sexta-feira, 1 de março de 2024

MARÇO - Mês de São José

O mês de Março é dedicado à devoção a São José, que é comemorada a 19 de Março. São José é o exemplo de um pai bom e amoroso por excelência, de um marido fiel e solidário, mas também de um humilde servo da vontade divina, ao aceitar o seu papel de marido de Maria e suposto pai de Jesus sem questionar o desígnio de Deus.

São José é muito honrado pela Igreja Católica e goza de um papel de grande importância em muitas orações do rito romano. Também é o protagonista de muitas práticas devocionais, como a “prática das Sete Dores e Alegrias de São José”, assim como muitas Ladainhas, como o Cordão de São José, o Rosário de São José, o Escapulário de São José, o Manto Sagrado, a Novena Perpétua, o Rosário Perpétuo, o Tribunal Perpétuo. Para ele nos voltamos para pedir graças e intercessões.

Palavra de Vida

Março de 2024

Parody Reyes e pela equipa da Palavra de Vida

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

A frase da Sagrada Escritura, que nos é proposta neste tempo quaresmal, faz parte do Salmo 51 (50), no versículo 12, com esta comovente e humilde invocação: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme”. Este salmo é conhecido com o nome de “Miserere”. Nele, o olhar do autor começa por sondar os esconderijos da alma humana para neles captar as fibras mais profundas, onde ressoa a nossa total inadequação perante Deus e, ao mesmo tempo, o insaciável anseio pela plena comunhão com Aquele do qual procede toda a graça e misericórdia. 

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

O salmo parte de um episódio bem conhecido da vida de David. Ele, chamado por Deus a cuidar do povo de Israel e a guiá-lo pelos caminhos da obediência à Aliança, atraiçoa a própria missão: depois de ter cometido adultério com Betsabé, faz com que o marido – Urias, o Hitita, oficial do seu exército – morra em batalha. O profeta Natan revela-lhe a gravidade da sua culpa e ajuda-o a reconhecê-la. Este é o momento da confissão do seu pecado e da reconciliação com Deus.

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

O salmista coloca na boca do rei invocações muito fortes, que brotam do seu profundo arrependimento e da total confiança no perdão divino: “apaga”, “lava-me”, “purifica-me”. Principalmente, no versículo que abordamos, usa o verbo “cria” para indicar que a completa libertação da fragilidade humana só é possível a Deus. É a consciência de que só Ele nos pode tornar criaturas novas com um “coração puro”, enchendo-nos com o Seu espírito vivificante, dando-nos a verdadeira alegria e transformando radicalmente o nosso relacionamento com Deus (o “espírito firme”) e com os outros, com a natureza e o cosmos.

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

Como pôr em prática esta palavra de vida? O primeiro passo será reconhecer-nos pecadores e necessitados do perdão de Deus, numa atitude de ilimitada confiança para com Ele. 

Pode acontecer que os nossos repetidos erros nos desencorajem, nos fechem em nós mesmos. É preciso, então, deixar entreaberta, pelo menos um pouco, a porta do nosso coração. Escreveu Chiara Lubich, em 1946, a alguém que se sentia incapaz de ultrapassar as suas misérias: «É preciso retirar da alma todos os outros pensamentos. Acreditar que Jesus é atraído para nós pela exposição humilde, confiante e amorosa dos nossos pecados. Nós, por nós mesmas, nada temos e só fazemos misérias. Ele, por Si mesmo, em relação a nós, só tem uma qualidade: a Misericórdia. A nossa alma pode unir-se a Ele com a oferta, com a única prenda, não das nossas virtudes, mas dos nossos pecados! […] Jesus veio à Terra, fez-se homem, e, se alguma coisa anseia […] é unicamente: ser Salvador. Ser Médico! Nada mais deseja» (C. Lubich, Cartas dos primeiros tempos, Cidade Nova, Abrigada 2011, p. 111).

