Palavra de Vida
Julho
de 2025
Texto preparado por Letizia Magri
«Mas um
samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de
compaixão» (Lc 10,33)
Martine ia numa carruagem do metro de
uma grande cidade europeia. Todos os passageiros estavam concentrados nos seus
telemóveis. Virtualmente estavam ligados, mas, de facto, estavam aprisionados
no isolamento. Questionou-se: «Será que perdemos a capacidade de nos olharmos
nos olhos?».
É uma experiência comum, sobretudo
nas sociedades ricas de bens materiais, mas cada vez mais pobres em
relacionamentos humanos. O Evangelho, no entanto, apresenta-nos sempre a sua
proposta original, criativa, capaz de “fazer novas todas as coisas” [Cf. Ap 21,5].
No longo diálogo com o doutor da Lei
que o questiona sobre o que é preciso fazer para ter como herança a vida eterna
[2], Jesus responde com a famosa parábola do Bom
Samaritano: um sacerdote e um levita – figuras de relevo na sociedade daquele
tempo – veem um homem agredido por salteadores, caído na berma da estrada, mas
passam adiante.
«Mas um
samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de
compaixão» (Lc 10,33)
É preciso ser capaz de não olhar
apenas para os dons pessoais, mas também para as muitas potencialidades e a
multiplicidade de visões e de opiniões que se apresentam diante de nós,
naqueles que vivem ao nosso lado e com quem nos relacionamos, e até nas pessoas
que encontramos por acaso. É importante, com todos, manter a autenticidade no
coração e também ter a consciência dos limites do nosso ponto de vista.
Esta palavra de vida poderia ser um
lema a adotar em todas as situações de diálogo e de confronto. Escutar o outro
– não necessariamente para aceitar tudo, mas sabendo que é possível encontrar
algo de bom naquilo que ele diz – favorece uma abertura do coração e do
pensamento. É fazer o vazio dentro de nós, por amor, e ter assim a
possibilidade de construir algo juntos.
«Mas um
samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de
compaixão» (Lc 10,33)
Ao doutor da Lei, que conhece bem o
mandamento divino do amor ao próximo [Cf. Lc 10,25-37], Jesus propõe como modelo um
estrangeiro, considerado cismático e inimigo. Ele viu o viajante ferido e
encheu-se de compaixão, um sentimento que nasce de dentro, da profundidade do
coração humano. Por isso, interrompe a sua viagem, aproxima-se e cuida dele.
Jesus sabe que cada pessoa humana
está ferida pelo pecado e esta é precisamente a Sua missão: curar os corações
com a misericórdia e o perdão gratuito de Deus, para que sejam capazes, por sua
vez, de proximidade e partilha.
«[…]
Para aprender a ser misericordiosos como o Pai, perfeitos como Ele, é preciso
olhar para Jesus, revelação total do amor do Pai. […] O amor é o valor absoluto
que dá sentido a tudo o resto […] que encontra a sua expressão mais elevada na
misericórdia. É a Misericórdia que ajuda a ver sempre novas as pessoas com quem
vivemos no dia a dia, na família, na escola, no trabalho, sem recordar os seus
defeitos, os seus erros. Leva-nos a não julgar, mas a perdoar as ofensas que
sofremos. E até a esquecê-las» [C. Lubich, Palavra de
Vida de junho de 2002, in Parole
di Vita, a/c Fabio Ciardi, (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova,
Roma, 2017, p.659].
«Mas um
samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de
compaixão» (Lc 10,33)
A resposta final e decisiva
expressa-se com um convite claro: «Vai e
faz tu também o mesmo» [Lc 10,37]. É isso que
Jesus repete a quem aceita a sua Palavra: tornar-se próximos, tomando a
iniciativa de “tocar” as feridas das pessoas que encontramos, no dia a dia,
pelas estradas da vida.
Para viver a proximidade evangélica,
antes de tudo, peçamos a Jesus que nos cure da cegueira dos preconceitos e da
indiferença, que nos impede de ver para além de nós mesmos.
Depois, aprendamos com o Samaritano a
capacidade da compaixão, que o levou a colocar em jogo a sua própria vida. Imitemos
a sua prontidão para dar o primeiro passo em direção ao outro com a
disponibilidade para o escutar, para fazer nossa a sua dor, livres dos juízos e
do medo de “perder tempo”.
Foi a experiência de uma jovem
coreana: «Procurei ajudar um adolescente que não era da minha cultura e que eu
não conhecia bem. No entanto, apesar de não saber o que fazer nem como fazer,
enchi-me de coragem e tentei ajudá-lo. Para minha surpresa, ao oferecer aquela
ajuda, notei que me senti “curada” das minhas feridas interiores».
Esta Palavra oferece-nos a chave de
ouro para atuar o humanismo cristão: torna-nos conscientes da nossa humanidade
comum, em que se reflete a imagem de Deus, e ensina-nos a ir com coragem para
além da mera “proximidade” física e cultural. Nesta perspetiva, é possível
alargar as fronteiras do “nós” até ao horizonte do “todos” e redescobrir a base
fundamental da vida social.

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