domingo, 31 de outubro de 2010

... a Eucaristia... o Coração do Domingo...
“…a participação na Eucaristia seja verdadeiramente, para cada baptizado, o coração do domingo: um compromisso irrenunciável, abraçado não só para obedecer a um preceito mas como necessidade para uma vida cristã verdadeiramente consciente e coerente. … . Em muitas regiões, os cristãos são - ou vão-se tornando - um «pequenino rebanho» (Lc 12,32). Isto coloca-os perante o desafio de testemunharem com mais força, muitas vezes em condições de solidão e hostilidade, os aspectos específicos que os identificam. Um deles é a obrigação de participar todos os domingos na celebração eucarística”.
João Paulo II, Carta Apostólica «Novo Millenio Ineunte», 36

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Beata Chiara "Luce" Badano
«
...uma explosão de luz divina»
memória litúrgica: 29 de Outubro
(*29 de Outubro de 1971 – +7 de Outubro de 1990)
Não poderia existir lugar mais adequado para a beatificação de Chiara Badano que o Santuário do Divino Amor, aquele amor divino, que arrebatou totalmente o seu coração tão jovem e amante da vida. Todo santuário mariano é a casa de Maria, e Chiara – como todos nós – se sente bem na casa da Mãe celeste. Todo santuário mariano é também uma espécie de antecâmara do céu, pois abre a mente e o coração para o encontro com Jesus, com Maria, a mãe do Divino Amor, e com todos os anjos e santos do céu. Lembremo-nos de que a nossa Beata expirou justamente no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário, dia 7 de outubro de 1990, sussurrando à sua mãe terrena: “Adeus, esteja feliz, porque eu o sou”.
No Paraíso, a casa de Deus Amor, a Bem-aventurada Virgem Maria esperava de braços abertos esta sua filha dilecta, que tanto amava o seu Jesus e que tanto tinha sofrido em união com o Crucificado Abandonado. Maria a apertou fortemente contra o seu peito materno. Era mesmo este o desejo de Chiara: “Quando morrer, não sofrerei mais, irei para o céu e verei Jesus e Nossa Senhora”
No paraíso, também Jesus, o esposo celeste de Chiara, a saudou com as palavras de amor do Cântico dos Cânticos: “Fala o meu amado e me diz: "Levanta-te minha amada, formosa minha e vem a mim! Vê o inverno: já passou! Olha a chuva: já se foi! As flores florescem na terra, o tempo da poda vem vindo, e o canto da rola está se ouvindo em nosso campo. Despontam figos na figueira e a vinha florida exala perfume. Levanta-te, minha amada, formosa minha, vem a mim! Pomba minha, que se aninha nos vãos do rochedo, pela fenda dos barrancos... Deixa-me ver tua face, deixa-me ouvir tua voz, pois tua face é tão formosa e tão doce a tua voz!”
... Chiara, jovem de coração cristalino como a água da nascente, que encontra refúgio e consolação em Deus: “Digo a Deus: "Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim. Senhor, vós sois a minha parte de herança e meu cálice; vós tendes nas mãos o meu destino. Ponho sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita; não vacilarei. Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará seguro, porque vós não abandonareis minha alma na habitação dos mortos”. (Sal.16,2-1.5.8-10). Chiara via Deus e o mostrava nesta terra, mediante a caridade que ela tinha para com o próximo: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor [...].. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito". (1 Jo. 4,7.12). Chiara viveu ao pé da letra a palavra que Jesus nos dirigiu no Evangelho de hoje: “Permanecei no meu amor [...]. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa”. (Jo. 15,-9.11). Os dias da existência terrena de Chiara foram dias de caridade distribuída com mãos abertas. A vida que humanamente foi uma dolorosa subida ao Calvário, pela sua grande caridade se tornou uma luminosa transfiguração como num Tabor. Ela mudou a dor em alegria, as trevas em luz, dando significado e sabor também ao sofrimento do seu corpo débil. Na doença, ela se revelou uma mulher forte e sapiente: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. (Mt. 5, 13.14).
...