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

Assim libertados e perdoados, com a ajuda dos irmãos – porque a força do cristão vem da comunidade – podemos amar concretamente o próximo, quem quer que ele seja. «Aquilo que nos é pedido é um amor recíproco, de serviço, de compreensão, de participação nos sofrimentos, nos anseios e nas alegrias dos nossos irmãos; um amor que tudo cobre, tudo perdoa, típico do cristão» (C. Lubich, Palavra de Vida de maio de 2002, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 658-659). Por fim, diz o Papa Francisco: «o perdão de Deus […] é o maior sinal da sua misericórdia. Uma dádiva que cada […] pessoa perdoada é chamada a partilhar com cada irmão e irmã que encontra. Todos aqueles que o Senhor colocou ao nosso lado, os familiares, os amigos, os colegas, os paroquianos… todos são, como nós, necessitados da misericórdia de Deus. É bom ser-se perdoado, mas também tu, se quiseres ser perdoado, deves perdoar. Perdoa! […] Para sermos testemunhas do seu perdão, que purifica o coração e transforma a vida» (Papa Francisco, Audiência Geral, 30 de março de 2016)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024


Mensagem do Arcebispo de Évora para a Quaresma 2024

Ao Povo Santo de Deus, peregrino em terras do Alentejo e Ribatejo, da Arquidiocese de Évora; seus Presbíteros, Diáconos e Consagrados ao Serviço de Todos, a Paz esteja convosco!

1. A Quaresma que nos prepara para a Páscoa deste ano de 2024, desperta-nos para a necessidade de valorizarmos o nosso encontro pessoal e comunitário com a Misericórdia de Deus. Será a partir desta experiência que renovaremos e fortaleceremos a Paz e a Alegria dos nossos corações e consequentemente, o testemunho humanizado das Comunidades Cristãs em que caminhamos na Fé.

É este o propósito do nosso Ano Pastoral, “Revelar juntos um novo rosto de Comunidade”; para que o Espírito Santo nos molde e amadureça neste propósito de conversão pessoal e comunitário, rezamos e discernimos com a Palavra do Evangelho: «Por isso reconhecerão que sois meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 13, 35). Como sabemos, a lei do amor fraterno não é uma novidade das catequeses de Jesus, porém Cristo dá-lhe um novo sentido e uma nova medida, assumindo-se Ele próprio como esse sentido novo e essa nova medida: “(…) como Eu vos amei”. O Seu Amor tem uma única medida, amar sem medida, por isso entrega a Sua vida pela redenção de todos; o Seu Amor tem um único sentido, revelar-nos a Misericórdia do Pai, pois o seu alimento é fazer a vontade do Seu Pai (Cf. Jo 4, 34).

O Mandamento Novo sugere a Nova Aliança. Lei e Aliança consideram-se duas noções paralelas, assim Jesus, ao dizer, “(…) Dou-vos”, actua não como simples intermediário de Deus, à maneira de Moisés e dos Profetas, mas com autoridade própria e em nome próprio, como Filho de Deus e Salvador. É o Verbo de Deus que nos revela a Nova e Eterna Aliança. Deste modo, a nossa pertença a Jesus e com Ele ao Pai exige-nos a conversão e vivência desta Palavra: “Por isso reconhecerão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros como Eu vos amei”.

2. Os Quarenta Dias a que chamamos Quaresma são um Tempo de Graça, “Kairós”, que se nós quisermos, nos proporcionarão momentos de reflexão e exame de consciência, para que experimentemos a beleza do abraço misericordioso de Deus e a riqueza que nos vem da experiência da vida fraterna, “Ó como é bom viverem os irmãos no Amor de Deus!” (Sal 133, 1).

O ruído em que vivemos com frequência pode-nos roubar a liberdade interior, sobrepondo-se ao nosso discernimento e tornando-nos insensíveis aos sinais dos tempos, «ao grito dos pobres e da terra». Deste modo, somos impedidos de escutar o nosso coração onde Deus fala e ecoam os gritos da solidão e da pobreza de muitos irmãos. Por isso, importa cultivar o jejum face a todos os excessos que nos solicitam exclusiva obsessão e provar o oásis do silêncio interior, onde se tornará possível compreender que a nossa sede corresponde à água-viva da Boa Nova do Senhor.

Eis uma oportunidade de excelente terapia que, se quisermos, repito, poderemos usufruir nesta Quaresma.

