sexta-feira, 17 de julho de 2009

Emilio Cervelló:
dos palcos da dança contemporânea
à cela da Cartuxa


Sugiro que, como introdução, vejas alguns segundos deste vídeo (por exemplo, a partir do 1'40'' - o Emilio é o bailarino mais à esquerda).



Agora pergunto espantado: como é que alguém deixa o bailado contemporâneo para entrar para um mosteiro de contemplação?
O Emilio acabou de fazer isso. Lembro-me de o ver antes de saber quem era. Aparecia na missa de Domingo do CUPAV. Distinguia-se pelas roupas negras, por uma postura muito circunspecta, a denotar uma concentração fora do comum. Também o vi uma vez no Teatro Camões, a assistir a um espectáculo de dança contemporânea. Reparei nele porque tenho boa memória visual e lembrava-me dele, da missa. Pelo físico trabalhado e pelos amigos que o rodeavam percebia-se que pertencia àquele meio. Na terceira vez que o encontrei liguei estas memórias.
O Miguel chegou com ele ao lado e apresentou-mo: “este é o Emílio…” e acrescentou “e daqui a uns dias vai entrar para a Cartuxa de Valência”. “Hum?! Cartuxa?!?”. Não sei que cara fiz mas fiquei paralisado. Emudecido. O que é que se pode dizer com uma notícia assim? Saber de um jovem que opta por uma vida toda dedicada à solidão e ao silêncio é como levar com um soco no estômago.
Passados uns dias, com a notícia mais digerida, decidi contactá-lo. Gentilmente acedeu ao meu pedido de entrevista. Almoçámos arroz à valenciana no terraço das “freiras”, na Baixa, e seguimos para a sua casa partilhada, perto de Santa Apolónia. Falámos no seu quarto/oratório. De um lado, um sofá-cama. Do outro, uma bola de Pilates. Na parede lateral, um belo mapa com a localização das Cartuxas na Europa. Por detrás dele, Nossa Senhora de Guadalupe.
Desde a passada quarta-feira, dia 8 de Abril de 2009, o Emílio está a viver numa cela da Cartuxa de Valência. Pude ver qual, por uma fotografia que ele me mostrou. Se Deus quiser aí estará também daqui a cinquenta (ou sessenta ou setenta) anos. A despedida dele, “até sempre” - não sei bem explicar porquê - deixou-me gelado. Deve ser por eu próprio não me sentir capaz de dar um passo assim.



1-Como surgiu a paixão pela dança?
2-Como entra Deus na tua vida?
3-Dança e oração têm alguma relação?
4-Como descobriste a Cartuxa?
5-Como vai ser a tua vida a partir de agora?
6-Como é a perspectiva de a tua vida ser isso nos próximos 50 anos?
Fonte: Blog "Para além do olhar"

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