domingo, 22 de novembro de 2009

Ser feliz...
Ser padre é ser feliz.
Com toda a certeza, e sem espaço para qualquer dúvida, se me perguntam o que é ser padre, só posso responder: É ser feliz.
"O meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo" (Sl. 84 [83], 3).
Afirmo-o sem ilusões poéticas e plenamente consciente de que a vida não é fácil... a vida dos sacerdotes não é fácil. Mesmo assim e também na dureza da vida, ser padre é ser feliz... é que "eu sei a fonte que mana e corre embora seja noite..." (cf. São João da Cruz), "sei em quem pus a minha confiança" (2Tm 1, 12) até porque "se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 9, 31).
De verdade e do fundo do coração, ser feliz... é o que posso e tenho que partilhar...
O Bom Deus, até mesmo quando a homilia me não correu bem, quando sou justa ou injustamente criticado, quando me confronto com as minhas debilidades e não sou suficientemente generoso e paciente, quando fisicamente estou cansado e o meu espírito pleno de preocupações, de projecto, de questões mais simples ou complicadas de resolver: "exulto de alegria em Deus meu salvador" (cf. Lc 1, 47).
É tão frequente, muito frequente mesmo, sobretudo ao Domingo, depois de um dia pleno a sustentar na fé, os meus irmãos... depois de um dia cheio a partir-lhes a Palavra e a distribuir-lhes o Pão... a ser o instrumento de que Deus se serve para os restaurar, para lhes devolver a esperança...
Que festa..., que alegria Senhor, o coração não me cabe no peito, tal é a alegria que me concedeis. Quem vê o padre, no "seu" carro, de regresso a casa e se apercebe que canta, só pode pensar:
"Está tonto, coitado". E tem razão, tonto de alegria e com o coração em festa, pois não lhe faltais, Senhor. Tonto, por só na fé conseguir entender que, apesar dos seus pecados o compensais tão abundantemente pelos suas insignificantes e tropegas "generosidades".
Ser feliz... a isso me chamais.
Com uma felicidade indizível me preencheis.

"A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador..." (Lc 1, 46-47).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Vós sois o meu alento, o ar que respiro e o pão que como.
Que quereis de mim Senhor?
Quereis que Vos ame mais?...
E como Senhor?... se o meu coração é tão pequeno, tão ruim e tão miserável; fazei-mo grande e generoso, que eu seja todo coração para ser todo Vosso e amar-Vos, amar-Vos muito, como ninguém vos amou. Senhor meu e Deus meu, Vós o podeis fazer se quiserdes, e eu nada posso se Vós não me ajudais.
Acalmai-me a ansia que sinto pois assim não posso viver.
A minha alma está cheia e transborda.
Haveis posto tanto amor numa alma tão pequena Senhor e tão miserável!
Se Tu Senhor fazes a ferida, por caridade põe o cautério, mas não me deixeis neste estado, pois não poderei resistir.
São Rafael Arnáiz Barón ocso
(tradução do Espanhol ao Português da responsabilidade do autor deste blog)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Vosso servo é humano...
Tantas vezes, Senhor,
vezes demais,
o coração do Vosso servo sofre e chora...
pois tanto lhe tendes dado
e ele, tão pouco Vos tem retribuído.
Cumulaste-o com a Vossa graça
e ele não Vos é fiel...
por isso sofre e chora.
Queria ser parecido a Vós,
queria que olhando para ele
Vos vissem a Vós...
até porque a isso o chamais,
essa é a sua vocação,
"in persona Christi".
Mas, como sabeis, Senhor,
o Vosso servo é humano...
"não faz o bem que quer e faz o mal que não quer".
Mesmo se o chamais a tocar-Vos e distribuir-Vos
ele é humano...
E como é humano!... limitado!... frágil!...
Não fora a Vossa graça, Senhor!...
É por Vós, Senhor.
Só por Vós.
Como sabeis, Senhor,
o Vosso servo é humano...
ajudai-o para que não caia
e se teimar em cair,
suavizai-lhe a queda
e estendei-lhe a mão
para que se levante e Vos siga.
E Vos siga...
como prometeu um dia...
como promete todos os dias...
como Vos promete agora.
E seguindo-Vos se torne parecido a Vós
e possa dizer:
"Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Hoje, com uma das minhas comunidades paroquiais, fizemos Adoração ao Santíssimo Sacramento.
Partilho os textos do P. Raniero Cantalamessa, de que nos servimos para Adorar, Contemplar, Amar "O Deus Santo, o Deus Forte o Deus Imortal".
A contemplação Eucarística “Configura”
A contemplação eucarística nem é estéril nem inactiva. O homem reflecte em si, por vezes mesmo fisicamente, aquilo que contempla. Não podemos estar muito tempo expostos ao sol, que os sinais aparecem logo no rosto. Permanecendo por largo tempo e com fé, não necessariamente com fervor sensível, perante o Santíssimo Sacramento, nós assimilamos os pensamentos e os sentimentos de Cristo, não por via discursiva mas intuitiva; Por outras palavras, é o que diz o apóstolo São Paulo: «Nós que, com a face descoberta, reflectimos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem, cada vez mais resplandecente pela acção do Senhor, que é Espírito» (2Cor 3, 18). É também verdadeira, mesmo em sentido cristão, a intuição do filósofo Plotino: «Cada ser é aquilo que contempla».
Raniero Cantalamessa, “Isto é o meu Corpo - A Eucaristia à luz do Adoro te devote e do Ave verum”, Paulus Editora, Lisboa, 2006, pgs. 26-27.
A contemplação Eucarística “Cura”
A contemplação eucarística tem também um extraordinário poder de cura. No deserto, Deus ordenou a Moisés que levantasse sobre um poste uma serpente de bronze, e aqueles que eram mordidos pelas serpentes venenosas, se olhavam para a serpente, eram curados (Cfr. Nm 21,4-9). Jesus aplicou a Si mesmo o símbolo misterioso da serpente de bronze (Jo 3,14). O que então devemos fazer quando formos atingidos pelas mordeduras do orgulho, da sensualidade e de todas as outras doenças da alma não é perder-se em considerações vãs ou em procurar desculpas, mas correr para a presença do Santíssimo, olhar para a Hóstia consagrada e fazer com que a cura passe por onde passou o pecado: os nossos olhos.
Raniero Cantalamessa, “Isto é o meu Corpo - A Eucaristia à luz do Adoro te devote e do Ave verum”, Paulus Editora, Lisboa, 2006, pg. 27.
A contemplação Eucarística “é Amor”
«Tu amas-me?» (Jo 21,15-17). «Ao interrogar Pedro - escreve Santo Agostinho - Cristo interrogava cada um de nós». Se acreditamos que o Jesus que recebemos é o Jesus ressuscitado, vivo, realmente presente como estava diante de Pilatos, não será difícil reviver intensamente esse momento e dizermos também nós com a humildade do apóstolo: «Senhor, Tu conheces tudo e sabes que Te amo».
Raniero Cantalamessa, “Isto é o meu Corpo - A Eucaristia à luz do Adoro te devote e do Ave verum”, Paulus Editora, Lisboa, 2006, pg. 78.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Como se fosse a última...
Sim, Jesus,
faz-me falar sempre
como se fosse a última palavra que digo,
faz-me agir sempre
como se fosse a última acção que faço,
faz-me sofrer sempre
como se fosse o último sofrimento
que tenho para Te oferecer,
faz-me rezar sempre
como se fosse a última possibilidade
que tenho, aqui na terra,
de falar Contigo.
Chiara Lubich

