quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

 

Palavra de Vida

Dezembro de 2022

Letizia Magri

“Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene” (Is 26, 4)

A Palavra de vida que queremos viver neste mês é tirada do Livro do profeta Isaías, um texto vasto e rico, muito estimado pela tradição cristã. Esse livro, de facto, contém passagens muito conhecidas, como o anúncio do Emanuel, “o Deus connosco” [Cf. Is 7,14 e Mt 1,23.], ou também a figura do Servo sofredor [Cf. Is 52,13-53,12] que aparece como pano de fundo nas narrações da paixão e morte de Jesus. 

Este versículo é parte de um canto de ação de graças que o profeta coloca na boca do povo de Israel, quando, depois de ter superado a terrível prova do exílio, se preparava para finalmente regressar a Jerusalém. As suas palavras abrem os corações à esperança, porque Deus está fielmente presente ao lado de Israel, inabalável como a rocha. Ele próprio apoiará todos os esforços do povo na reconstrução civil, política e religiosa. 

Enquanto a cidade que se julga “excelsa” será arrasada até ao chão [Cf. Is 26,5.] – porque não foi construída de acordo com o projeto de amor de Deus -, a que foi construída sobre a rocha da Sua proximidade desfrutará de paz e prosperidade.

“Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene” (Is 26, 4)

Como é atual esta necessidade de estabilidade e de paz! Também nós, pessoal e coletivamente, estamos a atravessar momentos obscuros da história, que ameaçam esmagar-nos sob o peso da incerteza e do medo pelo futuro. 

O que fazer para superar a tentação de nos deixarmos abater pelas dificuldades deste tempo, fechando-nos em nós mesmos e cultivando sentimentos de suspeição e de desconfiança em relação aos outros? 

Como cristãos, a resposta é certamente “reconstruir” com coragem, acima de tudo, a relação de confiança com Deus, que em Jesus se tornou nosso próximo nos caminhos da vida, mesmo naqueles mais escuros, apertados, tortuosos e íngremes.

Entretanto, esta fé não significa ficar numa atitude passiva de espera. Pelo contrário, implica agir, tornarmo-nos protagonistas criativos e responsáveis na construção de uma “cidade nova”, alicerçada no mandamento do amor recíproco. Uma cidade com as portas abertas, acolhedoras para todos, sobretudo para “os pobres e os oprimidos” [Cf. Is 26,6. ], que são desde sempre os prediletos do Senhor. 

Por este caminho, sabemos que vamos encontrar, como companheiros, muitos homens e mulheres que cultivam como nós os valores universais da solidariedade e da dignidade de cada pessoa no respeito pela Criação, a nossa “casa comum”.

“Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene” (Is 26, 4)

Na aldeia espanhola de Aljucer, toda a comunidade está comprometida em construir relacionamentos de fraternidade através de formas de participação aberta e inclusiva. 

Contam: “No verão de 2008 iniciámos uma associação cultural com o objetivo de desenvolver diversas atividades, umas por iniciativa nossa e outras em colaboração com várias associações locais, para promover espaços de diálogo e projetos humanitários internacionais. 

Por exemplo, desde o primeiro ano promovemos um jantar anual solidário para o projeto Fraternity with Africa, destinado a financiar bolsas de estudo para jovens africanos que se comprometam a trabalhar no seu país durante pelo menos cinco anos. São jantares que reúnem cerca de duzentas pessoas, contando com a colaboração de comerciantes e associações. 

Estamos muito contentes por trabalhar já há alguns anos com outra associação. Com eles organizamos um evento anual aberto a personalidades do mundo da cultura, música, pintura e literatura, tal como representantes do mundo da política, da economia e da medicina. É a ocasião para todos eles partilharem experiências de vida e as motivações mais profundas das suas escolhas” [Experiência extraída do site www.focolare.org].

“Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene” (Is 26, 4)

Aproxima-se o Natal. Preparemo-nos para ele, acolhendo desde já Jesus na sua Palavra. É a rocha sobre a qual é preciso construir também a cidade dos homens: «Temos de encarná-la, fazê-la nossa, experimentar a força vital que ela, se for vivida, suscita em nós e ao nosso redor. Apaixonemo-nos pelo Evangelho ao ponto de nos deixarmos transformar por ele e de o fazermos transbordar para os outros. […] Já não seremos nós a viver, será Cristo a formar-se em nós. Experimentaremos a verdadeira liberdade em relação a nós próprios, aos nossos limites, às nossas escravidões. Mais ainda, veremos desencadear a revolução de amor que Jesus, vivendo em nós, vai provocar no tecido social em que estamos inseridos» [C. Lubich, Palavra de Vida de settembro de 2006, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p.790.].

