domingo, 19 de dezembro de 2010

REZAR COM OS SALMOS...
Salmo 111 (112)
Sentido Inicial
Este salmo descreve a vida e o modo de agir do homem justo, e a felicidade que daí lhe advém, nos três domínios fundamentais da vida: a posteridade, a riqueza para distribuir pelos pobres, a vitória sobre os inimigos.
Esse homem é fiel a Deus e ama os seus preceitos (1), é generoso (3. 9), usa de misericórdia para com os outros e em tudo procede com justiça (4-5). As bênçãos desta vida enchê-lo-ão de paz: ele e seus filhos serão poderosos (2), terá riquezas (3), viverá em segurança (6-7), será um homem de fé e verá os adversários confundidos (8), e ao partir deste mundo deixará atrás de si memória eterna (6), apesar da inveja e indignação dos ímpios (10).
Sentido actual
A tradição interpretou este salmo como cântico vespertino a Jesus Cristo, 0 Justo segundo o coração de Deus, «que andou de lugar em lugar, fazendo 0 bem» (Act 10, 38), luz nas trevas, misericórdia, compaixão e bondade do Pai, e hino de louvor aos santos que, depois d'Ele, procedem «como filhos da luz, cujo fruto consiste na bondade, na justiça e na verdade» (Ef 5, 8-9).
Rezado na hora em que o sol desaparece, ele evoca a felicidade daqueles que, pela sua comunhão com Cristo, são herdeiros das bênçãos da nova aliança, e lembra a recompensa dos santos e o seu destino glorioso, ideia tradicional do domingo, chamado pelos Padres o oitavo dia, figura da eternidade feliz.
O homem que, pela sua generosidade, imita a generosidade divina, realiza a palavra de Jesus: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5,48). A ele se refere São Paulo, quando escreve: «Cada um dê como dispôs em seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus tem poder para vos cumular de toda a espécie de graça, para que, tendo sempre e em tudo quanto vos é necessário, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género. Como está escrito: "Distribuiu, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre". Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vossa justiça. Assim, sereis enriquecidos em tudo, para exercer toda a espécie de generosidade que suscitará, por nosso intermédio, a acção de graças a Deus» (2 Cor 9, 7-11).
Salmo 111 (112)
1 Feliz o homem que teme o Senhor *
e ama ardentemente os seus preceitos.
2 A sua descendência será poderosa sobre a terra, *
será abençoada a geração dos justos.
3 Haverá em sua casa abundância e riqueza, *
a sua generosidade permanece para sempre.
4 Brilha aos homens rectos, como luz nas trevas, *
o homem misericordioso, compassivo e justo.
5 Ditoso o homem que se compadece e empresta *
e dispõe das suas coisas com justiça.
6 Este jamais será abalado, *
o justo deixará memória eterna.
7 Ele não receia más notícias, *
seu coração está firme, confiado no Senhor.
8 O seu coração é inabalável, nada teme, *
e verá os adversários confundidos.
9 Reparte com largueza pelos pobres, *
a sua generosidade permanece para sempre e pode levantar a cabeça com altivez.
10 Ao vê-lo, o ímpio fica indignado, *
range os dentes e desfalece: os desejos dos ímpios saem frustrados.
Comentário de Santo Agostinho
«A Igreja é, de maneira mais perfeita, o corpo de Cristo. Aquele que é a sua cabeça subiu ao céu. Ele é por excelência a pedra viva, a pedra angular, da qual Pedro disse: Aproximai-vos d'Ele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. Também vós, como pedras vivas, entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.
Aquele que quiser tornar-se uma pedra viva, adaptada a tal edificio, deve compreender espiritualmente como é que o templo se levanta sobre as ruínas do primeiro Adão, e como renasce um povo novo, segundo o homem novo e celeste, já não à imagem do homem terrestre mas d' Aquele que está no céu.
Em Cristo ressuscitado nós podemos, depois das etapas desta vida, após o longo cativeiro do nosso exílio, construir uma morada já não perecível mas solidamente estabelecida, para durar sempre, a Jerusalém espiritual.
Isso faz dizer ao Apóstolo: O templo de Deus é santo, e vós sois esse templo. Entremos, portanto, como uma pedra viva no templo em construção, para escapar a este mundo que cai em ruínas, e fazer parte da cidade santa e definitiva. Então, não apenas a nossa voz mas também a nossa vida cantará o salmo.
O acabamento do edifício será uma paz inefável e a sabedoria que começa pelo temor de Deus. Comece, pois, por este temor, aquele que, pela sua conversão, quer entrar no edifício de Deus: Feliz o homem que teme ao Senhor e ama ardentemente os seus preceitos».
Oração Sálmica
Senhor misericordioso, compassivo e justo, que repartis com largueza pelos pobres, concedi-nos a abundância e a riqueza da vossa casa, para que seja abençoada a geração dos justos e a generosidade do vosso Filho permaneça para sempre. Por Nosso Senhor...
in Saltério Litúrgico,
Secretariado Nacional de Liturgia / G.C. Gráfica de Coimbra Ldª, pgs 715-719

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