Nas tentações o que está em jogo é a fé, porque está em jogo Deus
"...Quaresma,
tempo de conversão e penitência em preparação para a Páscoa. A Igreja,
que é mãe e mestra, chama todos os seus membros a renovar-se no espírito, a reorientar-se decididamente para Deus,
renegando o orgulho e o egoísmo para viver no amor. Neste Ano da Fé a
Quaresma é um tempo propício para redescobrir a fé em Deus como
critério-base da nossa vida e da vida da Igreja. Isso comporta sempre uma luta, um combate espiritual, porque o espírito do mal naturalmente se opõe à nossa santificação e busca fazer-nos desviar do caminho de Deus. Por isso, no primeiro domingo da Quaresma, todos os anos é proclamado o Evangelho das tentações de Jesus no deserto.
... Ao
iniciar o seu ministério público, Jesus teve que desmascarar e repelir
as falsas imagens de Messias que o tentador lhe propunha. Mas essas
tentações são também falsas imagens do homem, ... O núcleo central
consiste em instrumentalizar Deus para os próprios interesses, dando mais importância ao sucesso ou aos bens materiais. O tentador é astuto: não impele diretamente em direção ao mal, mas a um falso bem, fazendo crer que as verdadeiras realidades são o poder e aquilo satisfaz as necessidades primárias. Dessa forma, Deus torna-se secundário, reduz-se a um meio, torna-se definitivamente irreal, não importa mais, desvanece. Em última análise, nas tentações o que está em jogo é a fé, porque está em jogo Deus.
Nos momentos decisivos da vida, mas, vendo bem, a qualquer momento,
estamos numa encruzilhada: queremos seguir o eu ou Deus? O interesse
individual ou o que realmente é bem?
Como
nos ensinam os Padres da Igreja, as tentações fazem parte da "descida"
de Jesus à nossa condição humana, ao abismo do pecado e das suas
consequências. Uma "descida" que Jesus percorreu até o fim, até a morte
de cruz, até os infernos do extremo distanciamento de Deus. Desse modo, Ele é a mão que Deus estendeu ao homem, à ovelha perdida, para reconduzi-la a salvo.
Como ensina Santo Agostinho, Jesus tirou de nós a tentação, para nos
dar a vitória (cf. Enarr Psalmos em, 60,3:. PL 36, 724). Portanto, também nós não tememos enfrentar o combate contra o espírito do mal: o importante é que o façamos com Ele, com Cristo, o Vencedor.
E para estar com Ele voltemo-nos para a Mãe, Maria: Invoquemos com
confiança filial na hora da provação, e ela nos fará sentir a potente
presença de seu Filho divino, para repelir as tentações com a Palavra de
Cristo, e assim recolocar Deus no centro da nossa vida."
Bento XVI, Angelus de 17 de Fevereiro de 2013
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