O vestido nupcial, com o qual Chiara foi ao encontro do Senhor Jesus, estava enriquecido pelos sete diamantes da espiritualidade cristã e focolarina: Deus Amor; fazer a vontade de Deus; Palavra de Vida vivida; amor para com o próximo; amor recíproco que realiza a unidade; presença de Jesus na unidade. Mas há um sétimo diamante, o mais precioso, que brilha mais do que os outros, é o amor a Jesus Crucificado e Abandonado. Este – afirma Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares – é o ponto principal que resume a espiritualidade focolarina e que a nossa Bem-aventurada interpretou da melhor maneira. O Amor a Jesus Abandonado lhe infundiu a energia espiritual, a graça capaz de suportar toda a adversidade. Adoecendo aos 16 anos com um osteossarcoma, aceitou a cruz com sofrimento, mas com serena fortaleza. “Não tenho mais as pernas e gostaria muito de andar de bicicleta, mas o Senhor me deu asas". Sofria, mas a alma cantava. Rejeitou a morfina porque – dizia – “me tira a lucidez e eu posso oferecer a Jesus somente a minha dor”. No final de Dezembro de 1989, quando a doença a estava devorando, Chiara Lubich lhe deu a Palavra de Vida: “Quem permanece em mim e eu nele, dará muito fruto". (Jo. 15,5). No dia 26 de Julho do mesmo ano, a Lubich lhe deu um nome novo, "Luce". Nome certíssimo porque Chiara era uma explosão de luz divina, que surpreendia todos, jovens e adultos. Dizia com frequência: “Jesus é para se amar e basta”. E desde pequena, foi muito generosa no corresponder ao ideal de amor de Deus e do próximo.
As manifestações desta caridade são múltiplas. Irmã Bonária conta que Chiara durante o período da escola primária dava a sua merenda a uma colega pobre. Quando Chiara contou isso à mãe, ela acrescentava todo dia duas merendas. Ainda assim Chiara continuou distribuindo para as crianças pobres, porque nelas via Jesus.
Em Sassello vivia um rapaz, [Cesare Merialdo, já falecido], um pouco doente, que dizia coisas sem nexo, fora do lugar. Quando estava na Igreja, cantava em voz alta, desafiando muito e perturbando todos. As pessoas o marginalizavam. Um dia, na Missa da tarde, Cesare estava no banco na frente da mãe de Chiara. De repente se virou e lhe pediu que se sentasse ao seu lado. Mas a mãe não se mexeu. Voltando para casa, a senhora contou o episódio à filha. Chiara ficou séria e perguntou: “Você não se mexeu? Jesus estava no Cesare”. A mãe tranquilizou a filha: logo em seguida tinha ido se sentar ao lado de Cesare. Este rapaz, quando soube da morte de Chiara, visitou o corpo, tirou o chapéu, lhe beijou os pés e sozinho rezou o terço.
Com apenas onze anos, toma a decisão de “amar quem me for antipático”. Quando convidava alguém para almoçar dizia a mãe que colocasse a toalha melhor, “porque hoje Jesus vem nos visitar”.
Na cidade havia um certa senhora Maria, uma mulher marginalizada, não considerada por ninguém e nunca ia à Igreja. Chiara, a encontrava muitas vezes pela rua, a ajudava a levar os objectos pesados e a chamava "senhora" Maria. Quando Maria soube da morte de Chiara, quis ir à igreja. Se vestiu bem, assistiu a Missa e deu como oferta ‘cinquenta mil liras’, muito para a época.
Um dia uma amiga perguntou a Chiara: "Com os amigos no café, acontece que você fale de Jesus, que procure passar algo de Deus?‟. “Não, não falo de Deus”. "Porque deixa escapar as ocasiões?" E ela: “O mais importante não é falar de Deus. Eu o devo dar”.
Com os seus actos de caridade Chiara mostrava e dava Deus. Com os seus actos de amor a nossa Bem-aventurada encheu a mala para a sua Santa Viagem. O amor a Jesus é vivido por ela quotidianamente em muitos episódios de caridade. Não são propósitos feitos no ar, mas factos concretos. A Gianfranco Piccardo, voluntário que ia escavar trinta poços de água potável no Benin, entregou a sua poupança, "um milhão e trezentas mil liras", presente recebido no seu último aniversário, dizendo: "Não me servem, tenho tudo".
No dia de São Valentino em 1990, Chiara, já quase sempre acamada, desejou que a mãe e o pai saíssem naquela noite para jantar. A mãe encontrou a desculpa de que já não dava tempo para reservar um lugar. Chiara pegou na lista telefónica e depois de algumas tentativas, conseguiu reservar um lugar para eles num restaurante de Albissola Marina. Antes que saíssem fez estas recomendações: "Olhem-se nos olhos e não voltem antes de meia-noite". Pouco antes havia dito à mãe: "Lembre-se, mamã, que antes de mim existia papá". Chiara estava treinando os pais para ficarem sozinhos, sem ela.