Oração, jejum e partilha fraterna são os três pilares da Quaresma; desde a mais remota tradição proporcionada pelos Padres do deserto, pelos Monges, Doutores da Igreja e Mendicantes, estas três práticas quaresmais renovarão as nossas vidas e farão das nossas Comunidades eclesiais, “Mães de coração aberto para todos os sedentos de Esperança”. Neste contexto da espiritualidade e da sabedoria cristã, recordo as palavras do nosso amado Papa Francisco, proferidas aos estudantes universitários na JMJ em Lisboa e agora citadas na sua Mensagem Quaresmal: «Procurai e arriscai; sim, procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim» (03/VIII/2023). É um mundo novo que nasce, experimentando nós simultaneamente os gritos doridos do mundo velho que morre.

3. No contexto doloroso de violência generalizada e de “guerra mundial feita aos pedaços”, como refere o Santo Padre, proponho que a Renúncia Quaresmal deste ano, se destine às Igrejas do Médio-Oriente, vítimas de guerra e que façamos chegar a essas Comunidades a nossa partilha através da Santa Sé, ao serviço da Caridade do Papa Francisco.

Agradeço todo o esforço, dedicação e generosidade da Igreja Diocesana, nomeadamente da sua Cáritas, da sua Cúria e Economato, que permitiram o envio de 20.000€, correspondente à Renúncia Quaresmal de 2023, para as vítimas dos terramotos ocorridos na Turquia e na Síria. Também este quantitativo foi enviado através do ministério da Caridade do Santo Padre, o Papa Francisco.

Como já é tradição, confio mais uma vez a campanha da Renúncia Quaresmal 2024 à Cáritas Diocesana, aos Reverendíssimos Párocos, aos Serviços Centrais da Arquidiocese e à generosidade de todos os Cristãos, entidades, empresas e pessoas de boa vontade.

Com todos permaneço em comunhão de oração, jejum e caridade. E a todos desejo fecunda Quaresma e Santa Páscoa!

+ Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Palavra de Vida

Fevereiro 2024

Letizia Magri e equipa da Palavra de Vida

«Que, entre vós, tudo se faça com amor.» (1Cor 16,14) [1]

Este mês, como lâmpada para os nossos passos [Cf. Sal 119 [118], 105], deixemo-nos iluminar pela palavra e pela experiência do apóstolo Paulo.

Ele anuncia-nos, também a nós, como aos cristãos de Corinto, uma poderosa mensagem: o coração do Evangelho é a caridade, a ágape, o amor desinteressado entre irmãos. 

A nossa Palavra de Vida faz parte da conclusão desta Carta, em que a caridade é amplamente recordada e explicada em todas as suas caraterísticas: é paciente, benevolente, rejubila com a verdade, não procura o próprio interesse [Cf. cap. 13]

O amor recíproco, se for vivido na comunidade cristã, é bálsamo para as divisões que sempre a ameaçam e sinal de esperança para toda a humanidade. 

«Que, entre vós, tudo se faça com amor.» (1Cor 16,14)

Impressiona que Paulo – no texto grego – exorte a agir “estando no amor”, como a indicar-nos uma condição estável, uma inabitação em Deus, que é Amor.

Como poderemos, de facto, acolher-nos reciprocamente e acolher cada pessoa com esta atitude, senão a partir do reconhecimento de que nós próprios somos amados por Deus, até nas nossas fragilidades?

É com esta renovada consciência que é possível abrirmo-nos sem medo aos outros, para compreender as suas necessidades e para nos colocarmos ao seu lado, partilhando recursos materiais e espirituais.

Olhemos para o modo como Jesus atuou; é Ele o nosso modelo.

Ele foi sempre o primeiro a dar: «[…] a saúde aos doentes, o perdão aos pecadores, a vida a todos nós. Ao instinto egoísta de acumular opõe a generosidade; à concentração nas próprias necessidades, a atenção aos outros; à cultura do ter, a cultura do dar. Não interessa se podemos dar muito ou pouco. O importante é o modo como damos, quanto amor colocamos até num pequeno gesto de atenção aos outros. […] É essencial o amor, porque sabe ir ao encontro do próximo numa atitude de escuta, de serviço, de disponibilidade. Como é importante […] procurar ser o amor junto de cada um! Encontraremos o caminho direto para entrar no seu coração e elevá-lo» [C. Lubich, Palavra de Vida de outubro de 2006, em Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5) Città Nuova, Roma 2017, pp. 791-792.].

