falar frequentemente com Ele, a contar-Lhe tudo, os nossos propósitos, os nossos projetos” (LUBICH, Chiara. Conversazioni. Roma: Città Nuova 2019, p. 552)

Há ainda um modo de rezar sempre que é acessível a todos: parar antes de cada ação e retificar a intenção com um “Por Ti”. É uma prática simples que transforma em contínua oração, a partir de dentro, as nossas atividades e toda a nossa vida. 

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». (1Ts 5,16-18)

“Dai graças em todas as circunstâncias”. É a atitude que brota livre e sincera do amor agradecido Àquele que, silenciosamente, sustenta e acompanha os indivíduos, os povos, a História, o Cosmos. Ao mesmo tempo, é a gratidão para com os outros que caminham connosco, uma gratidão que nos torna conscientes de que não somos autossuficientes.

Alegrar-se, orar e agradecer. São três ações que nos ajudam a ser cada vez mais como Deus nos vê e nos quer, que enriquecem a nossa relação com Ele, na esperança de que “o Deus da paz nos santifique totalmente” (Cf. 1Ts 5,23).

Podemos assim preparar-nos para viver mais profundamente a alegria do Natal, para tornar o mundo melhor, para nos tornarmos construtores de paz dentro de nós mesmos, em casa, nos locais de trabalho, nas ruas e nas praças. É aquilo que é mais necessário e urgente nos dias de hoje.


segunda-feira, 9 de outubro de 2023

ORAÇÃO DO PAPA SÃO JOÃO PAULO II 

PELA PAZ

Escutai Senhor a minha voz,

porque é a voz das vítimas de todas as guerras

e da violência entre os indivíduos e as nações;

Escutai Senhor a minha voz,

porque é a voz de todas as crianças que sofrem e sofrerão

todas as vezes que os povos depuserem a sua confiança

nas armas e na guerra;

Escutai Senhor a minha voz,

quando Vos peço para infundir nos corações

de todos os seres humanos a prudência da paz,

a força da justiça e a alegria da amizade;

Escutai Senhor a minha voz,

porque falo pelas multidões de todos os Países

e de todos os períodos da história

que não querem a guerra

e estão prontas a percorrer o caminho da paz;

Escutai Senhor a minha voz

e dai-nos a capacidade e a força

para podermos responder sempre ao ódio com o amor,

à injustiça com uma dedicação total à justiça,

à necessidade com a nossa própria participação,

à guerra com a paz.

Ó Deus, escutai a minha voz

e concedei ao mundo para sempre a Vossa paz.

Hiroxima, 25 de Fevereiro de 1981

domingo, 1 de outubro de 2023

 

Palavra de Vida

Outubro de 2023

Texto preparado por Letizia Magri e pela equipa da Palavra de Vida

«Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» (Mt 22, 21)

Jesus tinha entrado em Jerusalém aclamado pelo povo como “Filho de David”. É um título real que o Evangelho de Mateus atribui a Cristo, que veio para proclamar a chegada iminente do Reino de Deus.

Neste contexto, surge um diálogo peculiar entre Jesus e um grupo de pessoas que o questionam. Alguns eram herodianos, outros fariseus, dois grupos com visões diferentes sobre a autoridade do imperador romano: perguntam-Lhe se considera lícito ou não pagar os impostos ao imperador, para O obrigarem a declarar-se a favor ou contra César e terem assim um motivo para O acusar.

Jesus responde com outra pergunta: de quem é a imagem gravada na moeda que usam correntemente. Uma vez que a imagem é do imperador, responde:

«Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» (Mt 22, 21)

Sim, mas o que é devido a César e o que é a Deus?

Jesus apela ao primado de Deus. De facto, como sobre a moeda romana está gravada a imagem do imperador, também em cada pessoa humana está gravada a imagem de Deus.

A própria tradição rabínica afirma que cada homem é criado à imagem de Deus (Cf. Gn 1, 26), usando o exemplo da imagem gravada sobre as moedas: “Quando um homem manda cunhar moedas com o seu próprio selo, são todas iguais. Mas o rei dos reis, o Santo a quem é devido o louvor, formou cada homem com o seu cunho desde o primeiro homem, e nenhum é igual ao seu companheiro” (Mishnà Sanhedrin 4,5).

Portanto, só a Deus podemos entregar-nos inteiramente, só a Ele pertencemos e Nele encontramos a liberdade e a dignidade. Nenhum poder humano pode pretender receber essa fidelidade.

