quarta-feira, 1 de julho de 2009

PALAVRA DE VIDA
Julho de 2009
Chiara Lubich
«Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói» (Lc 12, 33)
Se és jovem e anseias por uma vida ideal, realizada, radical, ouve Jesus. Ninguém no mundo te pede tanto. Tens a oportunidade de demonstrar a tua fé e a tua generosidade, o teu heroísmo.
Se és adulto e queres uma existência séria, empenhada, mas segura; ou, se já tens uma certa idade e desejas viver os teus últimos anos abandonado em Quem não engana, sem preocupações que te consumam, esta Palavra de Jesus é valida para todos.
De facto, ela conclui uma série de exortações com que Jesus nos convida a não nos preocuparmos com aquilo que havemos de comer ou vestir, exactamente como fazem os passarinhos, que não semeiam, e os lírios do campo, que não fiam. Por isso, devemos excluir do coração toda a ansiedade pelas coisas da Terra, porque o Pai ama-nos mais do que aos passarinhos e às flores, e Ele próprio pensa em cada um de nós.
Por isso nos diz:
«Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói» (Lc 12, 33)
O Evangelho, no seu conjunto em cada uma das suas palavras, exige realmente tudo o que as pessoas são e possuem. Deus não pedia tanto, antes da vinda de Cristo. O Antigo Testamento considerava a riqueza terrena como um bem, uma bênção de Deus. E, se pedia que se desse esmola aos necessitados, era para se obter benevolência do Omnipotente.
Mais tarde, o pensamento da recompensa no Além tornou-se mais comum no judaísmo. Um rei respondeu a alguém que o criticava por esbanjar os seus bens: «Os meus antepassados acumularam tesouros aqui na Terra. Eu, pelo contrário, acumularei tesouros lá no Céu». (…)
Ora, a originalidade da palavra de Jesus está no facto de que Ele nos pede uma doação total, pede-nos tudo. Quer que sejamos filhos despreocupados, que não andemos atarefados com as coisas do mundo, filhos que dependam simplesmente d'Ele. Ele sabe que a riqueza é um enorme obstáculo para nós, porque ocupa o nosso coração. E Deus quer que Lhe deixemos todo o espaço para Ele.
Por isso recomenda:
«Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói» (Lc 12, 33)
Se não pudermos desfazer-nos dos bens materialmente, porque estamos ligados a outras pessoas, ou porque a posição que ocupamos nos obriga a uma situação digna e adequada, temos que nos desapegar dos bens espiritualmente e agir, em relação a eles, como simples administradores. Assim, se enquanto lidarmos com a riqueza amarmos os outros, administrando-a para eles, preparamos para nós um tesouro que a traça não rói e o ladrão não leva consigo.
Mas será que devemos mesmo conservar tudo o que possuímos?
Escutemos a voz de Deus dentro de nós. É bom pedir um conselho se não conseguirmos decidir. Vamos encontrar uma quantidade de coisas supérfluas no meio das coisas que temos. Não fiquemos com elas. Temos que as dar. Dar a quem não tem. Assim pomos em prática a palavra de Jesus: «Vende... e dá». Deste modo vamos encher bolsas que não envelhecem.
Evidentemente que, para viver no mundo, é necessário interessar-se por dinheiro e pelas coisas. Mas Deus quer que nos ocupemos, e não que nos preocupemos. Conservemos apenas aquele mínimo que é indispensável para viver segundo o nosso estado, segundo a nossa condição. Quanto ao resto:
«Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói» (Lc 12, 33)
Paulo VI era realmente pobre. Testemunha-o o modo como quis ser sepultado: num pobre caixão, na terra. Pouco antes de morrer, tinha dito ao seu irmão: «Já há algum tempo que fiz as malas para aquela importante viagem».
É isto o que devemos fazer: fazer as malas.
No tempo de Jesus chamavam-se bolsas. Façamo-las dia após dia. Enchamo-las o mais que pudermos com aquilo que pode ser útil aos outros. Havemos de ter unicamente aquilo que dermos. Se pensarmos em toda a fome que há no mundo... Quanto sofrimento... Quantas necessidades...
Podemos pôr lá dentro, também, todos os actos de amor, todas as obras em favor dos irmãos.
Façamos estas acções por Ele. Digamos-Lhe, no nosso coração: para Ti. E executemo-las bem, com perfeição. Destinam-se ao Céu: permanecerão eternamente.
Palavra de Vida, Março de 1979, publicada integralmente em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. I, Città Nuova, Roma, 1980, pp. 189-191.

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