quinta-feira, 3 de março de 2022

A ORANTE DA UCRÂNIA

A Virgem Orans, Oranta (A Grande Panagia) (em ucraniano: Оранта) é uma representação cristã ortodoxa muito conhecida da Virgem Maria em oração com os braços estendidos.

O mosaico de 6 metros de altura encontra-se na abobada do presbitério da Catedral de Santa Sofía em Kiev, Ucrânia.

El ícono está na catedral desde a sua fundação por Yaroslav I “O Sábio” no século XI. A postura solene e estática da Virgem, as pregas características das suas vestes e a sua expressão pensativa indicam uma importante influencia bizantina. A imagem é considerada um dos maiores símbolos sagrados de Ucrânia, uma paladina que defende o povo do país. É chamada de  "Muro Indestrutível" ou "Muro Inamovível". A tradição popular diz que, enquanto a Theotokos (Mãe de Deus) estender os seus braços sobre Kiev, a cidade permanecerá indestrutível. Popularmente pensa-se que o lenço bordado preso no cinto da Mãe de Deus serve para enxugar as lágrimas dos que se apresentam diante dela com os seus problemas e preocupações.

SANTA MÃE DE DEUS, VIRGEM ORANTE, MURO INDESTRUCTIVLE, ESTENDE OS TEUS BRAÇOS SEM DESCANSO PELOS E SOBRE OS TEUS FILHOS QUE SOFREM NA UCRÂNIA.

(fonte: Oscar Portillo)

terça-feira, 1 de março de 2022

Palavra de Vida

Março de 2022

Letizia Magri

“Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” (Mt 6,12)

A palavra de vida deste mês faz parte da oração que Jesus ensinou aos seus discípulos, o Pai Nosso. É uma oração profundamente radicada na tradição hebraica. Também os hebreus chamavam e chamam a Deus “Pai nosso”. 

Numa primeira leitura, as palavras desta frase deixam-nos perplexos: podemos pedir a Deus que cancele as nossas ofensas, como sugere o texto grego, com a mesma medida com que nós próprios somos capazes de o fazer com quem tem alguma falta contra nós? A nossa capacidade de perdão é sempre limitada, superficial, condicionada.

Se Deus nos tratasse com a nossa medida, seria uma verdadeira condenação!

“Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” (Mt 6,12)

São palavras importantes, que exprimem, antes de tudo, a consciência de que precisamos do perdão de Deus. O próprio Jesus as confiou aos discípulos, e, portanto, a todos os batizados, para que possam dirigir-se ao Pai com simplicidade de coração.

Tudo começa quando descobrimos que somos filhos no Filho, irmãos e imitadores de Jesus, que foi o primeiro a fazer da sua vida um caminho de adesão cada vez maior à vontade amorosa do Pai. 

Só depois de termos aceitado o dom de Deus, o seu amor sem medida, é que podemos pedir tudo ao Pai. Podemos até pedir-lhe que nos torne cada vez mais semelhantes a Ele, também na capacidade de perdoar aos irmãos e às irmãs com um coração generoso, dia após dia.

Cada acto de perdão é uma escolha livre e consciente, que tem de ser sempre renovada com humildade. Nunca é uma rotina. É um percurso exigente, pelo qual Jesus nos pede para rezar diariamente, tal como pelo pão.

“Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” (Mt 6,12)

Por vezes, as pessoas com quem vivemos – na família, no bairro, no local de trabalho ou de estudo – podem ter sido injustas para connosco e sentimos dificuldade em voltar a ter um relacionamento positivo. O que fazer? É nestas situações que podemos pedir a graça de imitar o Pai: 

«[…] Levantemo-nos de manhã com uma “amnistia” completa no coração, com aquele amor que tudo desculpa, que sabe aceitar o outro tal como ele é, com os seus limites, as suas dificuldades, precisamente como faria uma mãe com o seu filho que erra: desculpa-o sempre, perdoa-lhe sempre, tem sempre esperança nele… Quando estamos com uma pessoa, vejamo-la com “olhos novos”, como se nunca tivesse cometido aqueles erros. Recomecemos sempre, sabendo que Deus não só perdoa, mas esquece: é esta a medida que Ele nos pede também» (C. Lubich, Palavra de Vida de dezembro de 2004, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p. 739)

É uma meta elevada, mas podemos chegar lá com a ajuda da oração confiante. 

“Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” (Mt 6,12)

A oração do Pai Nosso parte sempre da perspetiva do “nós”, da fraternidade: rezo não apenas por mim, mas também pelos outros e com os outros. A minha capacidade de perdão é sustentada pelo amor dos outros e, por outro lado, o meu amor pode, de algum modo, fazer sentir como meu o erro do irmão: talvez também dependesse de mim, talvez não tenha feito toda a minha parte para que se sentisse bem aceite, compreendido…

Em Palermo, uma cidade italiana, as comunidades cristãs vivem uma intensa experiência de diálogo, que obriga a superar algumas dificuldades. Biagio e Zina contam-nos: «Um dia, um pastor nosso amigo convidou-nos para um encontro com algumas famílias da sua Igreja, que não nos conheciam. Nós tínhamos levado alguma coisa para partilhar no almoço, mas aquelas famílias deram-nos a entender que não estavam contentes com o encontro. Com delicadeza, Zina ofereceu-lhes algumas especialidades que tinha cozinhado e, por fim, almoçámos todos juntos. Depois do almoço, começaram a apontar alguns defeitos que viam na nossa Igreja. Não querendo entrar numa guerra de palavras, perguntámos: que defeito ou diferença entre as nossas Igrejas nos pode impedir de sermos amigos? Habituados a contínuas disputas, ficaram admirados e desarmados com a pergunta. Começámos depois a falar do Evangelho e daquilo que nos une, que é, com certeza, muito mais do que o que nos divide. Quando chegou a hora de nos despedirmos, não queriam que nos fôssemos embora. Naquele momento propusemos rezar o Pai Nosso. Durante a oração, sentimos forte a presença de Deus. Pediram-nos para voltarmos noutra ocasião pois gostavam que conhecêssemos toda a comunidade. Assim aconteceu ao longo de todos estes anos».