Jesus é aquele que conhece a Deus e nos pode ajudar a dar-Lhe o lugar que Lhe é devido. Para Ele: «[…] amar significou cumprir a vontade do Pai, colocando à disposição o pensamento, o coração, as energias, a própria vida: Ele entregou-se completamente ao projeto que o Pai lhe tinha reservado. O Evangelho apresenta-nos Jesus sempre e totalmente voltado para o Pai […]. Ele pede-nos o mesmo a nós: amar significa fazer a vontade do Amado, sem meios-termos, com todo o nosso ser. […] É aqui que nos é pedida a maior radicalidade, porque a Deus não se pode dar menos do que tudo: todo o coração, toda a alma, toda o entendimento» (C. Lubich, Parola di Vita ottobre 2002, in eadem, Parole di Vita, a cura di Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5; Città Nuova, Roma 2017) pp. 669-670).

«Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» (Mt 22, 21)

Quantas vezes somos confrontados com dilemas, escolhas difíceis que nos podem fazer resvalar na tentação de atalhos mais fáceis. Também Jesus foi posto à prova diante de duas soluções ideológicas, mas para Ele foi claro: a prioridade é a vinda do Reino de Deus, com o primado do amor.

Deixemo-nos interpelar por esta Palavra. Será que o nosso coração se deixa fascinar pelo prestígio, pelas subidas fulgurantes na carreira? Será que admira as pessoas de sucesso, aqueles que ditam a moda? Será que estamos a dar às coisas o lugar que é devido a Deus?

Com a Sua resposta, Jesus propõe-nos um salto de qualidade. Convida-nos a um discernimento sério e aprofundado sobre a nossa escala de valores.

No íntimo da nossa consciência podemos escutar uma voz, por vezes subtil e possivelmente abafada por outras vozes. Mas podemos reconhecê-la: é aquela que nos impulsiona a procurar sempre caminhos de fraternidade e nos encoraja a renovar constantemente esta escolha, mesmo que tenhamos de ir contra a corrente.

É um exercício fundamental para construir as bases de um autêntico diálogo com os outros, para encontrar juntos as respostas adequadas à complexidade da vida. Não se trata de fugir à responsabilidade pessoal perante a sociedade, mas, pelo contrário, de se dedicar desinteressadamente ao serviço do bem comum.

Durante a detenção que antecedeu a execução, por causa da sua resistência civil ao nazismo, Dietrich Bonhoeffer escreveu à sua noiva: «Não me refiro à fé que foge do mundo, mas àquela que resiste no mundo, ama e permanece fiel à Terra, apesar de todas as tribulações que ela nos traz. O nosso matrimónio deve ser um “sim” à terra de Deus, deve reforçar em nós a coragem de agir e de criar alguma coisa nesta Terra. Temo que os cristãos que ousam estar sobre a terra só com um pé, também estarão só com um pé no céu» (Dietrich Bonhoeffer, Maria von Wedemeyer, Lettere alla fidanzata, Cella 92, Queriniana, Brescia 1992, 48).

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Palavra de Vida

Setembro 2023

Texto preparado por Augusto Parody Reyes e pela equipa da Palavra de Vida

«Quero bendizer-Vos, dia após dia, e louvar o vosso nome para sempre». (Sl 145 [144], 2)

A palavra da Escritura que nos é proposta neste mês, como ajuda para o nosso caminho, é uma oração. Trata-se de um versículo do Salmo 145. Os Salmos são composições que refletem a experiência religiosa individual e coletiva do povo de Israel, no seu percurso histórico e nas várias vicissitudes da sua existência. São orações em poesia que se dirigem ao Senhor como lamentação, como súplica, como ação de graças ou como louvor. Incluem, por isso, toda a variedade de sentimentos e atitudes com que o homem exprime a sua vida e o seu relacionamento com o Deus vivo.

O tema de fundo do salmo 145 é a realeza de Deus. O salmista, a partir da sua experiência pessoal, exalta a grandeza de Deus: “Grande é o Senhor e digno de todo o louvor” (v. 3); canta a Sua bondade e a universalidade do Seu amor: “O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia estende-se a todas as criaturas.” (v. 9); reconhece a Sua fidelidade: “O Senhor é fiel à sua palavra” (v. 13b), e chega a envolver todos os seres vivos num cântico cósmico: “Cante a minha boca os louvores do Senhor, e todo o ser vivo bendiga eternamente o seu nome santo!” (v. 21).