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Palavra de Vida

Novembro 2022

Letizia Magri

“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7)

No Evangelho de Mateus, o Sermão da Montanha situa-se ainda no início da vida pública de Jesus. A montanha aparece como símbolo de um novo Monte Sinai sobre o qual Cristo, novo Moisés, apresenta a sua “Lei”. No capítulo anterior fala-se de grandes multidões que começavam a seguir Jesus, às quais Ele dirigia os seus ensinamentos. Mas este discurso é feito por Jesus aos seus discípulos, à comunidade nascente, àqueles que depois serão chamados cristãos. Ele introduz o “Reino dos Céus” que é o núcleo central da pregação de Jesus (Ver Mt 4,23 e 5,19-20), do qual as Bem-Aventuranças constituem o manifesto programático, a mensagem da salvação, a “síntese de toda a Boa Nova que é a revelação do amor salvífico de Deus” (C. Lubich, Palavra de Vida de novembro de 2000, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5); Città Nuova, Roma 2017, p. 633).

“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7)

O que é a misericórdia? Quem são os misericordiosos? A frase é introduzida pela palavra “feliz/felizes” (Em grego makarios,i que é utilizado quer para descrever uma condição de sorte, de felicidade dos seres humanos, quer para indicar a condição privilegiada dos deuses relativamente à dos seres humanos), que significa bem-aventurado, privilegiado e assume também o significado de ser abençoado por Deus. No texto, entre as nove bem-aventuranças, esta encontra-se no lugar central. Elas não representam apenas comportamentos que merecem ser premiados, mas indicam verdadeiras oportunidades para nos tornarmos um pouco mais semelhantes a Deus. Neste caso, os misericordiosos são aqueles que têm um coração cheio de amor por Ele e pelos irmãos, amor concreto que se inclina sobre os últimos, os esquecidos, os pobres, sobre todos aqueles que precisam deste amor desinteressado. De facto, a Misericórdia é um dos atributos de Deus (Em hebraico hesed, isto é, amor desinteressado e acolhedor, pronto a perdoar); o próprio Jesus é misericórdia.

“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7)

As Bem-Aventuranças transformam e revolucionam os princípios mais comuns do nosso modo de pensar. Elas não são apenas palavras de consolação, mas têm o poder de mudar o coração, têm a força de criar uma nova humanidade, tornam eficaz o anúncio da Palavra. É necessário viver a bem-aventurança da misericórdia connosco próprios, reconhecendo-nos necessitados daquele amor extraordinário, superabundante e imenso que Deus tem por cada um de nós. 

A palavra misericórdia (Rahamim em hebraico) deriva do hebraico rehem, “regaço” e evoca uma misericórdia divina sem limites, como a compaixão de uma mãe pelo seu menino. É “um amor sem medida, abundante, universal, concreto. Um amor que tende a suscitar reciprocidade, que é o fim último da misericórdia. […] E, então, se sofremos algum tipo de ofensa, alguma injustiça, perdoemos e seremos perdoados. Sejamos os primeiros a usar de piedade, de compaixão! Mesmo se parece difícil e temerário, perguntemo-nos, diante de cada próximo: como se comportaria a sua mãe com ele? É um pensamento que nos ajuda a compreender e a viver de acordo com o coração de Deus” (Cit., C. Lubich, Palavra de Vida de novembro de 2000, pp. 633-634).

“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7)

“Após dois anos de casados, a nossa filha e o seu marido tomaram a decisão de se separarem. Acolhemo-la de novo na nossa casa e, nos momentos de tensão, procurámos amá-la, com paciência, com perdão e compreensão, mantendo um relacionamento de abertura com ela e com o seu marido. Procurávamos sobretudo não julgar. Depois de três meses de escuta, de ajuda discreta e de muita oração, eles voltaram a estar juntos com renovada consciência, confiança e esperança” (Experiência recolhida no site www.focolare.org).

Ser misericordiosos, de facto, é mais do que perdoar. É ter um coração grande, desejar ardentemente cancelar todo o negativo, queimar completamente tudo aquilo que possa tornar-se um obstáculo ao nosso relacionamento com os outros. O convite de Jesus a sermos misericordiosos oferece-nos um caminho para nos reaproximarmos do projeto original, para que possamos realizar aquilo para que fomos criados: ser à imagem e semelhança de Deus.

sábado, 1 de outubro de 2022

Palavra de Vida

Outubro 2022

Letizia Magri

 “Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso” (2Tm 1,7)

A Carta donde é tirada esta Palavra de Vida é considerada uma espécie de testamento espiritual de Paulo. O apóstolo encontrava-se em Roma, na prisão, à espera da condenação e escreveu-a a Timóteo, jovem discípulo e colaborador, responsável pela complexa comunidade de Éfeso. 

