terça-feira, 13 de outubro de 2009

A única riqueza
do Sacerdote

A iniciativa do Papa é, sem dúvida, sugerida pela difícil situação que o padre vive hoje em si mesmo, na Igreja e na sociedade. E isto apesar das preciosas indicações do Vaticano II e de tudo o que se lhe seguiu. Porquê? É caso para se perguntar.
A resposta não é imediata nem simples. É todo o povo de Deus, na riqueza e variedade das suas vocações e das suas tarefas, que paga os custos do fim de um modelo de Igreja, pensado para uma determinada situação histórica, que já fez o seu tempo. O Evangelho - é verdade - é sempre novo e sempre contemporâneo em relação a cada momento da História. Mas, precisamente por isso, na fidelidade ao seu inalterável ADN e aos preciosos ganhos da Tradição, é necessário abrirmo-nos desarmados, aqui e além, ao sopro do Espírito para compreender onde ir e como fazer.
Isto - repito - vale, em primeiro lugar, para todo a povo de Deus, de quem os sacerdotes são uma expressão qualificada, como o são os outros carismas e ministérios na Igreja. E talvez seja este o ponto - espiritual, teológico, pastoral - a realçar este ano. À luz da autêntica e ainda actualíssima mensagem do Vaticano II e, ao mesmo tempo, sabendo ler e frutificar para a vida de toda a Igreja as injecções de luz e de energia vital que, certamente, não faltaram, nestas últimas décadas, na sua experiência.
A questão, bem vistas as coisas, não é aquela - perdida à partida - de querer conter ou amenizar uma crise que, de facto, está à vista de todos e requer algo de profundo. Mas, sobretudo, a de pedir ao Evangelho - que fala na Igreja e ao mundo pelo sopro do Espírito - o que devemos fazer ou, ainda melhor, o que devemos ser para acolher e testemunhar o dom de Deus.
Ao declarar um "Ano Sacerdotal", Bento XVI disse claramente que «Deus é a única riqueza que, de facto, os homens desejam encontrar num sacerdote». Isto acontece - hoje - quando o padre se torna testemunha credível da presença de Deus na História, que é Jesus vivo e operante entre «dois ou mais unidos no Seu nome». Aí está a Igreja. É a expressão eficaz de todo o povo de Deus em comunhão com o Papa, os bispos, os múltiplos carismas do Espírito e os inumeráveis caminhos de serviço ao Homem na vida de todos os dias e nos ambientes mais variados da vida social.
Só se for vivido "em relação": no presbitério juntamente com o bispo, com as outras vocações na comunhão da Igreja, na capacidade de diálogo com todos - e nunca fechado em si mesmo ou a pensar de modo egocentrista - é que o indispensável e fascinante serviço do padre pode voltar a florir e a fazer história, libertando o melhor da sua especificidade: guiar com respeito e em espírito de serviço para as nascentes inexauríveis do amor de Deus que Jesus nos oferece com generosidade. Como, em boa verdade, já acontece de muitas formas e em muitas situações, embora de um modo um pouco discreto.
Piero Coda (Teólogo Italiano)
in «Cidade Nova», ano XIX, Outubro de 2009, pg. 13

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