«Quero bendizer-Vos, dia após dia, e louvar o vosso nome para sempre». (Sl 145 [144], 2)

Todavia, o homem de hoje sente-se por vezes perdido, com a sensação de estar abandonado a si mesmo. Teme que os acontecimentos do seu dia-a-dia sejam determinados pelo acaso, numa sucessão de factos sem sentido e sem rumo. 

Este salmo contém uma reconfortante mensagem de esperança: «Deus é o Criador do céu e da Terra, é o guarda fiel do pacto que O liga ao seu povo, é Aquele que age com justiça em relação aos oprimidos, dá o pão que sustém os famintos e liberta os prisioneiros. É Ele que abre os olhos aos cegos, levanta os que caíram, ama os justos, protege o estrangeiro e ajuda o órfão e a viúva» […] (João Paulo II. Audiência Geral, 2 julho de 2003, Comentário ao Salmo 145).

«Quero bendizer-Vos, dia após dia, e louvar o vosso nome para sempre». (Sl 145 [144], 2)

Esta palavra convida-nos, antes de mais, a cuidar da nossa relação pessoal com Deus, acolhendo, sem reservas, o Seu amor e a Sua misericórdia e colocando-nos diante do mistério em atitude de escuta da Sua voz. É este o fundamento de toda a oração. Porém, como este amor nunca se pode desligar do amor ao próximo, só conseguimos sentir a Sua presença, na nossa vida quotidiana, quando imitamos Deus Pai no amor concreto a cada irmão e irmã, especialmente os últimos, os rejeitados, os que vivem sós. Chiara Lubich, quando foi convidada a contar a sua experiência cristã a uma assembleia de budistas, resumia-a assim: «… o coração da minha experiência está todo aqui: quanto mais se ama o próximo, mais se encontra Deus. Quanto mais se encontra Deus, mais se ama o próximo» (M. Vandeleene, Io, il fratello, Dio nel pensiero di Chiara Lubich, Città Nuova, Roma 1999, p. 252 [3]).

«Quero bendizer-Vos, dia após dia, e louvar o vosso nome para sempre». (Sl 145 [144], 2)

Mas há um outro caminho para O encontrar. Nas últimas décadas, a humanidade adquiriu uma nova consciência da questão ecológica. Os animadores desta mudança são sobretudo os jovens, que propõem um estilo de vida mais sóbrio, uma revisão dos modelos de desenvolvimento, um compromisso pelo direito de todos os habitantes do planeta a terem água, alimentos e ar despoluído, bem como pela procura de fontes de energia renováveis. Deste modo, o ser humano não só recupera a relação com a natureza, mas pode também louvar a Deus, tendo descoberto com admiração a Sua ternura por toda a Criação.

É a experiência de Venant M. que, desde criança, no seu Burundi natal, acordava ao amanhecer com o canto dos pássaros e percorria, pela floresta, dezenas de quilómetros para ir à escola. Sentia-se em plena sintonia com as árvores, os animais, os riachos, as colinas e os próprios companheiros. Sentia-se próximo da natureza, mais ainda, sentia-se parte viva de um ecossistema em que as criaturas e o Criador estavam em total harmonia. Esta consciência tornava-se louvor, não por um momento, mas durante todo o dia.

Alguém poderia questionar-se: e nas nossas cidades? «Nas nossas metrópoles de cimento, construídas por mãos humanas no meio do ruído do mundo, só raramente a natureza se salvou. Contudo, se quisermos, basta um vislumbre do céu azul, entrevisto entre os cimos dos arranha-céus, para nos fazer lembrar de Deus. Basta um raio de sol, que teima em entrar até por entre as grades de uma prisão. Basta uma flor, um pedaço de relva, o rosto de uma criança…» (C. Lubich, Conversazioni, in collegamento telefonico, a/c Michel Vandeleene (Opere di Chiara Lubich 8.1), Città Nuova, Roma 2019, p. 340).

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

As “minhas” JMJ - I

Jornada Mundial da Juventude de 1989

Santiago de Compostela, Espanha  

(19-20 de agosto de 1989)

A III Jornada Mundial da Juventude (ou JMJ 1989) foi um encontro da juventude católica ocorrido em Santiago de Compostela, na Espanha, nos dias 19 e 20 de Agosto de 1989.

O número de peregrinos estimado foi de um milhão de pessoas.

