domingo, 19 de junho de 2011

Elogio da Vida Contemplativa
Pela Graça de Deus, reunidos em Nome do Senhor Jesus Cristo, totalmente enamorados, inspirados e chamados por Deus Uno e Trino: “Nada temas, porque Eu te resgatei e te chamei pelo teu nome; tu és meu” (Is 43, 1), feridos e sedentos do Seu Amor, ansiando viver na Sua Presença: “Anseio sentar-me à sua sombra… (Ct 2, 3) porque eu desfaleço de amor… (Ct 2, 5) procurai aquele que o meu coração ama… (Ct 3, 2) que eu desfaleço de amor… (Ct 5, 8) eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim… (Ct 6, 3), “Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacob” (Sl 23 [24], 6), desejosos de ser a morada da Sua eleição: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3, 16), tendo descoberto que uma só coisa é necessária: DEUS (cf. Lc 10, 38-42) pois só em Deus descansa a nossa alma (cf. Sl 61 (62), 2), os Monges que procuram a Deus no Deserto, são chamados, a consagrar-se ao Bem Único que é o próprio Deus. É o Espírito Santo quem assume o comando das suas vidas e os atrai ao Deserto. É Ele quem os toma e que, com o Seu amor, os traz ao Deserto, tornando impossível, da sua parte outra resposta que não um “Sim” pleno e absoluto de amor: “Nem o medo, nem o arrependimento, nem a prudência são o que povoa a solidão dos Mosteiros. É o amor de Deus” (cf. Pio XII). Esta atracção absoluta e irresistível por Deus, que os traz ao Deserto do Monte Santo, leva-os a “viver em obséquio de Jesus Cristo (cf. 2Cor 10, 5), servindo-O fielmente com puro coração e recta consciência (cf. 1Tm 1, 5)" (Regra “Primitiva” da Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo), pois a isso são chamados.
São chamados a deixar tudo e seguir Jesus: “ «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me” (Lc 9, 23), por Ele levados ao Monte Santo da Transfiguração: “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado” (Mc 9, 2), para que, libertos de todas as amarras e impedimentos: “«Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração»” (Lc 12, 33-34), possam mergulhar no oceano de Amor do Coração do Pai, conformando as suas vidas com a Sua Vontade na contemplação do Rosto do Verbo, guiados, sustentados e vivificados pela força do Espírito Santo e, sob o olhar maternal da “Toda Pura”. Como partilha São Rafael Arnáiz Barón: “O mosteiro vai ser para mim duas coisas; primeiro um cantinho do mundo onde sem impedimentos possa louvar a Deus noite e dia; e segundo, um purgatório na terra onde possa purificar-me, aperfeiçoar-me e chegar a ser santo… ser santo, diante de Deus e não dos homens; uma santidade que se desenvolva no coro, no trabalho, e sobretudo, uma santidade que se desenvolva no silêncio, e que somente Deus a conheça e que nem eu mesmo dela me dê conta, pois então já não seria verdadeira santidade…”.
“De repente, olhando em redor, já não viram ninguém, a não ser só Jesus, com eles.” (Mc 9, 8). “Só Jesus” (Mc 9, 8), nesta expressão, que conclui a narrativa da Transfiguração encerra-se todo um programa de vida para os Monges que procuram a Deus. É óbvio que, “só Jesus” (Mc 9, 8) não significa que possar deixar de lado o Pai e o Espírito Santo e sim que Jesus é o único lugar no qual Deus-Trindade se manifesta operante e plenamente aos homens. Significa que ninguém vai ao Pai a não ser por meio d’Ele, por meio de Jesus (cf. Jo 14, 6).“Só Jesus” (Mc 9, 8), os pensamentos, projectos e preocupações inúteis voam para longe, fazendo-se no coração um profundo silêncio e uma paz profunda, porque habitado por Deus, Aquele Deus de que temos “absoluta necessidade”, de que temos uma “sede abrasante”.
Como no tempo de Jesus, a Humanidade de hoje “procura” e “tem sede” de Deus. E, mesmo que disso não tenha consciência, precisa e quer que os discípulos de Jesus lhe mostrem o Senhor. Como Tomé, só acredita se vir, na vida dos discípulos, as marcas do Ressuscitado: “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito” (Jo 20, 25). Que ela, a Humanidade O reconheça, com Ele se encontre e pelo Seu Amor se deixe tocar, é um dos apelos mais profundos que brotam no coração do Monge, que habita no Deserto do Monte Tabor e aí procura DEUS, pois “Jesus é verdadeiramente o único tesouro que temos para dar à humanidade" (Bento XVI, em Lurdes, a 31 de Maio de 2010).