O texto contém recomendações e conselhos dirigidos a Timóteo, mas é válido para todos os membros da comunidade cristã de ontem e de hoje. Timóteo está receoso diante das perseguições e hesitante por causa das dificuldades que o seu ministério comporta. Paulo, que está preso por causa da pregação do Evangelho, quer encorajá-lo a enfrentar as provas, para ser um guia seguro para a comunidade. Sofrer por causa do Evangelho não é algo natural, nem para Paulo nem para Timóteo, mas esse testemunho é possível se estiver apoiado no poder de Deus.

“Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso” (2Tm 1,7)

Paulo quer dar testemunho do Evangelho. Deixa claro que não são os talentos, as capacidades ou os limites pessoais que garantem ou condicionam o ministério da Palavra. São os dons do Espírito Santo, a fortaleza, o amor e o bom senso que garantem a força do testemunho. O amor, colocado entre a fortaleza e o bom senso, parece desempenhar uma função de discernimento. Com o bom senso manifesta-se a capacidade de atuar com sabedoria e prontidão em todas as situações. Timóteo, tal como os discípulos de todos os tempos, pode anunciar o Evangelho com fortaleza, amor e bom senso, até ao ponto de sofrer pelo Evangelho.

“Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso” (2Tm 1,7)

Também nós experimentamos a tentação do desânimo, da falta de coragem na vivência e no testemunho da Palavra de Deus, de não saber como enfrentar determinadas situações. 

Chiara Lubich ajuda-nos a compreender onde podemos encontrar a força nestes momentos: «Devemos apelar à presença de Jesus dentro de nós. A atitude que devemos ter não é a de ficar bloqueados, passivamente resignados, mas de nos lançarmos para fora de nós, aderindo ao que nos é pedido pela vontade de Deus, enfrentando os deveres próprios da nossa vocação, contando com a graça de Jesus que nunca nos falta. Por isso: lançarmo-nos para fora de nós mesmos. Será o próprio Jesus a incrementar em nós, cada vez mais, as virtudes de que precisamos para dar testemunho d’Ele no campo de atividade que nos foi confiado» (C. Lubich, Palavra de Vida de agosto de 1986, em Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5) Città Nuova, Roma 2017, p. 373).

“Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso” (2Tm 1,7)

Fortaleza, amor e bom senso, três virtudes do Espírito Santo que se obtêm com a oração e com a vivência da fé. O padre Justin Nari, da República Centro Africana, tinha sido ameaçado de morte, juntamente com os seus confrades e milhares de muçulmanos que se refugiavam na igreja para fugir das represálias da guerra. Várias vezes os chefes das milícias que o assediavam lhe tinham pedido que desistisse, mas ele continuou sempre a dialogar com eles para evitar um massacre. Um dia, apresentaram-se com quarenta litros de gasolina e ameaçaram queimá-los vivos se ele não lhes entregasse os muçulmanos. «Celebrei a última missa com os meus confrades – conta o padre Justin – e então lembrei-me de Chiara Lubich. O que teria ela feito no meu lugar? Teria permanecido e teria dado a vida. Nós decidimos fazer o mesmo. Quando a missa terminou, chegou um telefonema inesperado: o exército da União Africana estava de passagem pela região, numa cidade próxima. O padre Justin correu ao seu encontro e regressou com eles à paróquia: faltavam treze minutos para terminar o prazo do ultimato. Treze minutos que salvaram a vida de todos sem derramamento de sangue» (Maddalena Maltese, Unità è il nome della pace: La strategia di Chiara Lubich, Città Nuova, Roma 2020, pp.29-30).

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Palavra de Vida

Setembro de 2022

Letizia Magri

“De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número” (1Cor 9,19)

A Palavra de vida deste mês é retirada da Primeira Carta de Paulo aos cristãos de Corinto. Ele encontrava-se em Éfeso e, através destas suas palavras, procurou dar uma série de respostas aos problemas da comunidade grega de Corinto, cidade cosmopolita e grande centro comercial, famosa pelo templo de Afrodite mas também pela proverbial corrupção. Os destinatários da carta tinham-se convertido, alguns anos antes, do paganismo à fé cristã graças à pregação do apóstolo. Uma das controvérsias que dividia a comunidade era sobre se se podia ou não consumir as carnes dos ritos pagãos sacrificadas aos ídolos. Evidenciando a liberdade que temos em Cristo, Paulo faz uma ampla reflexão sobre o modo como se comportar diante de certas escolhas e concentra-se, de modo especial, sobre o conceito de liberdade.

“De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número” (1Cor 9,19)

Uma vez que os cristãos sabem «que um ídolo nada é no mundo, e que ninguém é Deus senão um só» (8,4), é indiferente comer ou não as carnes sacrificadas aos ídolos. Contudo, a questão surge quando um cristão se encontra na presença de quem ainda não possui esta compreensão, este conhecimento da fé, e o seu comportamento pode escandalizar uma consciência frágil. Quando estão em jogo o conhecimento e o amor, para Paulo não há dúvidas: o discípulo deve escolher o amor, mesmo renunciando à própria liberdade, tal como fez Cristo que livremente se fez servo por amor. A atenção prestada ao irmão frágil, àqueles que têm uma consciência frágil e pouco conhecimento das coisas, é fundamental. O objetivo é “ganhar”, no sentido de fazer chegar ao maior número de pessoas a vida boa e bela do Evangelho.