Tema

O tema escolhido por João Paulo II foi “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6)

Hino

«Somos los Jóvenes del 2000»  é uma canção composta para ser o hino da Jornada Mundial da Juventude de 1989.


(43) Himna SDM Santiago de Compostela 1989. - Somos los Jòvenes del 2000 ♫ - YouTube

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Palavra de Vida

Agosto de 2023

Victoria Gómez e equipa da Palavra de Vida

«Mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas». (Mt 15, 28)

Jesus dirige-se para a região de Tiro e de Sídon, em terra estrangeira. Talvez procurasse ter finalmente um pouco de repouso com os seus, ou até solidão, silêncio, oração, refúgio. Inesperadamente, ouvem os gritos de uma mulher de quem não sabemos o nome, como acontece com outras personagens nos evangelhos. A sua presença perturba e incomoda os discípulos que, para se livrarem dela, “imploram” a Jesus que a atenda: «porque vem a gritar atrás de nós». A mulher não se retrai pelo facto de não ser israelita, nem por ser mulher, nem por ser ignorada pelo Mestre. É uma mãe desesperada por causa da sua filha «cruelmente atormentada por um demónio». Aproxima-se de Jesus com a tenacidade de querer um encontro pessoal com Ele, e consegue «prostrar-se diante» do Mestre, enquanto insiste no seu pedido de ajuda. Jesus dirige-lhe palavras de uma dureza pouco habitual: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos».

«Mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas». (Mt 15, 28)

A mulher aceita a rejeição. Compreende que o seu mundo não faz parte da missão primária de Jesus. Assume que o seu Deus não é uma máquina distribuidora de graças, mas um pai que pede um relacionamento baseado na verdade, que passa pelo reconhecimento da sua própria pobreza pessoal. Esta mulher, consciente disso, olha Jesus nos olhos: «É verdade, Senhor, mas até os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos». Encosta Jesus à parede – por assim dizer – e Ele deixa-se comover pela humildade de quem se contenta só com as migalhas. Até os seus gritos parecem expressão de fé, pois trata-o por «Senhor, Filho de David!».

«Mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas». (Mt 15, 28)

A sua grande fé é caracterizada nos evangelhos por alguns verbos: a mulher vem e dirige-se a Jesus; grita; chora; implora misericórdia; reconhece-O como Senhor e prostra-se diante d’Ele; mantém intacta a tenacidade e a certeza de que, para o Senhor, o impossível é possível; responde à dureza de Jesus com uma lógica perfeita. Amor materno e confiança são os seus pontos fortes. «E a sua filha ficou curada a partir daquela hora».

Esta Palavra é a fotografia da fé viva e operante numa pessoa. Ao mesmo tempo, mostra os esforços e o caminho da primeira comunidade cristã – a quem Mateus se dirige – na abertura ao mundo não hebreu, que está à procura e é capaz de uma grande fé.

«Mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas». (Mt 15, 28)

Tal como para a mulher sirofenícia, «também a nossa fé pode ser posta à prova por uma dificuldade imprevista, por um acontecimento inesperado que vem abalar os nossos projetos, por uma doença grave, pelo prolongar-se de uma situação muito dolorosa» (Cf. C. Lubich, Palavra de Vida de junho de 1994, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p. 550). Poderíamos ainda acrescentar: pela falta de paz no mundo, pelas injustiças estruturais, pelo planeta gravemente doente, pelos conflitos familiares e sociais… Uma das nossas fragilidades pode ser a nossa falta de perseverança e de confiança plena. «Deus permite que a nossa fé passe por situações difíceis, por vezes absurdas. Ele quer purificá-la, quer ver se nós sabemos verdadeiramente abandonar-nos a Ele, acreditando que o seu amor é muito maior do que os nossos projetos, desejos ou expetativas» (Ibid.).