«Que, entre vós, tudo se faça com amor.» (1Cor 16,14)

Esta Palavra ensina a aproximarmo-nos dos outros com respeito, sem falsidade, com criatividade, dando espaço às suas mais belas aspirações, para que cada um dê o seu próprio contributo para o bem comum.

Ajuda-nos a valorizar cada ocasião concreta da nossa vida quotidiana: «[…] desde o trabalho em casa, nos campos ou nas oficinas, aos trâmites burocráticos, às tarefas escolares, até às responsabilidades no campo civil, político ou religioso. Tudo se pode transformar em serviço atento e gentil» [ Ibid. p. 792. ].

Poderemos imaginar um mosaico de Evangelho vivido na simplicidade.

Dois pais escreveram: «Quando uma vizinha, angustiada, nos disse que o seu filho estava na prisão, combinámos ir visitá-lo. Jejuámos no dia anterior à visita, esperando ter a graça de lhe dizer as palavras certas. Depois, pagámos a caução para que fosse libertado» [S. Pellegrini, G. Salerno e M. Caporale, Famílias em ação – Um mosaico de vida, Cidade Nova 2022, p. 71.].

Um grupo de jovens de Buea (sudoeste dos Camarões) organizou uma recolha de bens e de fundos para ajudar os refugiados internos, por causa da guerra em curso [Texto adaptado do site https://www.unitedworldproject.org/pt-br/workshop/camaroes-partilha-com-pessoas-deslocadas/.]. Visitaram um homem que perdeu um braço durante a fuga. Conviver com esta incapacidade tornou-se para ele um grande desafio, porque os seus hábitos mudaram drasticamente. «Disse-nos que a nossa visita lhe deu esperança, alegria e confiança. Sentiu o amor de Deus através de nós», contou a Regina. Acrescentou a Marita: «Depois desta experiência, estou realmente convencida que nenhuma dádiva é pequena se for feita com amor… Não é preciso mais nada: é o amor que faz mover o mundo. Experimentemo-lo!»

[1] Este mês, a Palavra de Vida que nos é proposta é a mesma que um grupo de cristãos de várias igrejas da Alemanha escolheu para viver durante todo este ano.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

"A verdadeira oração"

Uma noite, estando São Bernardo, na Igreja em oração, teve uma visão:

- No início da cerimónia, vi uma multidão de anjos descendo do céu. Cada anjo ficou ao lado de um dos fiéis presentes; abriu um livro e começou a escrever. Reparei que alguns anjos escreviam com letras de ouro; outros com letras de prata; outros com tinta; e outros com água.

Então, São Bernardo perguntou:

- Por que não escrevem todos com o mesmo material?

Um dos anjos explicou-lhe:

- Escrevemos com ouro as orações feitas com amor; com prata, as orações feitas com fé; com tinta, as orações feitas com atenção; com água, as orações feitas apenas com os lábios.

Que isso nos sirva para examinar nossa oração e pedir a Deus a graça de torná-la cada vez melhor, unindo-nos cada vez mais a Ele.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

 

Palavra de Vida

Janeiro de 2024

Patrizia Mazzola e equipa da Palavra de Vida 

«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (Esta celebra-se no hemisfério norte de 18 a 25 de janeiro e no hemisfério sul na semana de Pentecostes. Os textos da oração deste ano foram preparados por uma equipa ecuménica do Burkina Faso) propõe este ano, como tema de reflexão, a frase acima referida que tem a sua origem no Antigo Testamento (Cf. Dt 6,4-5 e Lv 19,18). No seu caminho para Jerusalém, Jesus é interpelado por um doutor da Lei que lhe pergunta: “Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” (Lc 10,25). Abre-se assim um diálogo em que Jesus responde com outra pergunta: “O que está escrito na Lei?” (Lc 10,26), suscitando a resposta do seu interlocutor: o amor a Deus e o amor ao próximo, que no seu conjunto são considerados a síntese da Lei e dos Profetas. 

