segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Palavra de Vida
Setembro de 2008
Chiara Lubich
«Amai os vossos inimigos,
fazei bem aos que vos odeiam,
abençoai os que vos amaldiçoam,

rezai pelos que vos caluniam»
(Lc 6,27-28)
«Amai os vossos inimigos». Realmente e forte! É uma reviravolta completa na nossa maneira de pensar e faz-nos dar um rumo totalmente diferente ao leme da nossa vida! Porque, não podemos negar: um inimigo... seja ele pequeno ou grande, todos temos. Muitas vezes está mesmo na porta ao lado, no apartamento do vizinho, ou naquela senhora tão antipática e intriguista de quem procuramos fugir sempre que ela tenta entrar connosco no elevador... Está naquele meu parente que, há trinta anos, foi injusto com o meu pai. Por isso, desde aí deixei de lhe falar e de o cumprimentar...
Se calhar, está na tua turma, sentado na carteira atrás da tua. Mas nunca mais o olhaste de frente, desde que foi fazer queixa de ti ao professor... É aquela rapariga que foi tua namorada, mas que depois te abandonou para ir com outro... É aquele comerciante que te enganou... São aqueles tais que, na politica, não têm as mesmas ideias que nós e, por isso, consideramo-los nossos inimigos. E ainda há, e sempre houve, quem considere os sacerdotes seus inimigos e odeie a Igreja.
Pois bem: todos estes e uma quantidade de outras pessoas a quem consideramos inimigas, devem ser amadas.
Devem ser amadas? Sim, amadas! E não pensemos que já fazemos o suficiente se nos limitarmos simplesmente a mudar o sentimento de ódio para outro sentimento mais condescendente. Não podemos ficar por aí. Ouçamos o que diz Jesus:
«Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
abençoai os que vos amaldiçoam,
rezai pelos que vos caluniam»
(Lc 6,27-28)

Estão a ver? Jesus quer que vençamos o mal com o bem. Quer um amor traduzido em gestos concretos. É o caso de perguntar: mas como é que Jesus dá um mandamento destes? O facto é que Ele quer moldar o nosso comportamento segundo o de Deus, seu Pai, que «faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores» (cf. Mt 5, 45).
É isso! Nós não estamos sozinhos no mundo: temos um Pai e devíamos ser semelhantes a Ele. Mas não é só isso. Deus tem direito a esta nossa atitude porque Ele nos amou quando nós ainda éramos Seus inimigos, quando ainda estávamos no mal. Ele amou-nos primeiro (cf. 1Jo 4, 19), mandando-nos o Seu Filho, que morreu daquela maneira terrível por cada um de nós.
«Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
abençoai os que vos amaldiçoam,
rezai pelos que vos caluniam»
(Lc 6,27-28)

O pequeno Jerry, de Washington, tinha aprendido esta lição. Embora Fosse negro, devido ao seu alto quociente de inteligência, tinha sido admitido numa classe especial, só para rapazes brancos.
Mas a sua inteligência não conseguiu fazer compreender aos companheiros que ele era igual a eles. A sua pele negra tinha atraído o ódio geral. De tal modo que, no dia de Natal, todos os rapazes deram prendas uns aos outros, mas simplesmente ignoraram o Jerry. Ele, como criança que era, chorou por causa disso, e compreende-se! Ao chegar a casa, pensou em Jesus: "Amai os vossos inimigos" e, falando com a sua mãe, comprou muitas prendas que ofereceu com amor a todos os seus "irmãos brancos".
«Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
abençoai os que vos amaldiçoam,
rezai pelos que vos caluniam»
(Lc 6,27-28)

Que sofrimento naquele dia para a Elisabetta, uma menina de Florença. Ao subir os degraus para ir à missa, notou que um grupo de crianças da sua idade se ria dela! Embora tivesse vontade de reagir, ela sorriu, e, entrando na igreja, rezou muito por eles. À saída, fizeram-na parar e perguntaram-lhe qual o motivo do seu comportamento. Ela explicou que era cristã, por isso devia amar sempre. E disse-o com uma convicção ardente. O seu testemunho foi premiado: no domingo seguinte, viu todos aqueles jovens na igreja, muito atentos, na primeira fila. É desta forma que os jovens tomam a sério a Palavra de Deus. Por isso são grandes diante de Jesus.
Talvez convenha que também nós restabeleçamos a amizade nalguma situação duvidosa, tanto mais que vamos ser julgados segundo o modo com que julgarmos os outros. É que, de facto, somos nós que damos a Deus a medida com que nos deve medir (cf. Mt 7,2). E não é verdade que lhe pedimos: «Perdoa-nos as nossas ofensas, como nós perdoamos aos que nos ofenderam» (Mt 6,12)?
Amemos, pois, os inimigos! Só agindo desse modo é que se pode acabar com as faltas de unidade, abater as barreiras, construir a comunidade.
É duro? É difícil? Perdemos o sono só de pensar nisso? Coragem! Não é o fim do mundo: basta um pequeno esforço da nossa parte e Deus faz o resto, e... no nosso coração vamos sentir uma alegria enorme.
Palavra de Vida, Maio de 1978. Publicada em Essere la tua Parola, Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, Roma, 1980, pp. 27-29.

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