quarta-feira, 26 de março de 2008

Fica connosco, Senhor
«Fica connosco, Senhor, pois a noite vai caindo» (cf. Lc 24,29). Foi este o instante convite que os dois discípulos, directos a Emaús na tarde do próprio dia da ressurreição, dirigiram ao Viajante que se lhes tinha juntado no caminho. Carregados de tristes pensamentos, não imaginavam que aquele desconhecido fosse precisamente o seu Mestre, já ressuscitado. Mas sentiam «arder» o seu íntimo (cf. Lc 24,32), quando Ele lhes falava, «explicando» as Escrituras. A luz da Palavra ia dissipando a dureza do seu coração e «abria-lhes os olhos» (cf. Lc 24, 31). Por entre as sombras do dia que findava e a obscuridade que pairava na alma, aquele Viajante era um raio de luz que fazia despertar a esperança e abria os seus ânimos ao desejo da luz plena. «Fica connosco» suplicaram. E Ele aceitou. Pouco depois o rosto de Jesus teria desaparecido, mas o Mestre «permaneceria» sob o véu do «pão partido», à vista do qual se abriram os olhos deles.
Ao longo do caminho das nossas dúvidas, inquietações e às vezes amargas desilusões, o divino Viajante continua a fazer-se nosso companheiro para nos introduzir, com a interpretação das Escrituras, na compreensão dos mistérios de Deus. Quando o encontro se torna pleno, à luz da Palavra segue-se a luz que brota do «Pão da vida», pelo qual Cristo cumpre de modo supremo a sua promessa de «estar connosco todos os dias até ao fim do mundo» (cf. Mt 28,20).
A «fracção do pão» tal era ao início a designação da Eucaristia sempre esteve no centro da vida da Igreja. Por ela Cristo torna presente, no curso do tempo, o seu mistério de morte e ressurreição. Nela, Cristo em pessoa é recebido como «o pão vivo que desceu do céu» (Jo 6, 51) e, com ele, é-nos dado o penhor da vida eterna, em virtude do qual se saboreia antecipadamente o banquete eterno da Jerusalém celeste.
João Paulo II
(Mane Nobiscum Domine, 2004)

Sem comentários: