Em Belém, no Carmelo entre a imagem e a relíquia de Santa Maria Baouardy |
SANTA MARIA DE JESUS CRUCIFICADO BAOUARDY
monja Carmelita
Descalça
(1846-1878)
Memória a 25 de Agosto
Memória a 25 de Agosto
Miriam Baouardy
nasceu a 5 de Janeiro de 1846, em Ibillin, numa pequena aldeia da Galileia,
entre Nazaré e Haifa, numa família de rito greco-católico. Os seus pais perdem,
um após outro, os doze filhos em tenra idade. Com profunda dor mas com uma
grande confiança em Deus, decidiram fazer uma peregrinação a Belém para rezar
na Gruta da Natividade e pedir a graça de uma filha. É assim que Miriam veio ao
mundo. No ano seguinte nasce o seu irmão Boulos.
Mas, Miriam não
tinha ainda 3 anos quando o seu pai morre confiando-a à fiel custódia de São
José. Alguns dias mais tarde morre também a sua mãe. É assim que Boulos é
adoptado por uma tia e Miriam por um tio de boa condição social.
Dos seus anos de
infância na Galileia, guarda na memória, o maravilhar-se diante da beleza da
Criação, da luz, das paisagens de onde tudo lhe fala de Deus e do sentimento,
muito forte, de que “tudo passa”.
A experiência de
criança é decisiva para sua vida futura: brinca com dois pequenos passarinhos e
quer dar-lhes um banho… mas eles não resistem e morrem entre suas mãos. Triste,
ouve então interiormente estas palavras: "Vês?
É assim que tudo passa, mas se queres dar-me teu coração, Eu ficarei para
sempre contigo”.
Aos 8 anos faz sua
primeira comunhão. Pouco depois, o seu tio parte para Alexandria com toda a
família.
No Egipto: Alexandria e o martírio
Miriam tem 12 anos
quando sabe que o seu tio a quer casar. Decidida a dar-se totalmente a Deus,
recusa a proposta. Tratam de persuadi-la e ameaçam-na. Nem as humilhações, nem
os maus tratos puderam fazer mudar a sua decisão. Após três meses, ela visita
um velho criado da casa do seu tio, para enviar uma carta a seu irmão que vive
na Galileia para que a venha ajudar. Ouvindo a narração dos seus sofrimentos, o
criado que era muçulmano, exorta-a a converter-se ao Islão. Miriam recusa.
Encolerizado, o homem pega numa espada e corta-lhe a garganta, abandonando-a
logo de seguida numa rua escura. Era dia 8 de Setembro.
Mas a sua hora não
havia chegado, e ela acorda numa gruta, ao lado de uma jovem que parecia ser
uma religiosa. Durante quatro semanas, ela cuida, alimenta e instrui Miriam.
Depois de estar curada, aquela que mais tarde ela revelará ser a Virgem Maria,
leva-a a uma igreja.
Desde esse dia,
Miriam irá de cidade em cidade (Alexandria, Jerusalém, Beirute, Marselha…),
como doméstica, elegendo preferencialmente as famílias pobres, ajudando-as, mas
deixando-as quando elas a honram demasiado.
Mas ela irá ser também de maneira particular testemunho desse “universo invisível”. Esse universo que nós acreditam ser ver e que ela experimentou duma maneira muito forte.
Mas ela irá ser também de maneira particular testemunho desse “universo invisível”. Esse universo que nós acreditam ser ver e que ela experimentou duma maneira muito forte.
Em Marselha: as Irmãs de São José
Em 1865 Miriam
encontra-se em Marselha. Entra em contacto com as Irmãs de São José da
Aparição. Tem 19 anos, mas só parece ter 12 ou 13. Fala mal o francês e possui
uma saúde frágil, de todos modos é admitida ao noviciado e sua alegria é enorme
por se poder entregar assim a Deus. Sempre disposta aos trabalhos mais pesados,
passa a maior parte do seu tempo lavando ou cozinhando. Mas, dois dias por
semana revive a Paixão de Jesus, recebe os estigmas (que na sua simplicidade
pensa ser uma doença) e começam a manifestar-se todo o tipo de graças
extraordinárias. Algumas irmãs ficam desconcertadas com o que se passa com ela,
e ao fim de 2 anos de noviciado, não é admitida na Congregação. Um conjunto de
circunstâncias vão conduzi-la até ao Carmelo de Pau.
