segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

REZAR COM OS SALMOS...
Sentido Inicial
Este salmo é mais um dos que cantavam os peregrinos que subiam a Jerusalém. Trata-se de uma acção de graças pela libertação de grandes perigos, impossíveis de identificar, mas provavelmente posteriores ao exílio. Seja como for, podemos continuar a rezá-lo em situações semelhantes.
Começa por um condicional irreal: Se o Senhor não estivesse connosco. O povo de Deus, libertado dum grave perigo, descreve o que lhe teria acontecido se Deus o não tivesse ajudado (1-5). Porém, graças à intervenção do Senhor, o perigo passou, pelo que o salmista dá graças a Deus pela libertação e afirma que só no Senhor está a sua protecção (6-8).
Sentido Actual
Esta é a oração dos pobres de Deus que, ao findar de mais um dia, dão graças pela protecção de que se sentiram objecto. Se o Senhor não estivesse connosco, teríamos sido devorados vivos, as águas ter-nos-iam ajogado. Mas Jesus Cristo foi o nosso companheiro de jornada, e porque Ele bebeu da torrente do sofrimento, a nossa vida escapou como um pássaro, quebrou-se a armadilha e nós ficámos livres. O nosso auxílio vem do Senhor. Bendito seja Deus para sempre.
Podemos imaginar Jesus a pronunciar este condicional irreal: Se o Pai não Me tivesse feito ressuscitar, o túmulo ter-me-ia devorado vivo. Podemos imaginar Paulo a dizer: Se eu não tivesse, por Jesus Cristo, vencido a morte, a torrente teria passado sobre mim.
«Nada temas ... , porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal» (Act 18, 9-10), disse Jesus a Paulo. Ele acreditou e saiu vencedor de todos os perigos: «Cinco vezes fui açoitado, três vezes flagelado, uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar. Viagens a pé sem conta, perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus irmãos de raça, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos da parte dos falsos irmãos! Trabalhos e duras fadigas, muitas noites sem dormir, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez» (2 Cor 11, 24-27). Mas nenhum perigo lhe fez mal. A mão do Senhor protegeu-o. E ele pode dizer com toda a verdade: «Sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10).
Salmo 123 (124)
1 Se o Senhor não estivesse connosco, *
que o diga Israel,
2 se o Senhor não estivesse connosco, *
os homens que se levantaram contra nós
3 ter-nos-iam devorado vivos, *
no furor da sua ira.
4 As águas ter-nos-iam afogado, *
a torrente teria passado sobre nós;
5 sobre nós teriam passado *
as águas impetuosas.
6 Bendito seja o Senhor, *
que não nos abandonou como presa dos seus dentes.
7 A nossa vida escapou como pássaro *
do laço dos caçadores:
quebrou-se a armadilha *
e nós ficámos livres.
8 A nossa protecção está no nome do Senhor, *
que fez o céu e a terra.
Comentário de Santo Agostinho
«Já sabeis, irmãos caríssimos, que um cântico gradual é o cântico da nossa ascensão, não a montanha, mas no fervor do nosso coração. Quer seja um só que o cante, quer seja cantado por vários, não formam mais que um só homem, reunido em Cristo, de quem todos os cristãos são membros. E que cantam eles? Que cantam os membros de Cristo? Eles amam, e o amor faz cantar, o amor eleva. Às vezes cantam na tribulação, outras vezes na alegria, mas sempre com esperança: a nossa provação é na vida presente, a nossa esperança no mundo futuro. A nossa alegria, irmãos, ainda não nasce da posse, mas da esperança. Porém, a nossa esperança é tão segura que já parece realidade perfeita, porque repousa sobre a promessa d' Aquele que é a verdade, que não pode enganar-Se nem enganar. Estamos cheios de alegria ao cantar este salmo: os membros de Cristo cantam-no na alegria. E quem pode exultar aqui na terra, a não ser em esperança, como dissemos? Seja firme a nossa esperança e esfuziante a nossa alegria. Os que cantam não nos são estranhos, e não podemos dizer que não descobrimos no salmo a nossa própria voz. Escutai o salmo, como se vos ouvísseis a vós mesmos; escutai o salmo, como se vos contemplásseis no espelho das Escrituras. Quando olhas para as Escritura como se fossem um espelho, o teu rosto alegra-se. Ao veres que és semelhante, pela alegria da esperança, a certos membros de Cristo que cantaram este salmo, também tu te encontrarás entre eles, e por tua vez o cantarás. Porque cantam eles na alegria? Porque escaparam ao perigo. A esperança fá-los cantar. Alguns membros do nosso corpo podem cantar este salmo com toda a verdade. São os mártires. Já libertados, alegram-se em Cristo».
Oração Sálmica
Senhor Jesus, que predissestes aos vossos discípulos que seriam odiados por causa do vosso nome, mas que nem um só cabelo da sua cabeça se perderia, concedei-nos na provação da vida a protecção do Espírito Santo e a alegria da sua consolação, para que, livres dos laços do caçador, exaltemos para sempre o vosso nome. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Ámen.
in Saltério Litúrgico,
Secretariado Nacional de Liturgia / G.C. Gráfica de Coimbra Ldª, pgs 556-559

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