quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fábula do belo cacho de uvas…
(alegoria sobre a vida consagrada)
“«Nada temas, porque Eu te res­gatei,
e te chamei pelo teu nome;
tu és meu.»
(Is. 43, 1)
Época das vindimas. As vinhas estão carregadas de belos e atractivos cachos de uvas… o Bondoso Vindimador, munido da sua tesoura de poda, prepara-se para colher um belo cacho de uvas. Grande, cheio de belas e luzidias uvas, todas sadias, no auge da sua frescura … mesmo no ponto.
Ao ver que se aproxima a tesoura, o belo cacho lamenta-se e recusa-se a ser colhido:
- Ó Bondoso Vindimador, porque queres separar-me da minha cepa?! Não o faças, foi ela que me deu a vida, alimentou, fez crescer e tornou neste belo e apetitoso cacho… não me colhas.
O Bondoso Vindimador responde:
- Não devo satisfazer a tua vontade, belo cacho de uvas, tenho planos muito bons para ti… vais encher de alegria o coração dos Homens. Se te deixo ficar na cepa, com o tempo vais perder a beleza, o frescor e acabarás por secar, sem ter sido útil a ninguém. É isso que queres?
- Não, Bondoso Vindimador – responde o belo cacho de uvas – podes separar-me da minha cepa, pois quero ser útil e dar alegria ao coração dos Homens.
E o Bondoso Vindimador colheu o belo cacho de uvas que entregou ao Experiente Adegueiro.
Chegando à adega, o Experiente Adegueiro, lança o belo cacho de uvas no tegão e prepara-se para o pisar, a fim de lhe extrair o aromático e precioso sumo.
Vendo aproximar-se os pés nus do Experiente Adegueiro, prontos a pisá-lo, o belo cacho de uvas lamenta a sua sorte:
- Ó Experiente Adegueiro, porque me queres pisar, olha que vais desfazer-me. O meu engaço e grainhas vão separar-se do meu aromático e precioso sumo… Eu te peço, não o faças.
Ao lamento, do belo cacho de uvas, responde a voz meiga e firme do Experiente Adegueiro:
- Belo cacho de uvas, não devo satisfazer a tua vontade, pois tenho planos muito bons para ti, vais encher de alegria o coração dos Homens. Por isso, tenho que te esmagar, para purificar e separar o teu engaço e grainhaste  do teu doce, aromático e precioso sumo. Se te deixo ficar no tegão, com o tempo, vais perder a beleza, o frescor e acabarás por apodrecer, sem ter sido útil a ninguém. É isso que queres?
- Não, Experiente Adegueiro – responde o belo cacho de uvas – podes pisar-me e separar o engaço e grainhas do meu doce, aromático e precioso sumo. Quero ser útil e dar alegria ao coração dos Homens.
Então, o Experiente Adegueiro, pisou e voltou a pisar o belo cacho de uvas, separando cuidadosamente o doce, aromático e precioso sumo de todas as impurezas.
Quando por fim, purificado o doce, aromático e precioso sumo do belo cacho de uvas, este foi lançado numa cuba escura de carvalho e por lá ficou esquecido, o doce, aromático e precioso sumo do belo cacho de uvas pensou:
- Não sei de que forma, mas o Bondoso Vindimador e o Experiente Adegueiro disseram-me que devo alegrar o coração dos Homens… vou aguardar confiante esse momento.
Muito tempo depois, quando parecia que todos se tinham esquecido do doce, aromático e precioso sumo do belo cacho de uvas, eis que, num dia de festa alguém o lembrou. O Jovem Servente dirigiu-se apressado à adega, onde estava a cuba de carvalho, aquela onde repousava esquecido, mas confiante, o doce, aromático e precioso sumo, do belo cacho de uvas. Abriu a torneira da cuba, pronto a encher um grande e cristalino jarro de vidro com o generoso vinho…
- Ó Jovem Servente – diz o generoso vinho – não me lances no cristalino jarro de vidro, estou tão bem aqui na cuba de carvalho, tão tranquilo e sossegado, deixa-me ficar…
Ao lamento do generoso vinho, responde a voz Jovial do Servente:
- Generoso vinho, não devo satisfazer a tua vontade, pois tenho planos muito bons para ti, vais encher de alegria o coração dos Homens. Por isso, tenho que te tirar do teu repouso e servir-te aos convivas que aguardam …. Se te deixo ficar na cuba de carvalho, com o tempo vais perder a beleza, o bom aroma e acabarás por azedar, sem ter sido útil a ninguém. É isso que queres?
- Não, Jovem Servente – respondeu o generoso vinho – podes servir-me aos convivas, quero ser útil e dar alegria ao coração dos Homens.
O generoso vinho, do doce, aromático e precioso sumo, do belo cacho de uvas é servido abundantemente, pelo Jovem Servente, aos convivas que se alegram ao bebê-lo… este, muito feliz, pensa:
- Que alegria, ainda bem que confiei no Bondoso Vindimador, no Experiente Adegueiro e me deixei servir pelo Jovem Servente… assim, posso ser útil e dar alegria ao coração dos Homens.
Moral da história:
- No Bondoso Vindimador, no Experiente Adegueiro e no Jovem Servente: Deus Uno e Trino, que quer fazer da nossa, uma vida bela, doce, aromática, preciosa, generosa e feliz. Uma vida luminosa que se gasta, sem reservas, para o bem dos irmãos, 14...para louvor da Sua glória...” (Ef 1, 14).
- Para que tal aconteça, é forçoso, tomar a cruz e segui-lo (cf. Lc 9, 23); confiar n’Ele e fazer o que nos diga (cf. Jo 2, 5); deixarmo-nos separar da cepa: 29quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna” (Mc 10, 29-30); permitir que nos esmague no tegão: 25...purificar-te-ei no crisol, eliminarei de ti todas as escórias.” (Is 1, 25); deixando que nos sirva para bem dos irmãos, pois há mais felicidade em darmo-nos do que em receber (cf. Act 20, 35).
- Só assim, a nossa existência ganha sentido, e pelos frutos de santidade que dela brotem, se torna útil e agradável a Deus e aos irmãos, porque imagem e reflexo da vida do próprio Deus: 20Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). Pois, 42uma só coisa é necessária” (Lc 10, 42), DEUS: 1...já que fostes ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. 2Aspirai às coisas do alto e não às coisas da terra. 3Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3, 1-3).
- É que, 18Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós.” (Rm 8, 18)
Borba
21 e 22 de Setembro de 2012
P. Marcelino José Moreno Caldeira

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