«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)

“E quem é o meu próximo?”, continua o doutor da Lei. O Mestre responde contando a parábola do Bom Samaritano. Ele não elenca as várias tipologias de pessoas que podem entrar na categoria de próximo, mas descreve a atitude de profunda compaixão que deve animar todas as nossas ações. Somos nós próprios que nos devemos tornar “próximos” dos outros. 

A pergunta que nos temos de fazer é: “E eu, sou próximo de quem?”.

Precisamente como fez o Samaritano, é preciso cuidar dos irmãos cujas necessidades conhecemos. Deixarmo-nos envolver plenamente nas situações que se nos apresentam, sem qualquer temor. Ter um amor que procura ajudar, promover e encorajar a todos. 

É preciso ver o outro como um outro eu, e fazer ao outro aquilo que faríamos a nós próprios. É a denominada “regra de ouro”, que encontramos em todas as religiões. Gandhi explica-a de um modo muito eficaz: «Tu e eu somos uma coisa só. Não posso fazer-te mal sem me ferir a mim mesmo» (C. Lubich, A arte de amar, Cidade Nova, Abrigada 2007, p. 24).

«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)

«Se nós ficarmos indiferentes ou resignados diante das necessidades do nosso próximo, quer no plano dos bens materiais quer nos bens espirituais, não podemos dizer que amamos o próximo como a nós mesmos. Não podemos dizer que o amamos como Jesus o amou. Numa comunidade, se quisermos inspirar-nos no amor que Jesus nos ensinou, não pode haver lugar para desigualdades, desníveis, marginalização, negligência. […] Enquanto virmos no nosso próximo um estranho, alguém que perturba a nossa tranquilidade, que transtorna os nossos projetos, não podemos dizer que amamos a Deus com todo o nosso coração» (C. Lubich, Palavra de Vida de novembro de 1985, em Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 340-341).

«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)

A vida é aquilo que nos acontece no momento presente.  Dar-nos conta de quem está ao nosso lado, saber escutar o outro pode abrir-nos sendas interessantes e suscitar iniciativas não previstas.

Foi o que aconteceu com a Victoria: 

«Na igreja, fiquei tocada pela lindíssima voz de uma mulher africana sentada ao meu lado. Felicitei-a, encorajando-a a juntar-se ao coro da paróquia. Detivemo-nos a conversar. Era uma religiosa da Guiné Equatorial, de passagem por Madrid. No seu Instituto acolhem recém-nascidos, meninos e meninas abandonados, que acompanham até à idade adulta, facultando-lhes os estudos universitários ou uma via profissional. O atelier de costura funcionava bem, mas as máquinas não são suficientes.

Ofereci-me para a ajudar a encontrar outras máquinas, confiando em Jesus, na certeza que Ele nos escutava e me impelia a amar sem calculismos.

Um meu amigo conhecia um técnico nesta área, que ficou feliz por poder participar nesta cadeia de amor. Conseguiu disponibilizar e reparar oito máquinas de costura e ainda arranjou uma de passar a ferro. Um casal amigo ofereceu-se para as transportar até Madrid, mudando o destino dos seus dois dias de férias e percorrendo quase mil quilómetros. Assim, as “máquinas da esperança”, através de uma longa viagem por terra e por mar, chegaram a Malabo. Na Guiné ficaram maravilhados! As suas mensagens falam apenas de gratidão».

Em 2024 calhou-me a

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

(ou seja: a Santíssima Trindade presente no Tabor,

Pedro, Tiago, João, Moisés e Elias)

Deus Eterno e Omnipotente,

Criador, Salvador e Vivificador,

eu Vos dou graças pelo Santo Protector

que Me concedestes para este ano de 2024.

Concedei-me que seguindo o seu exemplo

me encontre verdadeiramente conVosco,

deixe abrasar do Vosso Amor,

seja fiel à Vossa Vontade,

me liberte das obras da trevas 

e revista das armas da luz (cf. Rm 13, 12),

me deixe habitar por Vós

e seja a morada da Vossa eleição.

Que o meu testemunho de vida,

seja Verdadeiramente evangélico,

contribua para a construção do “mundo novo”

e, no termo deste ano,

me encontre mais parecido convosco

e, possa dizer com verdade e com a vida:

“Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20)

Tudo isto, conduzido e guiado

pela mão carinhosa e maternal de Maria,

Vossa Filha, Mãe e Esposa.

