terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

QUARESMA: 40 dias de Jantar Romântico
Há dias, num programa de televisão, determinada figura pública, questionada sobre as discotecas, respondia que não gostava e não frequentava pois, mesmo que falassem aos gritos não conseguia ouvir, nem fazer-se ouvir. Além do mais, quando tinha coisas importantes para dizer, procurava lugares tranquilos, serenos e silenciosos. Nomeadamente, quando quer dizer à sua esposa que a ama, convida-a para um jantar romântico, pois em ambiente sereno e tranquilo, consegue ouvir e fazer-se ouvir.
Entendi, de imediato, a razão de ser da Quaresma: 40 Dias de Jantar Romântico. Deus quer dizer-nos que nos ama, pois “É Amor” (cf. 1 Jo 4, 8), quer convidar-nos a ser “Seus imitadores” (cf. Filip 3, 17), pois somos criados à sua imagem e semelhança (cfr. Génesis 1, 26 ss), o mesmo é dizer que nos criou com uma capacidade infinita de amar. Porque nos quer dizer isto, chama-nos à serenidade e sobriedade da Quaresma, pois só assim se consegue fazer ouvir. Na correria e na lufa-lufa do dia-a-dia, Ele tenta fazer-se presente e audível, chega mesmo a gritar, mas… não se consegue fazer ouvir, porque andamos distraídos, ocupados, descentrados, dispersos… por isso, nos convida à Quaresma. Convida-nos, ao jejum, à oração e à esmola. Convida-nos a entrar dentro de nós para O encontrar, pois: “«Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, Nós viremos a ele e nele faremos a nossa morada»” (Jo 14, 23).
Para que tal suceda: menos diversão, menos barulho, menos televisão, menos internet, menos café, menos tabaco, menos alimento… mais silêncio, mais oração, mais escuta e meditação da Palavra de Deus, mais generosidade, mais atenção ao próximo, mais perdão… mais encontro com Deus: “Permanecendo simples e amorosamente na Sua presença para que possa reflectir em nós a Sua própria imagem como se reflecte o sol no límpido cristal” (Beata Isabel da Santíssima Trindade).
Para que seja possível escutá-l’O: "É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração" (Os 2, 16), identificá-l’O e encontrá-l’O: “Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequenos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40), é fundamental que, na nossa vida, de discípulos, aconteça este anual Jantar Romântico de 40 dias, que desagua na nascente da Vida Nova, na festa da Vida Nova, na PÁSCOA. Em que poderemos cantar, com a vida, o Hino da alegria de nos encontrarmos mais parecidos com Cristo, que imprime em nós, ao longo deste “Jantar Romântico de 40 dias”, a Sua imagem: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