Aconteceu a Saliba. Também ele parecia forçado a ter de abandonar a sua cidade (Homs, na Síria) e os seus pais idosos. O negócio do pai, vidraceiro, tinha sido destruído durante a guerra. A cidade estava arrasada. Como outros jovens, Saliba pensava que seria forçoso procurar construir novas oportunidades noutras paragens, mas não se rendeu. Com os seus 22 anos e a persistência de quem não renuncia a dar o seu próprio contributo ao seu povo ferido, aproveitou a ocasião que lhe foi oferecida pelo projeto RestarT (https://www.amu-it.eu/progetti-int/restart-ripartire-per-restare/). Abriu um minimercado, onde os seus concidadãos podem encontrar queijos, yogurt e manteiga confecionados pela sua mãe, para além de legumes, azeite, especiarias, café. Já arranjou um frigorífico e um gerador de corrente. Nos dias em que o minimercado está fechado, vai com o seu pai já idoso distribuir cabazes alimentares às famílias com falta de recursos (Cf. https://www.unitedworldproject.org/pt-br/workshop/siria-o-minimercado-de-saliba-em-breve-abrira-as-portas/).

sábado, 1 de julho de 2023


Palavra de Vida

Julho de 2023

Texto preparado por Letizia Magri e pela equipa da Palavra de Vida

«Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa» (Mt 10, 11)

O evangelista Mateus é um cronista cristão muito instruído. Conhece profundamente as promessas do Deus de Israel e, para ele, as palavras e as ações de Jesus são o seu cumprimento. Por isso, no seu evangelho, apresenta o ensinamento de Jesus estruturado em cinco grandes discursos, como um novo Moisés.

Esta Palavra de Vida conclui o “discurso missionário”, que tinha começado com a eleição dos doze apóstolos e a indicação das exigências da pregação: as incompreensões e as perseguições que vão encontrar requerem um testemunho credível, também através de escolhas radicais. 

Mais ainda: Jesus revela que o envio dos discípulos tem a sua raiz na missão que Ele próprio recebeu do Pai. Uma convicção já presente no Antigo Testamento: no mensageiro de Deus é o próprio Deus que se torna presente, que se compromete. É então o próprio amor de Deus, através do testemunho de Jesus e daqueles que Ele envia, que vai chegando gradualmente a todas as pessoas.

«Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa» (Mt 10, 11)

Para além da missão específica de alguns – os apóstolos, os pastores, os profetas, … – Jesus anuncia que cada cristão pode ser seu discípulo, sendo, ao mesmo tempo, destinatário e portador da missão. Como discípulos, também nós estamos habilitados a dar testemunho da proximidade de Deus, apesar de nos sentirmos “pequenos” e sem qualidades ou títulos especiais. É toda a comunidade cristã que é enviada à Humanidade pelo Pai de todos.

Todos nós recebemos atenção, cuidado, perdão, confiança da parte de Deus, através dos irmãos. Todos podemos dar alguma coisa aos outros, para fazer com que experimentem a ternura do Pai, como fez Jesus durante a sua missão. Está nesta raiz, no Pai, a garantia que as assim chamadas “pequenas coisas” podem mudar o mundo. Até só um simples copo de água fresca.

«Não importa se podemos dar muito ou pouco. O importante é “como” o damos, quanto amor colocamos até num pequeno gesto de atenção para com os outros. Por vezes, basta oferecer um copo de água, um copo de água “fresca” […] gesto simples e grande aos olhos de Deus, se for feito em Seu nome, ou seja, por amor. […] A Palavra de Vida deste mês poderá ajudar-nos a redescobrir o valor de cada nossa ação: desde os trabalhos de casa, ou do campo, da oficina, ou o processamento dos documentos no escritório, as tarefas escolares ou as responsabilidades no campo civil, político e religioso. Tudo se pode transformar em serviço atencioso e dedicado. O amor dar-nos-á olhos novos para intuirmos aquilo de que os outros precisam e para ir ao encontro de todos com criatividade e generosidade. Quais serão os frutos? Os bens circularão, porque o amor atrai o amor. A alegria multiplicar-se-á, porque “há mais alegria em dar do que em receber” [Cf. At 20,35]» [C. Lubich, Palavra de Vida de outubro de 2006, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 792-793].

«Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa» (Mt 10, 11)

Aquilo que Jesus nos pede é muito exigente: é não interromper o fluxo do amor de Deus. Pede-nos para chegar a cada pessoa, homem ou mulher, com o coração aberto e com um serviço concreto, ultrapassando as nossas categorias mentais e os nossos juízos.

Ele quer a nossa colaboração ativa, criativa e responsável em favor do bem comum, a partir das pequenas coisas do dia a dia. Ao mesmo tempo, não nos deixará sem recompensa: estará sempre ao nosso lado, para cuidar de nós e para nos acompanhar na missão.