O Carmelo de Pau, França
É recebida em Junho
de 1867. Ali, no meio de todas as provas que terá de atravessar, encontrará
sempre o amor e a compreensão. Ingressa de novo no noviciado, onde recebe o
nome de Irmã Maria de Jesus Crucificado. Insiste em ser admitida como ‘irmã
conversa’, pois gosta mais do serviço aos outros, tendo, por outro lado,
dificuldades na leitura, nomeadamente na recitação do Oficio Divino. A sua
simplicidade e generosidade conquistam o coração de todos. As suas palavras
proferidas depois de um êxtase são o fruto da sua vida: "Onde está a caridade ali está Deus. Se pensais em fazer o bem ao
vosso irmão, Deus pensará em vós. Se cavais um poço para vosso irmão, caíreis
nele; o poço será para vós. Mas, se fazeis um céu para o vosso irmão, esse céu
será para vós…”.
Dom da profecia,
ataques do demónio ou êxtases… entre todas as graças divinas das quais está
cheia, ela sabe, de maneira muito profunda, ser ‘nada’ diante de Deus, e quando
fala dela mesma intitula-se "o
pequeno nada", é realmente a expressão profunda de seu ser. É o que a
faz penetrar na insondável profundidade da misericórdia divina onde ela
encontra a sua alegria, as suas delicias e a sua vida… “A humildade é ser por não ser nada, ela não se apega a nada, ela não
se cansa nunca de nada. Está contente, é feliz, onde quer que esteja é feliz,
está satisfeita com tudo… Felizes os pequenos!”. Ali está a fonte de seu
abandono entre graças mais estranhas e os acontecimentos humanos mais
desconcertantes.
A fundação do Carmelo de Mangalore na Índia
Após 3 anos, em
1870, parte com um pequeno grupo de Irmãs para fundar o primeiro convento de
Carmelitas Descalças na Índia, em Mangalore. A viagem de barco foi uma aventura
e três religiosas morrem antes de chegarem ao destino. De todos modos, são
enviados reforços e, em finais de 1870, pode-se iniciar a vida claustral. As
suas experiências extraordinárias continuam sem a impedir de realizar os seus
trabalhos mais pesados e de dar atenção aos problemas inerentes a uma nova
fundação. Durante os seus êxtases, as Irmãs podiam ver o seu rosto
resplandecente na cozinha ou noutro local. Participa em espírito nos
acontecimentos da igreja, por exemplo, nas perseguições na China e também
parece ser possuída exteriormente pelo demónio, fazendo-lhe viver terríveis
tormentos e combates. Foi o começo de muitas incompreensões na sua comunidade,
onde duvidaram da autenticidade do que ela vivia. Não obstante, pôde emitir os
seus votos no final do noviciado, a 21 de Novembro de 1871; mas as tensões
criadas em seu redor acabaram por provocar o seu regresso ao Carmelo de Pau em
1872.
O regresso a Pau
Naquele lugar leva
de novo a sua vida simples de ‘irmã conversa’ no meio do carinho de suas irmãs,
e a sua alma dilata-se. Durante alguns êxtases, ela que é quase analfabeta,
profere repentinamente em exultação de gratidão até Deus, poesias duma grande
beleza, cheias de encanto e candor oriental, onde a criação inteira canta ao seu
Criador. Pelo ímpeto da sua alma até Deus, ela elevar-se-á até ao cima de um
árvore sobre uma rama que não suportaria nem sequer uma pequenina ave. “Todo o mundo dorme. E Deus, tão repleto de
bondade, tão grande, tão digno de louvores, é esquecido!… Ninguém pensa Nele! Vede,
toda a natureza O louva, o céu, as estrelas, as árvores, as ervas, tudo O
louva; o homem, que conhece os seus benefícios, que deveria louvá-Lo, dorme!…
Vamos, vamos despertar o universo!”