...passo-a-rezar
É uma imagem de marca lançada pelos Jesuitas no início desta Quaresma. Pretende que todos rezem sem sair do lugar. Pode descarragar-se ouvir no MP3 ou Ipod. Pode simplesmente ligar-se o computador, aceder-se a http://www.passo-a-rezar.net/ e escolher o dia respectivo para rezar ouvindo, ou pode descarregar e ouvir onde quiser. Já está disponível até ao dia 25 de Fevereiro. Aproveite esta oportunidade para rezar e rezar com qualidade nesta Quaresma.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Senhor... esta Quaresma...
Senhor, concedei-me a graça de viver esta Quaresma como se fosse a última da minha vida. Com feliz e generosa radicalidade, sem guardar nada para mim, mas entregando-Vos tudo, entregando-me todo. Que chegado à celebração do Mistério Pascal, aconteça de facto Páscoa na minha vida, que eu esteja mais parecido a Vós, que tenha dado passos de gigante rumo à santidade, que possa dizer de verdade e com a "minha" vida: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20), “… para mim, viver é Cristo…” (Fl 2, 21).
"Escolheu-me" como apoio desta Quaresma, esta oração que brotou do coração da Beata Isabel da Santíssima Trindade:
"Desprendei o meu coração de tudo; que esteja totalmente livre para que nada o impeça de Vos ver. Submetei a minha vontade, abatei o meu orgulho, Vós que sois tão humilde de coração; numa palavra, moldai aquilo que sou para que possa ser a vossa querida morada, para que venhais descansar em mim e a conversar comigo em sublime união. Que o meu pobre coração seja uma coisa só com o vosso coração divino. E para isso, quebrai, arrancai, consumi tudo o que vos desagrada".
Beata Isabel da Santíssima Trindade
(Diário Espiritual [119], de 29 de Março de 1899)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Mensagem Quaresmal do Arcebispo de Évora
Deus ama quem dá com alegria
A dezassete de Fevereiro inicia-se, mais uma vez, a longa caminhada quaresmal de preparação para a solenidade da Páscoa – centro, fonte e auge da vida cristã. A importância única dessa solenidade justifica que a preparação que lhe é dedicada pela Igreja tenha também um carácter mais alongado e abrangente. Na multissecular tradição cristã, a preparação da Páscoa está intimamente associada à preparação próxima dos adultos para o Baptismo, celebrado na noite da Vigília Pascal, e constitui um tempo alongado de purificação espiritual, com recurso aos meios tradicionais da ascese cristã, que podemos resumir a três: oração, mortificação e partilha. Nenhum destes meios se justifica por si mesmo. Eles adquirem significado e valor espiritual na medida em que induzem e possibilitam um processo de conversão interior, em ordem a aproximar cada fiel do modelo de todos - Jesus Cristo.
Alguns, mais imbuídos da mentalidade hedonista, continuada e persistentemente apregoada de muitas formas na nossa sociedade, talvez não encontrem uma justificação plausível para este apelo à conversão que a Igreja todos os anos repete no início da caminhada quaresmal. Mas aqueles e aquelas que acolheram no coração a mensagem evangélica e a tomam como norma de vida, estão cientes da necessidade da conversão e reconhecem na partilha dos dons recebidos da mão de Deus um meio eficaz para a alcançar. Na verdade, a partilha dos bens é uma forma privilegiada de exprimir o amor ao próximo, que é a essência do cristianismo.
A partilha dos bens com os outros é, antes de mais, uma imitação dos gestos gratuitos de Deus para com a humanidade por Ele criada e enriquecida com múltiplos dons naturais e sobrenaturais. As raízes da partilha alimentam-se da religião bíblica que exige a todos o amor dos irmãos e determina formas concretas de o praticar. Como acontece, por exemplo, ao impor que se deixe uma parte das colheitas para os pobres (Dt 24,20), que se pague o dízimo trienal em favor dos que não têm terras (Dt 14,28) e que aos apelos dos pobres se responda com generosidade (Dt 15,20) e com delicadeza (Sir 18,15).
Mas São Paulo, ao escrever aos cristãos de Corinto, vai mais longe. Segundo ele, a esmola não deve ser praticada como simples gesto de filantropia. Pois toda a esmola feita com sentido cristão está carregada de significado religioso e simbolismo eucarístico. Ela é sinal e símbolo da comunhão que deve existir entre os membros da assembleia eucarística. Pode mesmo significar a unidade que existe entre diferentes comunidades cristãs. E foi esse o significado que ele deu à colecta levada a cabo nas comunidades cristãs estabelecidas no ambiente pagão, a favor da comunidade pobre de Jerusalém. A tal colecta São Paulo chegou mesmo a atribuir um carácter sagrado designando-a por ministério e liturgia (2Cor 8,4; 9,12).
Com esse gesto de caridade, São Paulo pretendia eliminar as diferenças e fortalecer os laços de comunhão entre as igrejas da diáspora e a igreja mãe de Jerusalém. É certo que a comunhão é um fruto amadurecido pela graça do Espírito. No entanto, não há fruto sem sementeira. E esta tem que ser feita por cada um de nós. Tal como acontece na agricultura, é preciso semear abundantemente (2Cor 9,6) para que a colheita também venha a ser abundante. Ora foi esse o belo exemplo dos cristãos da Macedónia. O Apóstolo Paulo elogia-os, porque no meio das muitas tribulações com que foram provados, a sua superabundante alegria e extrema pobreza transbordaram em tesouros de generosidade (2Cor 8,2). E foram eles que, com toda a espontaneidade e muita insistência, pediram a graça de participar no serviço em favor dos santos.
A exemplo de São Paulo, este ano também eu peço aos cristãos de todas as comunidades diocesanas, mesmo aos mais pobres, que espontaneamente e segundo as suas possibilidades, cada um ponha de parte o que tiver conseguido poupar (1Cor 16,2) e o entregue na celebração eucarística como gesto de comunhão com as três paróquias novas e pobres que estão a construir a sua igreja paroquial, sem as habituais comparticipações das entidades oficiais. Trata-se das paróquias de Foros do Arrão, Foros de Vale de Figueira e Silveiras. Quanto à promoção da Renúncia Quaresmal, procederemos do mesmo modo que nos anos anteriores. E peço à Caritas Diocesana que organize a distribuição desta mensagem e dos respectivos envelopes por todas as paróquias.
Quanto à recolha do produto da Renúncia, este ano seguiremos um método diferente dos outros anos. Cada pároco, durante o mês de Abril, entregará o produto da Renúncia Quaresmal das suas paróquias ao Vigário da Vara. Este, por sua vez, fará a entrega da soma recolhida na Vigararia à Cúria Diocesana, que dividirá o total em três partes iguais para distribuir pelas paróquias contempladas.
Pela minha parte, seguindo o exemplo de São Paulo, que foi pessoalmente a Jerusalém, acompanhado de alguns dos seus colaboradores, para entregar o produto da colecta, também eu, no dia 30 de Maio, irei pessoalmente, acompanhado por alguns representantes das três Zonas Pastorais da Arquidiocese, entregar a cada uma das três paróquias o resultado da Renúncia Quaresmal deste ano.
Estou certo que as três paróquias contempladas com a nossa generosidade sentirão grande alegria por poderem dar algum avanço às obras da igreja paroquial que há tanto tempo desejam ver concluídas. Certamente, a nossa alegria ao dar será ainda maior do que a delas ao receber. Sejamos generosos e alegres na dádiva, para que o amor de Deus cresça em nós, pois Deus ama quem dá com alegria.
Évora, 25 de Janeiro de 2010 e Festa da Conversão de S. Paulo
+ José, Arcebispo de Évora