“[…]. Deixei o meu trabalho nas Filipinas e fui para a Austrália para estar com a minha família. […] Encontrei trabalho num estaleiro de construção civil, como responsável pela limpeza dos refeitórios, dos vestiários, dos escritórios e da cafetaria, utilizados por mais de 500 operários. Um trabalho completamente diferente daquele que eu tinha antes, como engenheiro […]. Por amor aos outros, procuro garantir que os refeitórios estejam sempre limpos e bem organizados. No entanto, há sempre pessoas que não têm cuidado com a limpeza […]. Ainda não perdi a paciência, pois, para mim, é uma oportunidade para amar Jesus em cada pessoa que encontro. Aos poucos, aquelas pessoas foram começando a colaborar na limpeza depois do almoço e, com o tempo, fomo-nos tornando amigos. Comecei a sentir confiança e respeito da parte deles […]. Pude experimentar como o amor é contagioso e que tudo aquilo que é feito por amor permanece” [S. Pellegrini, G. Salerno, M. Caporali (org.), Famílias em ação – Um mosaico de vida, Cidade Nova 2022, p. 55-56].

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Palavra de Vida

Junho de 2023

Letizia Magri e equipa da Palavra de vida

«Sede alegres, tendei para a perfeição, animai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco» (2 Cor 13, 11)

O apóstolo Paulo acompanhou com amor o crescimento da comunidade cristã da cidade de Corinto. Visitou-a e apoiou-a nos momentos difíceis.

Mas a uma certa altura, com esta carta, precisou de se defender das acusações de outros pregadores, que punham em causa o modo de atuar de Paulo: não se fazia remunerar pelo seu trabalho missionário, não falava segundo as regras da eloquência, não se apresentava com cartas de recomendação que atestassem a sua autoridade. Admitia publicamente que compreendia e vivia a sua vulnerabilidade à luz do exemplo de Jesus.

Porém, na conclusão da carta, Paulo lança aos Coríntios um apelo cheio de confiança e de esperança:

«Sede alegres, tendei para a perfeição, animai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco» (2 Cor 13, 11)

A primeira característica que vem em evidência é que as suas exortações são dirigidas à comunidade no seu conjunto, como lugar onde se pode experimentar a presença de Deus. As fragilidades humanas tornam difícil a compreensão recíproca, a comunicação leal e sincera, a concórdia respeitosa da diversidade de experiências e de modos de pensar. Mas todas essas fragilidades podem ser sanadas pela presença do Deus da paz.

Paulo sugere alguns comportamentos concretos e coerentes com as exigências do Evangelho: tender para a realização do projeto de Deus sobre cada um e sobre a comunidade, como irmãos e irmãs; fazer circular o mesmo amor de consolação que recebemos de Deus; cuidar uns dos outros, partilhando as aspirações mais profundas; aceitar-se reciprocamente, oferecendo e recebendo misericórdia e perdão; alimentar a confiança e a escuta.

São escolhas confiadas à nossa liberdade que, por vezes, implicam a coragem de se ser “sinal de contradição” face à mentalidade corrente.

É também por essa razão que o apóstolo recomenda o encorajamento mútuo neste compromisso. Para ele, o que tem valor é proteger e testemunhar com alegria o valor inestimável da unidade e da paz, na caridade e na verdade. Tudo, sempre, alicerçado na rocha do amor incondicional de Deus, que acompanha o seu povo.

«Sede alegres, tendei para a perfeição, animai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco» (2 Cor 13, 11)

Para viver esta Palavra de vida, olhemos também nós, como Paulo, para o exemplo e para os sentimentos de Jesus, que veio para nos trazer uma paz totalmente Sua (Cf. Jo 14, 27). De facto, a Sua paz «[…] não é apenas ausência de guerra, de conflitos, de divisões, de traumas. […]: é plenitude de vida e de alegria, é salvação integral da pessoa, é liberdade, é fraternidade no amor entre os povos. […] E o que fez Jesus para nos dar a “Sua” paz? Pagou-a pessoalmente. […] Colocou-se entre as partes em conflito, assumiu sobre si os ódios e as divisões, abateu os muros que separavam os povos (Cf. Ef 2, 14-18 ). […]

Também de nós é exigido um amor forte para a construção da paz. Um amor que seja capaz de amar até os que não nos amam, capaz de perdoar, de suplantar a categoria de inimigo, de amar a pátria alheia como a própria. […] Esta paz requer, também de nós, um coração novo e olhos novos para amar e ver em todos candidatos à fraternidade universal. […] “O mal provém do coração do homem “, escreveu Igino Giordani, e “para afastar o perigo da guerra é preciso afastar o espírito de agressão, de exploração e de egoísmo, de onde provém a guerra: é preciso restaurar a consciência” (L’inutilità della guerra, Roma 20032, p. 111.)» (C. Lubich, Palavra de Vida de janeiro de 2004, em Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 709-710).