“De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número” (1Cor 9,19)

Como escreveu Chiara Lubich: «Se estamos incorporados em Cristo, se somos Cristo, fomentar divisões, pensamentos conflituosos, é dividir Cristo. […] Quando entre os primeiros cristãos havia o perigo de quebrar a concórdia, aconselhava-se ceder nas próprias ideias, contanto que fosse mantida a caridade. […] É o que acontece também hoje: por vezes, mesmo estando convencidos que um certo modo de pensar é o melhor, o Senhor sugere-nos que é melhor ceder nas próprias ideias para salvar a caridade com todos. É melhor o menos perfeito, estando em concórdia com os outros, do que o mais perfeito na discórdia. Este vergar em vez de quebrar é uma das caraterísticas – talvez dolorosas, mas também mais eficazes e abençoadas por Deus – que mantêm a unidade segundo o mais autêntico pensamento de Cristo e, por consequência, sabe apreciar o seu valor» (C. Lubich, A arte de amar, Cidade Nova, Abrigada 2006, pp. 120-121).

“De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número” (1Cor 9,19)

A experiência do Cardeal vietnamita François-Xavier Van Thuân, que esteve treze anos preso, nove dos quais em total isolamento, testemunha que quando o amor é verdadeiro e desinteressado suscita como resposta também o amor. Durante o período na prisão, ele estava entregue a cinco guardas. Os superiores ordenaram que fossem substituídos de quinze em quinze dias para não serem “contaminados” pelo Bispo. Por fim, decidiram deixar sempre os mesmos guardas, caso contrário teria “contaminado” todos os polícias da prisão. Ele próprio contou: «No início, os guardas não falavam comigo. Apenas respondiam sim e não. […] Uma noite tive este pensamento: “Francisco, tu tens ainda uma grande riqueza, tens o amor de Jesus no teu coração; ama-os como Jesus te amou”. No dia seguinte comecei a estimá-los ainda mais, a amar Jesus em cada um deles, sorrindo, falando-lhes com gentileza. […] Pouco a pouco, tornámo-nos amigos» (F.X. Nguyễn Văn Thuận, Testemunhas da esperança, Gráfica de Coimbra 2002). Com a ajuda dos seus carcereiros, fez na prisão a sua cruz peitoral, formada por pedaços de madeira e uma corrente de metal, que usou depois até à morte: símbolo da amizade que nasceu entre eles.

Văn Thuận nasceu em 1928, numa família católica e morreu em Roma em 2002. A 15 de agosto de 1975, pouco depois de ter sido nomeado pelo papa Paulo VI arcebispo coadjutor de Saigão, foi preso pelas autoridades vietnamitas. Começou assim o seu atribulado percurso, ao longo de 13 anos, entre prisão domiciliária, celas de isolamento, campos de concentração e vários tipos de tortura. Viveu sempre iluminado por uma inabalável esperança. 

terça-feira, 23 de agosto de 2022


ORAÇÃO PARA PEDIR A CHUVA

Deus, nosso Pai, Senhor do Céu e da terra

Tu és para nós existência, energia e vida

Criaste o homem à Tua imagem

a fim de que com o seu trabalho ele faça frutificar

as riquezas da terra

colaborando assim na Tua criação.

Temos consciência da nossa miséria e fraqueza:

nada podemos fazer sem Ti.

Tu, Pai bondoso, que sobre todos fazes brilhar o sol

e fazes cair a chuva,

tem compaixão de todos os que sofrem duramente

pela seca que nos ameaça nestes dias.

Escuta com bondade as orações que Te são dirigidas

com confiança pela Tua Igreja,

como satisfizeste súplicas do profeta Elias

que intercedia em favor do Teu povo.

Faz cair do céu sobre a terra árida

a chuva desejada

a fim de que renasçam os frutos

e sejam salvos homens e animais.

Que A chuva seja para nós o sinal

da Tua graça e da Tua bênção:

assim, reconfortados pela Tua misericórdia,

dar-te-emos graças por todos os dons da terra e do céu,

com os quais o Teu Espírito satisfaz a nossa sede.

Por Jesus Cristo, Teu Filho,

que nos revelou o Teu amor,

fonte de água viva, que brota para a vida eterna.

Amen.

São Paulo VI

(Angelus de 04/07/l976)

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

 

São DOMINGOS de Gusmão

Homem simples, profundamente crente, buscador da Verdade, bondoso e bem-disposto, pregador incansável, um contemplativo na acção.