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2010
A justiça de Deus
está manifestada
mediante a fé em Jesus Cristo
(cfr Rom 3, 21–22)
Queridos irmãos e irmãs,
Todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida à luz dos ensinamentos evangélicos. Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21–22).
Justiça: “dare cuique suum”
Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra “justiça” que na linguagem comum implica “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”, segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romano do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele “suo” que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais íntimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado à sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais – no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena à morte centenas de milhões de seres humanos por falta de alimentos, de água e de medicamentos -, mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o “suo” que lhe é devido. Mais do que o pão ele de facto precisa de Deus. Nota Santo Agostinho: se “a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu… não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21).
De onde vem a injustiça?
O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativa ao alimento, podemos entrever nas reacções dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem “de fora”, para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua actuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus – é ingénua e míope. A injustiça, fruto do mal, não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista: “Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-se no pecado” (Sl 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha, adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, consequência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, colhendo o fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram à lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição; à lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza. Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?
Justiça e Sedaqah

No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que “levanta do pó o indigente" (Sl 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De facto sedaqah significa, de um lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (cfr Ex 29,12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva (cfr Dt 10,18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei, pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egipto (cfr Ex s,8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre (cfr Ecli 4,4-5.8-9), o estrangeiro (cfr Ex 22,20), o escravo (cfr Dt 15,12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto-suficiência, daquele estado profundo de fecho, que é a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um “êxodo” mais profundo do que aquele que Deus efectuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente para a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?
Cristo, justiça de Deus

O anúncio cristão responde positivamente à sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De facto não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vítima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé” (3,21-25)
Qual é portanto a justiça de Cristo? É antes de mais a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura si mesmo e os outros. O facto de que a “expiação” se verifique no “sangue” de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si “ a maldição” que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a “bênção” que toca a Deus (cfr Gal 3,13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objecção: que justiça existe lá, onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira, cada um não recebe o contrário do que é “seu”? Na realidade, aqui manifesta-se a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidência que o homem não é um ser autárquico, mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto-suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.
Compreende-se então como a fé não é um facto natural, cómodo, óbvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Graças à acção de Cristo, nós podemos entrar na justiça “ maior”, que é a do amor (cfr Rom 13,8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.
Precisamente fortalecido por esta experiência, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor.
Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autêntica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica.
Vaticano, 30 de Outubro de 2009
BENEDICTUS PP. XVI

sábado, 13 de fevereiro de 2010

«Queríamos ver a Jesus» (Jo 12,21). Este pedido, feito ao apóstolo Filipe por alguns gregos que tinham ido em peregrinação a Jerusalém por ocasião da Páscoa, ecoou espiritualmente também aos nossos ouvidos ao longo deste ano jubilar. Como aqueles peregrinos de há dois mil anos os homens do nosso tempo, talvez sem se darem conta, pedem aos crentes de hoje não só que lhes «falem» de Cristo, mas também que de certa forma lh'O façam «ver». E não é porventura a missão da Igreja reflectir a luz de Cristo em cada época da história, e por conseguinte fazer resplandecer o seu rosto também diante das gerações do novo milénio? Mas, o nosso testemunho seria excessivamente pobre, se não fôssemos primeiro contemplativos do seu rosto; …, o olhar permanece mais intensamente fixo no rosto do Senhor”.
João Paulo II, Novo Millennio Ineunte, 16