Todos os que a visitavam pensavam em lhe levar afecto e consolação, mas na realidade eram eles a receber conforto e encorajamento. Durante a doença doava Jesus, não fazendo pregações, mas difundindo alegria e esperança de vida eterna. O seu apostolado era unir harmoniosamente este vale de lágrimas com a Jerusalém celeste. Uma enfermeira conta que, quando chegava uma visita, pedia que pessoa aguardasse o fim do tratamento. Quando se lhe fazia notar que depois estaria muito cansada, Chiara respondia: “Não faz mal, lá fora, é Jesus quem está esperando”.
O encontro com Chiara – chega a dizer uma testemunha – dava a “sensação de que se encontrava Deus”.
Esta jovem, de aparência frágil, na realidade era uma mulher forte. Mesmo no leito de morte fez um último dom, o das córneas ainda transplantáveis, porque não atingidas pelo mal. Foram transplantadas em dois jovens que hoje vêem graças a ela.
Uma testemunha, Ivana Pianta, lembra que Chiara, aos treze anos, fazia parte das gen 3 da Ligúria, e pela sua coerência de vida era por vezes criticada pelas amigas e até mesmo por algum sacerdote. Na pequena cidade onde morava era ridicularizada, porque era uma gen, porque ia à Missa também durante a semana, participava com atenção da aula de religião, procurava amar a todos os professores, mesmo os mais difíceis, era muito disponível para ajudar a todos. Por isso as suas amigas – e as crianças por vezes sabem ser ruinzinhas - chamavam-lhe "freira". Isso a fazia sofrer muito, mas na Mariápolis encontrava a resposta Nele, em Jesus Abandonado.
O coração de Chiara encerrava um amor grande como um oceano. Mesmo doente dizia: “Agora não tenho mais nada sadio. Porém, tenho ainda o coração com o qual posso sempre amar".
Amava o próximo, amava a Igreja, amava o Papa. Um dia, sua mãe foi à escola onde a filha estudava para conversar com uma professora que, assim que a viu, exclamou: “Na vida, a sua filha será juiz ou advogado”. De regresso a casa, a mãe pediu uma explicação sobre isso. Chiara então lhe explicou que uma professora, que não acreditava em Deus, fala mal do Papa, criticando-o pelas suas inúmeras viagens: “Eu me levantei e lhe disse: "Não concordo com o que a senhora disse‟. E acrescentei que o Papa viaja unicamente para evangelizar o mundo”.
Chiara, como Moisés, estava chegando ao fim da sua santa viagem, tinha alcançado o alto da montanha santa mais elevada, frente a frente com Deus Trindade. Dali irradiava luz e alegria, voltando a entregar ao seu próximo as tábuas da lei, como dez divinas palavras de amor, e as bem-aventuranças de Jesus, para orientar a vida terrena em direcção ao sol de Deus.
Não comum, extraordinário, incrível são adjectivos usados pelos médicos que a seguiam para descrever a serenidade e a fortaleza de Chiara diante da doença mortal. É verdade. A sua atitude não era normal, porque completamente sobrenatural, fruto da graça divina, da fé infinita e do heroísmo cheio de virtude. Ela falava do vestido de noiva para o seu funeral, como faria uma jovem que se prepara para o matrimónio. Dizia: “eu não choro, porque estou feliz”. Dizia à mãe: “quando me quiser encontrar, olhe para o céu, me encontrará numa estrelinha”.
Chiara Lubich, explicando o nome Luce, que havia dado a Chiara, escreveu que, olhando para uma fotografia dela, a jovem “não tinha os olhos da alegria simples e sim algo a mais, direi que a luz do Espírito”. Diante desta jovem, a Igreja agradece Deus Trindade pela sua vida de caridade e bondade. Chiara Badano, jovem moderna, desportista, positiva, transmite-nos uma mensagem de optimismo e de esperança. Também hoje, o breve período da juventude, pode ser vivido na santidade. Também hoje existem jovens íntegros, que na família, na escola, na sociedade não desperdiçam a própria vida. A Bem-aventurada Chiara Badano é uma missionária de Jesus, uma apóstola do Evangelho como boa nova para um mundo rico de comodidades, mas muitas vezes doente de tristeza e de infelicidade. Ela nos convida a reencontrarmos a frescura e o entusiasmo da fé. O convite é dirigido a todos: antes de tudo aos jovens, mas também aos adultos, aos consagrados, aos sacerdotes. A todos é dada a graça suficiente para se fazerem santos. Respondamos com alegria a este convite de santidade e agradeçamos ao Santo Padre Bento XVI pelo dom da Beatificação da nossa Chiara Luce. Trata-se de um sinal concreto da confiança e da estima que o Papa tem nos jovens, em quem vê o semblante jovem e santo da Igreja.