Nasceu em Caleruega – Burgos (Espanha) em 1170, no seio de uma família profundamente cristã com muitos frutos de santidade: sua mãe Beata Joana de Aza e seu irmão Beato Manés de Gusmão.

Fundador da Ordem dos Pregadores, também conhecida por Dominicanos.

Morreu a 6 de Agosto de 1221, num Convento Dominicano em Bolonha (Itália), onde está sepultado.

Em 1234 foi canonizado pelo Papa Gregório IX.

A sua memória litúrgica celebra-se a 8 de Agosto.

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Palavra de Vida

Agosto de 2022

Letizia Magri

“Se o meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?” (Mt 18, 21)

O capítulo 18 do evangelho de Mateus é um texto riquíssimo, onde Jesus dá instruções aos discípulos sobre como viver os relacionamentos no seio da comunidade recém-nascida. A pergunta feita por Pedro retoma as palavras que Jesus tinha pronunciado um pouco antes: «Se o teu irmão cometer alguma falta contra ti…» [Mt 18, 15]. Jesus continua a falar e, pouco depois, Pedro interrompe-o, como se se desse conta de não ter compreendido bem aquilo que o seu Mestre tinha acabado de dizer. Coloca-lhe uma das questões mais relevantes acerca do caminho que um discípulo de Jesus deve percorrer. Quantas vezes é preciso perdoar?

“Se o meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?” (Mt 18, 21)

Interrogar-se faz parte do caminho da fé. Quem acredita não tem todas as respostas, mas permanece fiel apesar das perguntas. A interrogação de Pedro não se refere ao pecado contra Deus, mas ao que fazer quando um irmão comete alguma falta contra outro irmão. Pedro julga ser um bom discípulo, que consegue chegar a perdoar até sete vezes [O número sete indica a totalidade, a plenitude: Deus cria o mundo em sete dias (cf. Gen 1,1-2,4). No Egito houve sete anos de abundância e sete de carestia (Gen 41, 29-30)]. Não esperava a resposta de Jesus que desfaz todas as suas certezas: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18,22). Os discípulos conheciam bem as palavras de Lamec, o sanguinário filho de Caim, que canta a repetição da vingança até setenta vezes sete [“Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete” (Gen 4,24)]. Jesus, fazendo justamente alusão a essa afirmação, contrapõe à vingança ilimitada o perdão infinito.

“Se o meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?” (Mt 18, 21)

Não é uma questão de perdoar a uma pessoa que ofende continuamente, mas antes de perdoar repetidamente no nosso coração. O perdão verdadeiro, aquele que nos faz sentir livres, acontece normalmente de forma gradual. Não é um sentimento, não é esquecer: é a escolha que o crente deve fazer, não apenas quando a ofensa se repete, mas também todas as vezes que ela volta à memória. Por isso é preciso perdoar setenta vezes sete.

Escreve Chiara Lubich«Jesus, portanto, […] tinha como objetivo sobretudo os relacionamentos entre os cristãos, entre os membros da mesma comunidade. É, por isso, antes de tudo com os teus irmãos na fé que te deves comportar assim: na família, no trabalho, na escola ou, se vives em comunidade, na tua comunidade. Sabes bem como muitas vezes se quer compensar com um ato, com uma palavra correspondente, uma ofensa recebida. Sabes como as faltas de amor são frequentes entre pessoas que vivem próximas, quer por diferenças de caráter quer por nervosismo ou por outras razões. Então, recorda-te que só uma atitude de perdão, sempre renovada, pode manter a paz e a unidade entre os irmãos. Existirá sempre a tendência para pensar nos defeitos dos teus irmãos, para recordar o seu passado, para querer que sejam diferentes do que são… É preciso que tu cries o hábito de os ver com olhos novos, de os ver novos, aceitando-os sempre, imediatamente e plenamente, mesmo que não se arrependam» [C. Lubich, Palavra de Vida de outubro de 1981, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5) Città Nuova, Roma 2017, p. 219].

“Se o meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?” (Mt 18, 21)

Todos nós fazemos parte de uma comunidade de “perdoados”, porque o perdão é um dom de Deus, do qual precisamos sempre. Deveríamos viver sempre maravilhados com a imensa misericórdia que recebemos do Pai, que nos perdoa, se também nós perdoarmos aos nossos irmãos [Città Nuova, Roma 2017, p. 219. [5] Cf. Oração do Pai Nosso, Mt 6,9-13].

Há situações em que não é fácil perdoar. Acontecimentos que derivam de situações políticas, sociais, económicas em que o perdão pode assumir uma dimensão comunitária. São muitos os exemplos de mulheres e homens que conseguiram perdoar, mesmo nos contextos mais difíceis, ajudados pela comunidade que os apoiou.