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

De tuas ardentes e puras chamas,
Espírito Santo,
digna-te abrasar minha alma;
consome-a com divino amor,
Ó Tu que invoco cada dia!...
Espírito de Deus, brilhante luz,
Tu que me cumulas de teus favores,
Tu que me inundas de tuas doçuras,
queima, aniquila-me toda inteira!
Tu que me dás minha vocação,
Oh, conduz-me a essa união Íntima, interior,
a essa vida Toda em Deus,
que é meu desejo.
Que só em Jesus se funda minha esperança,
e que (…), não aspire, não veja senão a Ele,
Ele, meu Amor, meu divino Amigo!
Espírito Santo,
Bondade, Beleza suprema!
Ó Tu que adoro, Ó Tu que amo!
Consome com tuas divinas chamas,
este corpo, este coração, esta alma!
Esta esposa da Trindade
que não deseja senão a Sua vontade!...
Beata Isabel da Santíssima Trindade ocd

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

«Aqueles que são muito activos e que pensam abraçar o mundo com as suas pregações e com as suas obras exteriores recordem-se de que seriam de maior proveito para a Igreja e muito mais aceites por Deus, sem falar do bom exemplo que dariam, se usassem pelo menos metade do tempo para estar com Ele em oração.»
São João da Cruz ocd

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ao Santíssimo Sacramento
Ó divino Jesus,
ó meu dulcíssimo Salvador,
eu Vos ofereço esta hora de adoração,
de amor e reparação,
durante a qual
estarei em união com o Imaculado Coração de Maria.
Desejo de todo o coração
amar-Vos, glorificar-Vos,
e principalmente
consolar o vosso adorável Coração
com o meu amor!
Aceitai por esta intenção,
ó divino Jesus Sacramentado,
os meus pensamentos, palavras, acções, sacrifícios e trabalhos.
Recebei, sobretudo, meu Divino Senhor,
o meu pobre e pequenino coração que Vos dou,
suplicando-Vos que o abraseis no fogo do Vosso Amor!
Ó meu Jesus Sacramentado,
não sou nada na Vossa adorável presença,
mas humildemente Vos peço
que abraseis também as almas
que se associaram a esta oração
a fim de desagravar-Vos nesse Sacramento de Amor.
Também Vos peço, ó Jesus,
por toda a humanidade.
Abrasai-a no fogo do Vosso Amor,
para que um dia possamos ir gozar da Vossa amável companhia
na pátria celestial por toda a eternidade.
Ámen.
(oração composta pela Serva de Deus
madre Virgínia Brites da Paixão,
monja Clarissa madeirense)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Recebamos a luz clara e eterna
Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o mistério do Encontro do Senhor, corramos para Ele com todo o fervor do nosso espírito. Ninguém deixe de participar neste Encontro, ninguém se recuse a levar a sua luz.
Levemos em nossas mãos o brilho das velas, para significar o esplendor divino d’Aquele que Se aproxima e ilumina todas as coisas, dissipando as trevas do mal com a sua luz eterna, e também para manifestar o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao encontro de Cristo.
Assim como a Virgem Mãe de Deus levou ao colo a luz verdadeira e a comunicou àqueles que jaziam nas trevas, assim também nós, iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, devemos acorrer pressurosos ao encontro d’Aquele que é a verdadeira luz.
Na verdade a luz veio ao mundo e, dispersando as trevas que o envolviam, encheu-o de esplendor; visitou-nos do alto o Sol nascente e derramou a sua luz sobre os que se encontravam nas trevas: este é o significado do mistério que hoje celebramos. Caminhemos empunhando as lâmpadas, acorramos trazendo as luzes, não só para indicar que a luz refulge já em nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos há-de vir. Por isso, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus.
Eis que veio a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Todos nós, portanto, irmãos, deixemo-nos iluminar, para que brilhe em nós esta luz verdadeira.
Nenhum fique excluído deste esplendor, nenhum persista em continuar imerso na noite, mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos juntos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara é eterna; associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de acção de graças ao Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.
A salvação de Deus, com efeito, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence a nós, que somos o novo Israel; e nós próprios, graças a Ele, vimos essa salvação e fomos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa, tal como Simeão, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente.
Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que vem de Belém, nos convertemos de pagãos em povo de Deus (Jesus é com efeito a Salvação de Deus Pai) e vemos com os nossos próprios olhos Deus feito carne; e porque vimos a presença de Deus e a recebemos, por assim dizer, nos braços do nosso espírito, nos chamamos novo Israel. Com esta festa celebramos cada ano de novo essa presença, que nunca esquecemos.
Dos Sermões de São Sofrónio, bispo
(Orat. 3 de Hypapante, 6-7: PG 87, 3, 3291-3293) (Sec. VII)
Senhor,
que eu não perca tempo…
Frequentemente, Senhor, e de muitas formas, vindes a mim e perguntais: “«…tu amas-me mais do que estes?»” (Jo 21, 15) e a pergunta repete-se: “«… tu amas-me?»” (Jo 21, 16). Porque me amais, infinitamente, tendes sede do meu amor, “«Tenho sede!»” (Jo 19, 28), quereis ter sede de mim e do meu amor, da minha amizade. Porque quereis precisar do meu amor, não podeis deixar de me perguntar: novamente “«...tu és deveras meu amigo?»” (Jo 21, 17). E só conseguis parar de me questionar, do meu amor por Vós, quando ele for generoso, voluntário, gozoso, exclusivo e total.
Só podereis deixar de me questionar, do meu amor por Vós, quando o meu corpo, a minha carne, a minha inteligência, os meus afectos … a minha vida gritarem: “ para mim, viver é Cristo” (Fl 2, 21). Só então, e no que a mim diz respeito, podereis dizer: “«Tudo está consumado.»” (Jo 19, 30).
Senhor,
que eu não perca tempo...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