Não só a Humanidade “procura” e “tem sede” de Deus, como Deus nos procura e quer necessitar e ter sede “«Tenho sede!»” (Jo 19, 28) do nosso amor, pelo que, vem ao nosso encontro, faz-se Emanuel, Deus-Connosco e nos questiona do nosso amor por Ele: “«…tu amas-me mais do que estes?» …tu amas-me? ...tu és deveras meu amigo?»” (Jo 21, 15-17). Diante deste Mistério de Amor, os Monges, sente-se chamado a saciar a sede que Deus tem do amor da Humanidade, do “nosso” amor, votando-Lhe um amor generoso, voluntário, gozoso, exclusivo e total. Com a Bem-aventurada Chiara Luce Badano dizem: “Agora não tenho mais nada, porém ainda tenho o coração e com ele posso amar!" Um amor por Deus que é total e radical, porque envolve o corpo, a carne, a inteligência, os afectos… em suma, uma vida que grita: “ para mim, viver é Cristo” (Fl 2, 21), para mim viver, é amar Cristo: “De alma me consagrei, e todo o meu haver, ao Seu serviço. Já não guardo a grei nem tenho outro ofício, porque é, somente, amar meu exercício.” Deus chama por amor, e é por amor que deseja ser correspondido. Só quem ama se entrega para sempre. “O amor é quem povoa a solidão dos Mosteiros" (Pio XII).
Contemplando, em Cristo Transfigurado, a glória Divina, o Monge torna-se o espelho em que Cristo gosta de reflectir essa mesma glória Divina. Pois contemplando, reflecte aquilo que contempla: Permanecendo simples e amorosamente na Sua presença para que possa reflectir em nós a Sua própria imagem como se reflecte o sol no límpido cristal" (Beata Isabel da Santíssima Trindade). Mais ainda, o monge torna-se naquilo que contempla. Contemplando, é transfigurado na imagem que contempla.
Contemplando Cristo, nós nos tornamos semelhantes a Ele, conformamo-nos a Ele, fazemo-nos um só espírito com Ele, consentimos que o Seu mun­do, os Seus propósitos e os Seus sentimentos, a Sua vida se imprimam em nós, que substituam os nossos pensamentos, propósitos e sentimentos… a nossa vida, tornando-nos assim semelhantes a Ele, como diz São João da Cruz “… tenha sempre a alma o desejo contínuo de imitar a Cristo em todas as coisas, conformando-se à sua vida que deve meditar para saber imitá-la e agir em todas as circunstâncias como ele próprio agiria”. Contemplando o Seu “Rosto” vamo-nos deixando, por Ele, “despir das obras das trevas e revestir das armas da luz” (Rm 13, 12), com vista a dizer com o apóstolo Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20) e “… para mim, viver é Cristo…” (Fl 2, 21).
Tal como acontece com todo o baptizado, o Monge, procura fazer a experiência viva de Cristo, o Verbo da Vida: vê-lO com os olhos, escutá-lO com os ouvidos e tocá-lO com as mãos (cf. 1 Jo 1,1). Este, é, contudo, um caminho de fé: “O rosto, que os Apóstolos contemplaram depois da ressurreição, era o mesmo daquele Jesus com quem tinham convivido cerca de três anos e que agora os convencia da verdade incrível da sua nova vida, mostrando-lhes «as mãos e o lado» (Jo 20,20). Certamente não foi fácil acreditar. Os discípulos de Emaús só acreditaram no fim dum penoso itinerário do espírito (cf. Lc 24,13-35). O apóstolo Tomé acreditou apenas depois de ter constatado o prodígio (cf. Jo 20, 24-29).
Deixando ecoar no nosso coração a palavra do Apóstolo Paulo, que nos alerta da urgência e, nos convida a encetar o caminho da conversão de vida: “Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação” (2 Cor 6, 2) de viver só para Deus e na Sua presença: “Deus destinou-nos para alcançarmos a salvação por Nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós, a fim de que, velando ou dormindo, vivamos unidos a Ele” (1Ts 5, 9-10), o Monge, assume festiva e luminosamente que o seu carisma é o da contemplação. É chamado à oração, à intimidade com Deus. É da casta dos contemplativos, a sua marca genética é a da contemplação. Em Solidão e no desprendimento do mundo procura este tesouro, esta pérola: a contemplação, a intimidade com Deus que transforma, transfigura e conforma com O Transfigurado.
O monge é o que fixa o seu olhar “só” em Deus, deseja ardentemente, “somente”, a Deus, “só” a Deus se consagra e esforça-se por lhe render um culto indiviso; está em paz com Deus e converte-se em fonte de paz para os demais.

1 comentário:

guiomar disse...

Diante do Mistério de amor, os Monges, sente-se chamado a saciar a sede que DEUStem do amor da humanidade, do nosso amor, voltando-lhe ao generoso amor, voluntário, gozoso, exclusivo, e total.Com a Bem-aventurada Chiara Luce Badano. Um amor por DEUS que é total e radical, porque envolve o corpo, a carne, a intelig~encia, os aspectos...Em suma uma vida que grita: para mim viver é Cristo(fl2,21), para mim viver é amar a Cristo. DEUS chama por amor, e é por amor que deseja ser conrespondido. Só quem ama se entrega para sempre.