sábado, 1 de julho de 2023


Palavra de Vida

Julho de 2023

Texto preparado por Letizia Magri e pela equipa da Palavra de Vida

«Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa» (Mt 10, 11)

O evangelista Mateus é um cronista cristão muito instruído. Conhece profundamente as promessas do Deus de Israel e, para ele, as palavras e as ações de Jesus são o seu cumprimento. Por isso, no seu evangelho, apresenta o ensinamento de Jesus estruturado em cinco grandes discursos, como um novo Moisés.

Esta Palavra de Vida conclui o “discurso missionário”, que tinha começado com a eleição dos doze apóstolos e a indicação das exigências da pregação: as incompreensões e as perseguições que vão encontrar requerem um testemunho credível, também através de escolhas radicais. 

Mais ainda: Jesus revela que o envio dos discípulos tem a sua raiz na missão que Ele próprio recebeu do Pai. Uma convicção já presente no Antigo Testamento: no mensageiro de Deus é o próprio Deus que se torna presente, que se compromete. É então o próprio amor de Deus, através do testemunho de Jesus e daqueles que Ele envia, que vai chegando gradualmente a todas as pessoas.

«Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa» (Mt 10, 11)

Para além da missão específica de alguns – os apóstolos, os pastores, os profetas, … – Jesus anuncia que cada cristão pode ser seu discípulo, sendo, ao mesmo tempo, destinatário e portador da missão. Como discípulos, também nós estamos habilitados a dar testemunho da proximidade de Deus, apesar de nos sentirmos “pequenos” e sem qualidades ou títulos especiais. É toda a comunidade cristã que é enviada à Humanidade pelo Pai de todos.

Todos nós recebemos atenção, cuidado, perdão, confiança da parte de Deus, através dos irmãos. Todos podemos dar alguma coisa aos outros, para fazer com que experimentem a ternura do Pai, como fez Jesus durante a sua missão. Está nesta raiz, no Pai, a garantia que as assim chamadas “pequenas coisas” podem mudar o mundo. Até só um simples copo de água fresca.

«Não importa se podemos dar muito ou pouco. O importante é “como” o damos, quanto amor colocamos até num pequeno gesto de atenção para com os outros. Por vezes, basta oferecer um copo de água, um copo de água “fresca” […] gesto simples e grande aos olhos de Deus, se for feito em Seu nome, ou seja, por amor. […] A Palavra de Vida deste mês poderá ajudar-nos a redescobrir o valor de cada nossa ação: desde os trabalhos de casa, ou do campo, da oficina, ou o processamento dos documentos no escritório, as tarefas escolares ou as responsabilidades no campo civil, político e religioso. Tudo se pode transformar em serviço atencioso e dedicado. O amor dar-nos-á olhos novos para intuirmos aquilo de que os outros precisam e para ir ao encontro de todos com criatividade e generosidade. Quais serão os frutos? Os bens circularão, porque o amor atrai o amor. A alegria multiplicar-se-á, porque “há mais alegria em dar do que em receber” [Cf. At 20,35]» [C. Lubich, Palavra de Vida de outubro de 2006, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 792-793].

«Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa» (Mt 10, 11)

Aquilo que Jesus nos pede é muito exigente: é não interromper o fluxo do amor de Deus. Pede-nos para chegar a cada pessoa, homem ou mulher, com o coração aberto e com um serviço concreto, ultrapassando as nossas categorias mentais e os nossos juízos.

Ele quer a nossa colaboração ativa, criativa e responsável em favor do bem comum, a partir das pequenas coisas do dia a dia. Ao mesmo tempo, não nos deixará sem recompensa: estará sempre ao nosso lado, para cuidar de nós e para nos acompanhar na missão.

“[…]. Deixei o meu trabalho nas Filipinas e fui para a Austrália para estar com a minha família. […] Encontrei trabalho num estaleiro de construção civil, como responsável pela limpeza dos refeitórios, dos vestiários, dos escritórios e da cafetaria, utilizados por mais de 500 operários. Um trabalho completamente diferente daquele que eu tinha antes, como engenheiro […]. Por amor aos outros, procuro garantir que os refeitórios estejam sempre limpos e bem organizados. No entanto, há sempre pessoas que não têm cuidado com a limpeza […]. Ainda não perdi a paciência, pois, para mim, é uma oportunidade para amar Jesus em cada pessoa que encontro. Aos poucos, aquelas pessoas foram começando a colaborar na limpeza depois do almoço e, com o tempo, fomo-nos tornando amigos. Comecei a sentir confiança e respeito da parte deles […]. Pude experimentar como o amor é contagioso e que tudo aquilo que é feito por amor permanece” [S. Pellegrini, G. Salerno, M. Caporali (org.), Famílias em ação – Um mosaico de vida, Cidade Nova 2022, p. 55-56].