PALAVRA DE VIDA
Fevereiro de 2010
Chiara Lubich
«Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem» (Jo 10, 9).
Jesus apresenta-se como aquele que realiza as promessas divinas e as expectativas de um povo, cuja história está profundamente marcada pela aliança, jamais anulada, com o seu Deus.
A ideia da porta faz lembrar e explica-se melhor com outra imagem usada por Jesus: «Eu sou o Caminho, (...) Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim» (cf. Jo 14, 6). Portanto, Ele é realmente um caminho e uma porta aberta para o Pai, para o próprio Deus.
«Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem» (Jo 10, 9).
O que é que significa, concretamente, esta Palavra na nossa vida? Há muitos conceitos que se podem deduzir a partir de outras passagens do Evangelho, relacionadas com o trecho de São João. Mas escolhemos a imagem da «porta estreita». Precisamos de nos esforçar por passar pela «porta estreita» (cf. Mt 7, 13) para entrar na vida.
Porquê esta escolha? Porque nos parece ser aquela que mais nos aproxima da verdade que Jesus diz de Si mesmo e a que melhor nos esclarece sobre o modo de a viver.
Quando é que Jesus se torna a porta totalmente aberta, de par em par, para a Trindade? É precisamente quando a porta do Céu parece fechar-se para Ele. Nesse momento, Ele mesmo torna-se a porta do Céu para todos nós.
Jesus abandonado (cf. Mc 15, 34 e Mt 27, 46) é a porta através da qual se realiza o intercâmbio perfeito entre Deus e a humanidade: tendo-se feito nada, une os filhos ao Pai. É aquele vazio (o vão da porta) que possibilita o encontro do homem com Deus e de Deus com o homem.
Portanto, Ele é, ao mesmo tempo, a porta estreita e a porta totalmente aberta. E nós podemos experimentar isso em nós.
«Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem» (Jo 10, 9).
Jesus no abandono tornou-se, para nós, um acesso ao Pai.
O que dependia d'Ele está feito. Mas, para usufruir dessa graça tão grande, cada um de nós deve também fazer o seu pequeno esforço, que consiste em aproximar-se daquela porta e passar para o outro lado. Como?
Quando formos surpreendidos por uma decepção, ou feridos por um trauma, uma desgraça imprevista ou uma doença absurda, podemos recordar sempre o sofrimento de Jesus, que personificou todas estas provações, e muitas mais. Sim, Ele está presente em tudo aquilo que tem aspecto de sofrimento. Cada sofrimento nosso é um nome de Jesus.
Tentemos, então, reconhecer Jesus em todas as angústias e dificuldades da vida, em todas as trevas, nas tragédias pessoais e dos outros, no sofrimento da humanidade que nos rodeia. É sempre Ele, porque tomou sobre Si tudo isso. Basta dizer-Lhe, com fé: «És tu, Senhor, o meu único bem» (cf. Sl 16 (15), 2). Basta fazer qualquer coisa de concreto para aliviar os "Seus" sofrimentos nos pobres e nos infelizes, para atravessarmos aquela porta, e encontrarmos, do outro lado, uma alegria nunca antes experimentada, uma nova plenitude de vida.
Este comentário, publicado por completo, encontra-se em
Città Nuova, 25.3.1999, nº 6, p. 47.