São numerosos os
que procuram Miriam para consolo, conselhos, para que reze pelas suas
intenções, partem iluminados e fortificados com este encontro.
A fundação do Carmelo de Belém
Pouco depois de seu
regresso de Mangalore, ela começa a falar da fundação de um Carmelo em Belém.
Os obstáculos são numerosos, mas dissipam-se progressivamente, inclusive de
maneira inesperada. Por fim a autorização é dada por Roma e a 20 de Agosto de
1875 um pequeno grupo de carmelitas embarca para nessa aventura. O Senhor conduz
Miriam na escolha do local e na forma de construção do novo Carmelo. Como ela é
a única que fala árabe, encarrega-se particularmente de seguir os trabalhos, “imersa na areia e na cal”. A comunidade
instalar-se-á no dia 21 de Novembro de 1876, enquanto que certos trabalhos
continuam.
Prepara também a
fundação de um Carmelo em Nazaré, viajando até lá para comprar o terreno, em
Agosto de 1878. Durante essa viagem é lhe revelado por Deus o lugar de Emaús.
Ela pede a ajuda de Berthe Dartigaux para comprá-lo para o Carmelo.
De volta a Belém,
retoma a vigilância dos trabalhos debaixo de um calor sufocante. Quando leva
algo para beber aos trabalhadores, Miriam cai de uma escada e parte um braço. A
gangrena vai avançar muito rapidamente e morre poucos dias depois, a 26 de
agosto de 1878, aos 32 anos. É beatificada a 13 de Novembro de 1983, pelo Papa
João Paulo II e canonizada pelo Papa Francisco a 17 de Maio de 2015.
Miriam e o Espírito Santo
Miriam descobre-nos
este mundo invisível tão perto de nós e que é todo misericórdia. Ensina-nos a
investir toda a nossa vida “naquele que
nunca passa”, o que realmente importa, Deus. A luta contra todas as forças
do mal ainda está a decorrer. Esta Carmelita Descalça é conhecida por muitos
como “Padroeira da Paz” para a Terra Santa, é para nós um estímulo a deixars
transfigurar pelo Senhor a fim de nos convertermos a nós mesmos em artesãos
desta transfiguração do mundo pela graça de Deus. Testemunho de um mundo já
transfigurado, Miriam conduz-nos a esse primeiro dia da Criação, onde o Céu e a
Terra ainda não foram separados, onde só há luz e trevas, esse dia Um, reflexo
da Unidade divina, donde tudo resplandece desta Unidade.
Miriam sente-se
atraída de modo particular pelo Espírito Santo, este Espírito que pairava sobre
as águas no principio da Criação. É este Espírito Santo que ela nos quer
entregar como herança, já que quando Ele vem tomar o lugar do nosso “eu”
transfigura cada coisa, “cria de novo” (Isaías), “Dirigi-vos ao Espírito Santo que inspira tudo”.
“O ‘eu’ é aquele que perde o mundo. Os que têm o “eu”
carregam a tristeza e a angústia com eles. Não se pode ter Deus e o mundo ao
mesmo tempo. Aquele que não tem o “eu” tem todas as virtudes e a paz e a
alegria". Mas com o Espírito Santo, mesmo com “uma gota” só, tudo é possível: “Fonte de
paz, de luz, vem iluminar-me; eu sou ignorante, vem ensinar-me… Os discípulos
eram muito ignorantes, eles estavam com Jesus e não O compreendiam… Quando lhe
deste o raio de luz, os discípulos desapareceram, já não eram como foram, a sua
força foi renovada… Espírito Santo, Eu abandono-me a Vós.”
Espírito Santo, inspirai-me.
Amor de Deus, consumi-me.
Ao verdadeiro caminho, conduzi-me.
Maria, Minha Mãe, olhai por mim,
Com Jesus, bendizei-me;
De todo mal, de toda a ilusão,
De todo o perigo, protegei-me.
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