Ámen.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Palavra de Vida

Dezembro de 2023

Texto preparado por Victoria Gómez e pela equipa da Palavra de Vida

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». (1Ts 5,16-18)

Quando Paulo escreveu aos tessalonicenses, ainda estavam vivos muitos dos contemporâneos de Jesus que O tinham visto e ouvido, que foram testemunhas da tragédia da Sua morte e do assombro perante a Sua ressurreição e ascensão. Eles reconheciam o rastro deixado por Jesus e esperavam o Seu retorno iminente. Paulo amava a comunidade de Tessalónica, que era exemplar pela vida, pelo testemunho e pelos frutos. Escreveu-lhes então esta carta, insistindo para que fosse lida a todos (5,27). Nela fez algumas recomendações, para que continuassem a ser “imitadores nossos e do Senhor” (1,6), e resumiu-as assim: 

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». (1Ts 5,16-18)

O fio condutor destas prementes exortações não é apenas aquilo que Deus espera de nós, mas quando: sempre, sem cessar, em todas as circunstâncias. 

Mas será possível mandar alguém alegrar-se? Todos nos sentimos por vezes assolados por problemas e preocupações, por sofrimentos e angústias, sobretudo quando nos deparamos com uma realidade social árida e hostil. No entanto, para Paulo, há um motivo pelo qual é sempre possível ter “aquela alegria” a que ele se refere. Dirige-se a cristãos, por isso recomenda que levem a sério a vida cristã, para que Jesus possa viver neles com a plenitude que Ele prometeu após a ressurreição. É o que também nós podemos experimentar: Ele vive naqueles que amam, e qualquer pessoa pode percorrer o caminho do amor com o desapego de si mesmo, com o amor gratuito pelos outros, aceitando a ajuda dos amigos, mantendo viva a confiança de que “o amor vence tudo” (Virgílio. Écloga X.69).

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». (1Ts 5,16-18)

No diálogo com fiéis de diferentes religiões e com pessoas de outras convicções, compreendemos ainda mais profundamente que orar é uma ação profundamente humana. A oração edifica a pessoa, eleva-a. 

Mas como podemos “orar sem cessar”? Escreve o teólogo ortodoxo Evdokimov: «… Não basta ter a oração, ter regras, ter hábitos; é preciso tornar-se oração, ser oração incarnada, fazer da própria vida uma liturgia, rezar através das coisas mais banais» (Evdokimov, Pavel. «La preghiera di Gesù» in La novità dello Spirito. Milão: Ed. Ancora 1997)Chiara Lubich salienta que “podemos amar [a Deus] como filhos, quando o Espírito Santo enche o nosso coração de amor e de confiança no próprio Pai: aquela confiança que nos leva a falar frequentemente com Ele, a contar-Lhe tudo, os nossos propósitos, os nossos projetos” (LUBICH, Chiara. Conversazioni. Roma: Città Nuova 2019, p. 552)

Há ainda um modo de rezar sempre que é acessível a todos: parar antes de cada ação e retificar a intenção com um “Por Ti”. É uma prática simples que transforma em contínua oração, a partir de dentro, as nossas atividades e toda a nossa vida. 

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». (1Ts 5,16-18)

“Dai graças em todas as circunstâncias”. É a atitude que brota livre e sincera do amor agradecido Àquele que, silenciosamente, sustenta e acompanha os indivíduos, os povos, a História, o Cosmos. Ao mesmo tempo, é a gratidão para com os outros que caminham connosco, uma gratidão que nos torna conscientes de que não somos autossuficientes.

Alegrar-se, orar e agradecer. São três ações que nos ajudam a ser cada vez mais como Deus nos vê e nos quer, que enriquecem a nossa relação com Ele, na esperança de que “o Deus da paz nos santifique totalmente” (Cf. 1Ts 5,23).

Podemos assim preparar-nos para viver mais profundamente a alegria do Natal, para tornar o mundo melhor, para nos tornarmos construtores de paz dentro de nós mesmos, em casa, nos locais de trabalho, nas ruas e nas praças. É aquilo que é mais necessário e urgente nos dias de hoje.