O Osvaldo é colombiano. Foi ameaçado de morte e viu o seu irmão ser assassinado. Atualmente é dirigente de uma associação rural, onde se ocupa da recuperação de pessoas que tinham estado diretamente envolvidas no conflito armado do seu país.

«Teria sido fácil responder à vingança com outra violência, mas recusei», explica o Osvaldo: «Aprender a arte do perdão é muito, muito difícil, mas as armas ou a guerra nunca podem ser opção para uma mudança de vida. A estrada da transformação é outra, é poder tocar a alma humana do outro. Para isso, não precisamos de soberba nem de nenhum outro poder: é necessária a humildade que é a virtude mais difícil de construir» [Unità è il nome della pace: La strategia di Chiara Lubich, a/c Maddalena Maltese, Città Nuova, Roma, 2020, p.37].

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Palavra de Vida

Julho de 2022

Letizia Magri

«Mas uma só coisa é necessária». (Lc 10,42)

Estando a caminho de Jerusalém – onde em breve deveria dar cumprimento à sua missão –, Jesus pára numa aldeia, em casa de Marta e de Maria. O evangelista Lucas descreve do seguinte modo o acolhimento dado a Jesus por parte das duas irmãs: Marta, desempenhando o tradicional papel de dona de casa, «andava atarefada com muitos serviços» (Lc 10,40. O verbo perispàomai tem uma dúplice interpretação: pode significar “estar completamente ocupado/estar fortemente sobrecarregado”, ou “estar distante/distraído”) exigidos pela hospitalidade, enquanto Maria, «sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra» (v. 39). À atenção de Maria contrapõe-se a agitação de Marta. Por isso, perante as suas queixas por ter sido deixada sozinha a servir, Jesus responde: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas, mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada» (vv. 41-42). Esta passagem encontra-se entre a parábola do bom samaritano – talvez a página mais sublime no que se refere à caridade para com o próximo – e aquela em que Jesus ensina os seus discípulos a rezar – sem dúvida a página mais sublime sobre o relacionamento com Deus-Pai. Indica assim o equilíbrio entre o amor aos irmãos e o amor a Deus.

«Mas uma só coisa é necessária». (Lc 10,42)

As protagonistas desta passagem do evangelho são duas mulheres. O diálogo entre Jesus e Marta descreve bem a sua relação de amizade, que permite até que ela se lamente com o Mestre. Mas qual é o serviço que Jesus deseja? Para Ele, é importante que Marta não esteja agitada, que deixe o papel tradicional atribuído às mulheres e se coloque também ela à escuta da Sua Palavra. Como Maria, que assume um papel novo, o de discípula. A mensagem deste texto foi muitas vezes reduzida a uma contraposição entre a vida ativa e a vida contemplativa, como se fossem duas abordagens alternativas. Mas tanto Marta como Maria amam Jesus e querem servi-Lo. No Evangelho, de facto, não se diz que a oração e a escuta da Palavra são mais importantes do que a caridade. O importante é encontrar o modo de ligar estes dois amores de maneira indissolúvel. Dois amores, o amor a Deus e o amor ao próximo, que não se contrapõem, mas são complementares porque o Amor é um só.

«Mas uma só coisa é necessária». (Lc 10,42)

Falta então compreender bem qual é a única coisa necessária. Para isso, pode ajudar-nos o início da frase: “Marta, Marta…” (v. 41). Esta repetição do nome pode parecer quase como o anúncio de uma repreensão, mas não é. Na realidade, expressa a modalidade própria dos “chamamentos-vocações”. Portanto, vemos que Jesus chama Marta a um novo modo de se relacionar, a tecer um relacionamento que não seja o de um servo, mas de um amigo que estabelece com Ele um relacionamento profundo. 

Chiara Lubich escreve: «Jesus aproveitou esta circunstância para explicar aquilo que é mais necessário na vida do homem. […] Escutar a Palavra de Jesus. Para Lucas, que escreve esta passagem, escutar a palavra significa também vivê-la. […] É isto que também tu deves fazer: acolher a palavra, deixar que ela realize em ti uma transformação. Não só, mas permanecer-lhe fiel, conservando-a no coração para que molde a tua vida, tal como a terra guarda a semente no seu seio para que venha a germinar e dar fruto. Portanto, dar frutos de vida nova, resultantes da palavra» (C. Lubich, Palavra de Vida de julho de 1980, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 176-177).

«Mas uma só coisa é necessária». (Lc 10,42)

Quem sabe quantas ocasiões temos também nós para acolher o Mestre na intimidade da nossa casa, tal como Marta e Maria. Quantas possibilidades de nos colocarmos aos seus pés, em atitude de escuta, como verdadeiros discípulos. Mas, muitas vezes, perdemo-nos com a preocupação das coisas para fazer, com as doenças, os compromissos e até com as alegrias e satisfações, não conseguindo parar para reconhecer o Senhor, para O escutar.