D. Ângelo Amato, SDB, Homilia na Beatificação de Chiara Luce Badano (25 de Setembro de 2010)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

“Permaneçamos longamente prostrados
diante de Jesus presente na Eucaristia,
reparando com a nossa fé e o nosso amor
as negligências, esquecimentos e até ultrajes
que o nosso Salvador Se vê obrigado a suportar
em tantas partes do mundo.”
João Paulo II, Carta Apostólica «Mane Nobiscum Domine», 18

sábado, 23 de outubro de 2010

“Cingidos, pois, os rins com a fé e a observância das boas acções,
guiados pelo Evangelho,
trilhemos os seus caminhos
para que mereçamos ver aquele
que nos chamou para o seu reino.”

Prólogo da Regra de São Bento

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

...lembrança de Deus...
“A alma está morta quando perde a lembrança de Deus. Todos os seus discernimentos morrem com ela e o interesse pelas coisas celestes já não existe nela. Por isso é necessário ao discípulo de Deus que a lembrança do seu Mestre, Jesus Cristo esteja ancorado na sua alma e que n’Ele pense noite e dia”,
pelo contrário
bela é a oração que imprime na alma uma ideia clara de Deus e isto é dar hospedagem a Deus, ter lembrança d’Ele e o seu Deus instalado em si. Chegamos a ser templo de Deus quando as preocupações terrenas não interrompem a continuidade desta lembrança de Deus".
(cf. AA.VV., “Conformar la mente y el corazón com Jesucristo y su Madre Inmaculada, según la forma de vida de Santa Beatriz - Formación Concepcionista”, Edição da Orden de la Inmaculada Concepción (Confederación de Santa Beatriz), Cuenca, 2010, pg. 463.)
- tradução do Espanhol ao Português da responsabilidade do autor deste blog -

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nada te turbe,
nada te espante.
Quem a Deus tem nada lhe falta.
Nada te turbe,
nada te espante.
SÓ DEUS BASTA.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ele é que deve crescer,
e eu diminuir”
(Jo 3, 30)
Senhor, plantai no mais fundo do meu coração o desejo e a necessidade de passar despercebidos aos olhos do mundo, a necessidade de ocultamento, para viver discreta, gozosa e exclusivamente na Vossa presença. Que não exista a menor possibilidade de que aqueles que sou chamado a servir "in personna Christi" se detenham em mim. Que eu não seja impedimento para que eles caminhem, generosamente, para Vós.
Ponte, que eu seja Ponte. Ponte que potencia o encontro entre aqueles que me deste e Vós.
Senhor, concedei-me a graça da fidelidade à vocação que generosamente e "sem mérito algum da minha parte" me concedeste. Que saiba permanecer “escondido”, que saiba permanecer “oculto”, para melhor e mais generosamente, sem qualquer tipo de estorvo, me abrir à Vossa graça, mergulhar no Vosso Coração Misericordioso, só n’Ele viver, só para Ele viver e só d’Ele me alimentar, e tendo experimentado a grandeza da Vossa Misericórdia e do Vosso Amor, para Vós "todos" encaminhe.
Nutri de eternidade a minha vida, e permiti que à medida que se consome e gasta por amor a Vós, carregue comigo toda a Humanidade para Vo-la apresentar. Como a lâmpada do Sacrário, a minha vida ilumine e conduza o caminho dos demais para o Vosso seio, Ó Deus Santo, Forte, Imortal.
Que eu saiba assumir, como meu, o projecto de vida de São João Baptista: “Ele é que deve crescer, e eu diminuir” (Jo 3, 30).
Que a minha alegria esteja em não ser nada para que Vós sejais “Tudo” em todos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