Bonita Park é um bairro de Hartswater, uma pequena cidade agrícola da África do Sul. Como no resto do país, persistem os efeitos herdados do regime de Apartheid, sobretudo no campo educativo: as qualificações escolares dos jovens pertencentes aos grupos negros e mestiços são muito inferiores às dos outros grupos étnicos, com o risco consequente de marginalização social.

O projeto “The Bridge” nasceu para criar uma mediação entre os diferentes grupos étnicos do bairro, vencendo as distâncias e diferenças culturais, com a criação de um programa pós-escolar e um pequeno espaço comunitário: um lugar de encontro entre as diferentes culturas, para crianças e adolescentes. A comunidade tem demonstrado um grande desejo de trabalhar juntos: o Carlos ofereceu a sua velha carrinha para irem buscar a madeira com que se fizeram os bancos, o diretor da escola elementar perto dali ofereceu prateleiras, cadernos e livros, enquanto a Igreja Reformada Holandesa ofereceu cinquenta cadeiras. Cada um deu o seu contributo para, no dia-a-dia, tornar mais sólida esta ponte entre culturas e etnias (Cf.:https://www.unitedworldproject.org/workshop/sudafrica-un-ponte-tra-culture; Spazio famiglia, marzo 2019, pp. 10-13).

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Palavra de Vida

Maio de 2023

Patrizia Mazzola e equipa da Palavra de Vida

«Amai-vos uns aos outros com amor fraterno; rivalizai uns com os outros na estima recíproca.» (Rm 12, 10)

A palavra de vida deste mês é extraída da riquíssima carta do apóstolo Paulo aos Romanos. Ele apresenta a vida cristã como uma realidade onde superabunda o amor: um amor gratuito e sem limites, que Deus derramou nos nossos corações e que nós devemos dar aos outros. Para tornar mais compreensível o seu significado, ele junta dois conceitos numa só palavra, “philostorgos”, que reúne dois atributos específicos do amor, que caraterizam a comunidade cristã: o amor entre amigos e o da família.

«Amai-vos uns aos outros com amor fraterno; rivalizai uns com os outros na estima recíproca.» (Rm 12, 10)

Detenhamo-nos de modo especial sobre o aspeto da fraternidade e da reciprocidade. Como Paulo escreve, os que pertencem à comunidade cristã, amam-se porque são membros uns dos outros (12,5), são irmãos que têm uma única dívida, o amor (13,8). Alegram-se com os que estão alegres e choram com os que choram (12,15), não julgam e não são motivo de escândalo (14,13). 

A nossa existência está intimamente ligada à dos outros, e a comunidade é o testemunho vivo da lei do amor que Jesus trouxe à Terra. É um amor exigente, que chega ao ponto de dar a vida uns pelos outros. É um amor concreto, expresso de muitos modos, que quer o bem dos outros, a sua felicidade. Esse amor faz com que os irmãos alcancem a sua plena realização, que rivalizem em apreciar as qualidades uns dos outros. É um amor que está atento às necessidades de cada um, que se esforça por não deixar ninguém para trás, que nos torna responsáveis e ativos nos âmbitos da vida social, cultural e do compromisso político.

«Amai-vos uns aos outros com amor fraterno; rivalizai uns com os outros na estima recíproca.» (Rm 12, 10)

«Olhando para as comunidades do primeiro século, vemos que o amor cristão, que se estendia a todos indistintamente, tinha um nome, era chamado filadelfia, que significa amor fraterno. Na literatura profana daquela época, este termo era usado para indicar o amor entre irmãos de sangue. Nunca era aplicado aos membros de uma mesma sociedade. Apenas o Novo Testamento fazia essa exceção» (C. Lubich, Colóquios com os Gen, Edição do Movimento dos Focolares, Braga 1975, p. 152). Muitos jovens sentem esta exigência de “uma relação mais profunda, mais sentida, mais verdadeira. E o amor recíproco dos primeiros cristãos tinha todas as características do amor fraterno, como por exemplo a força e o afeto» (Ibid.).