domingo, 1 de novembro de 2009

PALAVRA DE VIDA
Novembro de 2009
Chiara Lubich
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu» [Mt 19, 24].
(…)
Faz-nos impressão ouvir esta frase? Penso que temos razão em ficar admirados e talvez em pensar naquilo que deveríamos fazer. Jesus nunca disse nada só por dizer. Por isso, é preciso levarmos estas palavras a sério, sem pretender diluí-las.
Mas procuremos compreender o seu verdadeiro sentido a partir do próprio Jesus, pelo modo como Ele se comportava com os ricos. Ele visitava também pessoas abastadas. A Zaqueu, que deu só metade dos seus bens, Jesus disse: a salvação entrou nesta casa.
Além disso, os Actos dos Apóstolos testemunham que, na Igreja primitiva, a comunhão dos bens era livre e, portanto, não se exigia a renúncia concreta a tudo o que se possuía.
Jesus não tinha, pois, a intenção de fundar apenas uma comunidade de pessoas chamadas a segui-Lo (…), que deixassem de lado todas as riquezas. No entanto, diz:
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu» [Mt 19, 24].
Então o que é que Jesus condena? Não condena, com certeza, os bens da Terra em si, mas sim o rico que está apegado aos bens.
E porquê?
É claro: porque tudo pertence a Deus! E o rico, pelo contrário, comporta-se como se as riquezas fossem suas.
A verdade é que as riquezas ocupam, facilmente, o lugar de Deus no coração humano. Elas cegam e predispõem a pessoa para todos os vícios. Paulo, o Apóstolo, escreveu: «Os que querem enriquecer caem na tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que precipitam os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições» (1 Tm 6, 9-10; 3).
Já Platão tinha afirmado: «É impossível que um homem extraordinariamente bom seja ao mesmo tempo extraordinariamente rico».
Qual deve ser, então, a atitude de quem possuir bens? É preciso que tenha o coração livre, totalmente aberto a Deus, que se sinta unicamente administrador dos seus bens e saiba, como disse João Paulo II, que sobre eles paira uma hipoteca social.
Os bens desta Terra, não sendo um mal em si, não devem ser desprezados. Mas é preciso usál-os bem. Não são as mãos, mas sim o coração é que deve estar longe deles. Trata-se de os saber utilizar para o bem dos outros. Quem for rico, seja-o para os outros.
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu» [Mt 19, 24].
Mas cada um pode dizer: eu, realmente, não sou nada rico e, por isso, estas palavras não me dizem respeito.
Prestem atenção. A pergunta que os discípulos, estupefactos, fizeram a Cristo, logo a seguir a esta Sua afirmação, foi: «Então, quem pode salvar-se?» (Mt 19, 25). Ela mostra claramente que estas palavras se dirigiam um pouco a todos.
Mesmo os que deixaram tudo para seguir Cristo podem ter o coração apegado a mil e uma coisas. Até um pobre, que blasfema porque lhe tocaram na sacola, pode ser um rico diante de Deus.
(…)
Palavra de Vida, Julho de 1979, publicada integralmente em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. II, Città Nuova, Roma 1982, pp. 41-43