Esta Palavra é uma oportunidade preciosa para nos exercitarmos na escolha da melhor parte, ou seja: escutar a Sua palavra para chegar àquela liberdade interior que nos levará a agir em conformidade com ela na nossa vida quotidiana. Um agir que é fruto de um relacionamento de amor que dá sentido quer ao serviço quer à escuta.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

(17) JUNHO, Mês do Sagrado CORAÇÃO DE JESUS

"Próximo do coração de Cristo, o coração humano aprende a conhecer o sentido verdadeiro e único da vida e do próprio destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a prevenir-se de certas perversões do coração, a unir o amor filial a Deus com o amor ao próximo. Assim e é a verdadeira reparação exigida pelo Coração do Salvador sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e pela violência, poderá ser edificada a civilização do Coração de Cristo". São João Paulo II, Insegnamenti, vol. IX/2, 1986, pág. 843

Pai-Nosso…, Avé-Maria…, Glória ao Pai…

Coração de Jesus que tanto nos amais,

fazei que eu vos ame sempre e cada vez mais.

Senhor nosso Deus, que, no Coração do vosso Filho, ferido pelos nossos pecados, nos abristes os tesouros infinitos do vosso amor, fazei que, prestando-Lhe a homenagem da nossa piedade, cumpramos também o dever de uma digna reparação. Ele que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

sábado, 4 de junho de 2022

(4) JUNHO, Mês do Sagrado CORAÇÃO DE JESUS

“Jesus não veio para conquistas os homens como os reis e os poderosos deste mundo, mas sim para oferecer amor com mansidão e humildade. Eis como Ele mesmo se definia: «Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29). E o sentido … do Sagrado Coração de Jesus, …, consiste em descobrir cada vez mais e em deixar-nos abraçar pela lealdade humilde da mansidão do amor de Cristo, Revelação da misericórdia do Pai. Nós podemos experimentar e saborear a ternura deste amor em cada fase da vida: no tempo da alegria e da tristezas, no tempo da saúde e da enfermidade e da doença.” Papa Francisco, «HOMILIA» lida pelo Cardeal Angelo Scola, 27 de Julho de 2014

Pai-Nosso…, Avé-Maria…, Glória ao Pai…

Coração de Jesus que tanto nos amais,

fazei que eu vos ame sempre cada vez mais.

Senhor nosso Deus, que, no Coração do vosso Filho, ferido pelos nossos pecados, nos abristes os tesouros infinitos do vosso amor, fazei que, prestando-Lhe a homenagem da nossa piedade, cumpramos também o dever de uma digna reparação. Ele que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

sexta-feira, 3 de junho de 2022

(3) JUNHO, Mês do Sagrado CORAÇÃO DE JESUS

O Coração de Jesus seja o nosso refúgio

e escola onde aprendamos

a praticar todas as virtudes,

em especial doçura, mansidão e humildade.

Oh! Quanta necessidade temos …

de nos escondermos

no coração Dulcíssimo de Jesus.

Venerável Serva de Deus Maria Isabel da Santíssima Trindade

fundadora das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres

Pai-Nosso…, Avé-Maria…, Glória ao Pai…

Coração de Jesus que tanto nos amais,

fazei que eu vos ame sempre cada vez mais.

Senhor nosso Deus, que, no Coração do vosso Filho, ferido pelos nossos pecados, nos abristes os tesouros infinitos do vosso amor, fazei que, prestando-Lhe a homenagem da nossa piedade, cumpramos também o dever de uma digna reparação. Ele que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

(2) JUNHO, Mês do Sagrado CORAÇÃO DE JESUS

“Na linguagem bíblica o "coração" indica o centro da pessoa, a sede dos seus sentimentos e das suas intenções. No coração do Redentor nós adoramos o amor de Deus pela humanidade, a sua vontade de salvação universal, a sua misericórdia infinita.

Portanto, prestar culto ao Sagrado Coração de Cristo significa adorar aquele Coração que, depois de nos ter amado até ao fim, foi trespassado por uma lança e do alto da Cruz derramou sangue e água, fonte inexaurível de vida nova.” Papa Bento XVI, «ANGELUS», 5 de Junho de 2005

Pai-Nosso…, Avé-Maria…, Glória ao Pai…

Coração de Jesus que tanto nos amais,

fazei que eu vos ame sempre cada vez mais.