«Amai-vos uns aos outros com amor fraterno; rivalizai uns com os outros na estima recíproca.» (Rm 12, 10)

Um traço característico dos membros destas comunidades que vivem o amor recíproco é que não se fecham sobre si mesmos, mas estão prontos a enfrentar os desafios autênticos que se apresentam dentro do contexto onde se desenvolve a sua ação.

J.K., sérvio, de nacionalidade húngara, pai de três filhos, pode finalmente comprar uma casa. Porém, por causa de um acidente, não tem os recursos económicos e físicos para a reestruturar sozinho. Por isso, a comunidade dos Focolares põe mãos à obra, concretizando o projeto #daretocare (Ousar cuidar) proposto pelos Jovens para um Mundo Unido.

Ele conta com entusiasmo toda a competição de solidariedade que se gerou para o apoiar concretamente: «Foram muitos os que vieram ajudar-me: em três dias pudemos reparar o telhado e substituir os tetos feitos de terra e palha por placas de gesso laminado». Para os trabalhos de reestruturação contribuíram economicamente também algumas pessoas da República Checa. Um gesto que tornou visível a comunidade alargada, que vai para além das distâncias (Extraído e adaptado do artigo “Sérvia: construir uma casa, para ser casa”, www.unitedworldproject.org).

domingo, 23 de abril de 2023

Beato MARCELINO ROUCHOUZE, sacerdote Picpus e mártir

(nome de baptismo: João Mário).

Séculos XIX - França

Memória litúrgica a 26 de Maio (?)

Nasceu a 14 Dezembro de 1810 em Saint-Julien en Jarez (França), foi o terceiro membro da Congregação Picpus ou Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria e da Perpétua Adoração ao Sacratíssimo Sacramento, emitiu a profissão de votos religiosos em 1837.

Foi Professore de latim, matemática e filosofia, e enviado para a Bélgica para colaborar nos colégios da Congregação. Num encontro com o Cura d’Ars, em 1852, este disse-lhe: “Meu filho, deve ser sacerdote, pois o bom Deus tem desígnios para si.” Aos 42 anos e seguindo o conselho do Cura d’Ars, foi ordenado sacerdote em 1852.

O martírio de todos os Servos de Deus está suficientemente provado. Eles foram presos em Paris em diferentes momentos e lugares: o P. Enrico Planchat em Quinta-feira Santa, 6 de Abril de 1871, os restantes; Marcelino Rouchouze e os companheiros Policarpo Tuffier e Ladislao Radigue a 12 de Abril, quarta-feira da oitava da Páscoa. Primeiro estiveram encarcerados no quartel da polícia, depois transferidos para a prisão de Mazas e, finalmente, para “La Grande Roquette”.

A 26 de Maio de 1871, foram mortos com grande violência com tiros de rifle e armas afiadas. Os cadáveres foram profanados e ridicularizados pela multidão.

O «odium fidei» (ódio pela fé) foi a principal motivação para as acções dos algozes. Na verdade, a Comuna, além das questões sócio-políticas, tinha óbvias implicações anti-religiosas: para superar o antigo regime e promover novas formas de sociedade, alguns comunais viam na religião cristã e seus expoentes um obstáculo a ser eliminado. Os Servos de Deus só foram presos por serem padres. O «odium fidei» também é confirmado pela fúria perpetrada contra os religiosos pela multidão enfurecida e pelo saque de locais e móveis dedicados ao culto. Na Casa Mãe da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria as Espécies Eucarísticas e os objectos sagrados foram profanados.

Quanto ao martírio formal «ex parte victimarum», os Servos de Deus estavam cientes dos riscos que corriam. Eles poderiam ter deixado Paris, mas preferiram ficar e cumprir seu serviço ministerial. O Servo de Deus Matteo Enrico Planchat, alertado para a possibilidade da sua prisão, permaneceu em seu lugar para confessar os fiéis em vista da Páscoa. Durante o tempo de prisão, os Servos de Deus rezaram e confessaram os outros presos.

A fama de seu martírio e dos sinais espalhou-se logo após sua morte e manteve-se ao longo dos anos, até à actualidade.

Beatificados na Igreja de Saint-Sulpice, Paris, a 22 de Abril de 2023, com os Servos de Deus Henri Planchat, Ladislas Radigue, Polycarpe Tuffier e Frézal Tardieu, pelo Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos.

(cf. Enrico Planchart, Ladislao Radigue e 3 Compagni (causesanti.va)