sexta-feira, 3 de julho de 2009

ANO SACERDOTAL
Carta da Beata Isabel da Santíssima Trindade
a um neo-sacerdote
Ao Abade Chevignard
[Inicio de Junho de 1905]
J.M.+J.T.
«Si scries donum Dei»
(“Se tu soubesses o dom de Deus” Jo 4, 10)
Senhor Abade,
O Santo Deus, que «realiza todas as coisas segundo o conselho da sua vontade» (Ef 1, 11), quis o encontro das nossas almas, como mo dizeis, para assim receber mais amor, adoração e louvores. Devemos, pois ajudar-nos pela oração, e não posso dizer-vos que forte emoção me impulsiona para vós, quando vos preparais para a primeira Missa. De facto, encontro-me em retiro, «oculta em Deus com o Cristo» (Col 3, 3), e peço Àquele que Santa Catarina de Sena chamava a sua «doce Verdade» para realizar na vossa alma este desejo que Ele exprimia ao Pai na suprema oração: «Santificai-os na verdade (cf. Jo 17, 17)... Vossa palavra é verdade...» (cf. Jo 17, 19).
São Paulo, na Epistola aos Romanos, diz que «aqueles que Ele conheceu na sua presciência, Deus os predestinou para serem conformes à imagem do seu Filho» (Rm 8, 29). Parece-me que é justamente de vós que aqui se trata: não sois este predestinado que o Eterno elegeu para ser o sacerdote dele [?]; e creio que na actividade de amor o Pai debruça-se sobre a vossa alma e que a afeiçoa com divina mão e seu delicado toque, para que a semelhança com o Ideal divino vá sempre crescendo, até ao grande dia em que a Igreja vos disser: «Tu és sacerdos in aeternum - Tu és sacerdote para sempre» (Hb 5,6; 7, 17; Sl 110[109], 4). Então, em nós tudo há-de ser, por assim dizer, uma cópia de Jesus Cristo, o Pontífice supremo, e haveis de poder reproduzi-lo sem cessar perante o Pai e perante as almas. Que grandeza! É a «virtude culminante de Deus» (Ef 1, 19) que se verte no vosso ser para o transformar e divinizar. Quanto recolhimento, que amorosa atenção a Deus, reclama esta obra sublime! São João da Cruz diz «que a alma se deve manter no silêncio e na solidão absoluta, para que o Altíssimo possa realizar os seus desejos nela; Ele então leva-a, por assim dizer, como uma mãe que toma o filho nos braços e, encarregando-se Ele próprio da sua orientação íntima, reina nela pela abundância da tranquilidade e da paz que derrama».
Felicito-vos por terdes Nossa Senhora do Bom Conselho como timbre; realmente parece-me que é a Virgem sacerdotal que o padre deve invocar e sempre olhar. Que ela vos obtenha esta «ciência da luz de Deus derramada na face do Cristo» (2ª Cor 4, 6) de que fala o Apóstolo. Vamos implorar-lho junto a ela no silêncio da oração.
A-Deus, senhor Abade, que Ele nos torne
verdadeiros pela sua verdade, a fim de que desde já, daqui da terra, sejamos a «louvor da sua glória» (Ef 1, 12).
Ir. Maria Isabel da Trindade, r.c.i.
ISABEL DA TRINDADE, "Escritos Espirituais",
Edições Carmelo, Oeiras, 1989, pgs. 232/233

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