sexta-feira, 2 de maio de 2008

Palavra de Vida
Maio de 2008
Chiara Lubich
«Onde está o Espírito do Senhor,
aí está a liberdade»
(2 Cor 3, 17)
Apóstolo Paulo escreveu aos cristãos da cidade de Corinto, por quem tinha uma predilecção especial. Tinha vivido com eles durante quase dois anos, entre o ano 50 e o ano 52. Tinha semeado ali a Palavra de Deus, lançando os alicerces da comunidade cristã, até a gerar como um pai (cf. 1ª Cor 3, 6.10; 4, 15).
Poucos anos mais tarde, quando lá voltou, alguns deles desacreditaram publicamente a sua autoridade de Apóstolo (cf. 2ª Cor 2, 5-11; 7, 12). Foi um motivo para reafirmar a grandeza do seu ministério. Ele anunciava o Evangelho não por iniciativa própria, mas porque era movido por Deus. A Palavra de Deus, para ele, já não tinha nada de oculto, porque o Espírito Santo tinha-lha feito compreender à luz daquilo que tinha acontecido em Cristo Jesus. Por isso, podia vivê-la e anunciá-la com plena liberdade. Ela permitia-lhe entrar em comunhão com o Senhor, ser transformado n’Ele e até ser guiado pelo seu próprio Espírito de liberdade.
«Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade».
É Jesus Ressuscitado, o Senhor, quem continua ainda hoje, como nos tempos de Paulo, a agir na História, e em particular na comunidade cristã, através do seu Espírito. A nós, concedeu-nos a graça de compreender o Evangelho em toda a sua novidade e continua a escrevê-lo nos nossos corações para que se torne a lei da nossa vida.
Nós não somos orientados por leis que nos sejam impostas de fora, não somos escravos condicionados por regulamentos com que não concordemos ou de que não estejamos convencidos. O cristão é movido por um princípio de vida interior que o Espírito Santo colocou nele através do baptismo. É movido pela Sua voz, que repete as palavras de Jesus, fazendo-as compreender em toda a sua beleza. São expressão de vida e de alegria: o Espírito Santo torna-as actuais, ensina-nos como as podemos viver e, ao mesmo tempo, infunde em nós a força para as podermos pôr em prática. É o próprio Senhor que, graças ao Espírito Santo, vem viver e agir em nós, tornando-nos Evangelho vivo.
Sermos guiados pelo Senhor, pelo Seu Espírito, pela Sua Palavra: esta é a verdadeira liberdade! Coincide com a realização mais profunda do nosso eu.
«Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade».
Mas sabemos que, para que o Espírito Santo possa agir, é necessária uma total disponibilidade para O ouvir – estarmos prontos a mudar a nossa mentalidade, se for preciso – e, depois, aderir plenamente à Sua voz. É fácil deixarmo-nos escravizar pelas pressões exercidas pelos costumes e pelo consenso social, e sermos levados a fazer escolhas erradas.
Para viver a Palavra de Vida deste mês é preciso aprender a dizer um “não” decidido ao negativo, que nos vem do coração todas as vezes que somos tentados a ficar instalados em atitudes que não são segundo o Evangelho. Temos que aprender a dizer um “sim” convicto a Deus, sempre que percebermos que Ele nos chama a viver na verdade e no amor.
Descobriremos a ligação entre a cruz e o Espírito, como entre causa e efeito. Todo o corte, toda a poda, todo o não ao nosso egoísmo é uma fonte de luz nova, de paz, de alegria, de amor, de liberdade interior, de realização de nós mesmos. É uma porta aberta ao Espírito. Neste tempo de Pentecostes, Ele poderá derramar sobre nós, com maior abundância, os Seus dons. Poderá guiar-nos. Seremos reconhecidos como verdadeiros filhos de Deus.
Seremos cada vez mais livres do mal, cada vez mais livres para amar.
«Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade».
Foi essa liberdade que encontrou um funcionário das Nações Unidas, durante o seu último mandato num dos países dos Balcãs. A missão que lhe tinha sido confiada representava um trabalho gratificante, embora de extrema responsabilidade. Uma grande dificuldade eram os prolongados momentos longe da família. Mesmo quando voltava a casa não era fácil deixar “fora da porta” o fardo do trabalho em que estava envolvido, para se dedicar de alma e coração aos filhos e à esposa.
De repente, foi transferido para outra cidade, sempre na mesma região. Seria impensável levar consigo a família porque, apesar dos acordos de paz assinados há pouco, as hostilidades continuavam. O que fazer? O que é que valia mais, a carrreira ou a família? Sobre este assunto falou longamente com a esposa, com quem partilha, há um certo tempo, uma intensa vida cristã. Pedem a luz ao Espírito Santo e, juntos, procuram a vontade de Deus para toda a família. Por fim, a decisão: era melhor deixar aquele trabalho que iria até ser bem remunerado. Foi uma decisão realmente rara naquele ambiente profissional. «A força para fazer esta escolha – conta ele mesmo – foi fruto do amor recíproco com a minha esposa, que nunca me fez pesar os incómodos que o meu trabalho lhe trazia. Aquilo que eu fiz foi procurar o bem da família, para lá da segurança económica e da carreira, e encontrei a liberdade interior».

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