Senhor nosso Deus, que, no Coração do vosso Filho, ferido pelos nossos pecados, nos abristes os tesouros infinitos do vosso amor, fazei que, prestando-Lhe a homenagem da nossa piedade, cumpramos também o dever de uma digna reparação. Ele que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

(1) JUNHO, Mês do Sagrado CORAÇÃO DE JESUS



Jesus, que o Vosso Coração

seja o farol luminoso da nossa fé,

a ancora segura da nossa esperança,

o símbolo da nossa bandeira,

o escudo impenetrável da nossa fraqueza,

a bela aurora de uma paz imperturbável,

o laço apertado de uma santa concórdia,

a nuvem que fecunda o nosso campo,

o sol que ilumina o nosso horizonte,

a veia riquíssima

de prosperidade e de abundância de que precisamos.

Que todos, ao contemplar a verdadeira alegria

e a felicidade do nosso coração,

se refugiem por sua vez no Vosso Coração que ama

e usufruam da paz

que essa fonte pura

e símbolo perfeito de amor e de caridade

oferece ao mundo.

São João Paulo II

Pai-Nosso…, Avé-Maria…, Glória ao Pai…

Coração de Jesus que tanto nos amais,

fazei que eu vos ame sempre cada vez mais

Senhor nosso Deus, que, no Coração do vosso Filho, ferido pelos nossos pecados, nos abristes os tesouros infinitos do vosso amor, fazei que, prestando-Lhe a homenagem da nossa piedade, cumpramos também o dever de uma digna reparação. Ele que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

Palavra de Vida - JUNHO DE 2022

Palavra de Vida

Junho de 2022

Letizia Magri

“Tu és o meu Senhor. Não tenho outro bem acima de ti!” (Sal 16 [15],2)

A Palavra de Vida deste mês é retirada do livro dos Salmos, que reúne as orações por excelência, inspiradas por Deus ao rei David e a outros orantes, para ensinar como nos podemos dirigir a Ele. Com os Salmos, todos nos podemos identificar: tocam-se as cordas mais íntimas da alma. Exprimem-se os sentimentos humanos mais profundos e intensos: a dúvida e o sofrimento, a ira e a angústia, o desespero, a esperança, o louvor, a ação de graças, a alegria. Por isso, eles podem ser pronunciados por homens e mulheres de todos os tempos e culturas, em todos os momentos da vida.

“Tu és o meu Senhor. Não tenho outro bem acima de ti!” (Sal 16 [15],2)

O Salmo 16 era o preferido de muitos autores espirituais. Por exemplo, Santa Teresa de Ávila comentava: “A quem tem Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!”. O Padre Antonios Fikri, teólogo da Igreja Ortodoxa, afirmava: “Este é o salmo da ressurreição. Por isso, a Igreja o reza nas primeiras horas […], tal como Cristo ressuscitou na aurora. Este salmo dá-nos esperança na nossa herança eterna. Por isso, houve quem o intitulasse “dourado”, para dizer que é uma palavra de ouro, uma joia da Sagrada Escritura”.  

Procuremos repeti-lo, pensando em cada palavra.

“Tu és o meu Senhor. Não tenho outro bem acima de ti!” (Sal 16 [15],2)

Esta oração envolve-nos, sentimos que a presença ativa e amorosa de Deus abarca todo o nosso ser e toda a Criação. Percebemos que Ele contém o nosso passado, o nosso presente, o nosso futuro. Nele encontramos a força para enfrentar com confiança os sofrimentos que encontramos no nosso caminho e a serenidade para levantar o olhar para além das sombras da vida, para a esperança.

Como poderemos então viver a Palavra de Vida deste mês? Esta foi a experiência da C.D.: «Há algum tempo comecei a não me sentir muito bem. Por isso, recorri a várias consultas médicas que implicavam longos tempos de espera. Finalmente, quando soube qual era a minha doença, a de Parkinson… foi um golpe muito duro! Tinha 58 anos. Como era possível? Perguntava a mim próprio: “Porquê?”. Sou professora de Motricidade e Ciências do Desporto, a atividade física faz parte de mim!

Parecia-me que estava a perder algo muito importante. Mas pensei na escolha que eu tinha feito quando era jovem: “És tu, Jesus Abandonado, o meu único bem!”.

Devido à medicação comecei logo a ficar melhor, mas não sei ao certo o que me irá acontecer. Tomei a decisão de viver o momento presente. Espontaneamente, depois do diagnóstico, comecei a escrever uma canção, para cantar a Deus o meu SIM: a alma encheu-se de paz!».

A frase deste salmo também ecoou de modo particular na alma de Chiara Lubich, que escreveu: «Estas simples palavras irão ajudar-nos a confiar Nele, irão treinar-nos a conviver com o Amor e, assim, cada vez mais unidos a Deus e cheios Dele, colocaremos e renovaremos os alicerces do nosso verdadeiro ser, feito à Sua imagem» (C. Lubich, Palavra de vida de julho de 2001, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5); Città Nuova, Roma 2017, p. 643).

Eis-nos então, neste mês de junho, unidos para elevar a Deus esta “declaração de amor” a Ele e para irradiar paz e serenidade à nossa volta.