PALAVRA DE VIDA
OUTUBRO de 2010
Chiara Lubich
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 39).
Esta frase já existia no Antigo Testamento (Lv 19, 18). Mas, para responder a uma pergunta traiçoeira, Jesus integra-se na grande tradição profética e rabínica que procurava o princípio unificador da Torah, isto é, do ensinamento de Deus contido na Bíblia. O Rabi Hillel, um seu contemporâneo, tinha dito: «Não faças ao teu próximo aquilo que é odioso a ti; nisto está toda a lei» (Shabb. 31a).
Para os mestres do Judaísmo, o amor ao próximo derivava do amor a Deus, que criou o homem à Sua imagem e semelhança. Por isso, não se pode amar a Deus sem amar a Sua criatura: este é o verdadeiro motivo do amor ao próximo, e é «um grande princípio geral na lei» (Rabi Akiba, Slv 19, 18).
Jesus reforça esse mesmo princípio e acrescenta que o mandamento de amar o próximo é semelhante ao primeiro e maior mandamento, que diz para amar a Deus com todo o coração, a mente e a alma. Ao confirmar uma relação de semelhança entre os dois mandamentos, Jesus liga-os definitivamente. E toda a tradição cristã manteve esta ligação, como dirá de forma lapidar o apóstolo João: «Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê» (1 Jo 4, 20).
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 39).
E "próximo" – como afirma claramente todo o Evangelho – é cada ser humano, homem ou mulher, amigo ou inimigo, a quem se deve respeito, consideração, estima. O amor ao próximo é, ao mesmo tempo, universal e pessoal. Abraça toda a Humanidade e concretiza-se naquele-que-está-junto-de-nós.
Mas quem é que nos pode dar um coração tão grande? Quem é que pode suscitar em nós uma benevolência tal que faça considerar nossas amigas – que nos estão próximas – até pessoas que nos são completamente estranhas. Ou que nos leve a ultrapassar o amor por nós mesmos, para nos vermos reflectidos nos outros? É uma dádiva de Deus, ou melhor, é o próprio amor de Deus, que «foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado» (Rm 5, 5).
Por isso, não é um amor qualquer, uma simples amizade, ou apenas filantropia, mas é aquele amor que foi derramado nos nossos corações desde o nosso baptismo. Um amor que é a vida do próprio Deus, da Santíssima Trindade, e de que nós podemos participar. Portanto, o amor é tudo. Mas, para o podermos viver bem, é necessário conhecer as suas qualidades, descritas no Evangelho e nas Escrituras em geral.
Parece-nos poder resumir os seguintes aspectos fundamentais:
Antes de mais nada, Jesus, que morreu por todos, amando todos, ensina-nos que o verdadeiro amor é aquele que é dirigido a todos. Não é como o amor que nós vivemos muitas vezes, simplesmente humano, e que tem um alcance muito restrito: a família, os amigos, os vizinhos... O amor verdadeiro, que Jesus quer, não admite discriminações. Não distingue a pessoa simpática da antipática. Aqui não existe o bonito ou o feio, o grande ou o pequeno. Para este amor não existe aquele que é da minha pátria ou o estrangeiro, o da minha Igreja ou de uma outra, da minha religião ou de uma outra. Este amor ama a todos. E é assim que nós devemos fazer: amar a todos.
Além disso, o amor verdadeiro é o primeiro a amar, não espera por ser amado, como acontece em geral com o amor humano em que só se amam aqueles que nos amam. Não, o amor verdadeiro toma a iniciativa, como fez o Pai quando, sendo nós ainda pecadores – portanto, pessoas que não amavam –, mandou o seu Filho para nos salvar.
Portanto: amar a todos e sermos os primeiros a amar.
E ainda, o amor verdadeiro vê Jesus em cada próximo: «Foi a mim que o fizeste» (cf. Mt 25, 40), dir-nos-á Jesus no Juízo Final. E isto é válido tanto para o bem que fizermos como para o mal, infelizmente.
O amor verdadeiro ama o amigo e também o inimigo. Faz-lhe o bem e reza por ele. Jesus quer também que o amor – que Ele trouxe à Terra – se torne recíproco: que nos amemos uns aos outros, até se chegar à unidade. Todas estas qualidades do amor fazem-nos compreender e viver melhor a Palavra de Vida deste mês.
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 39).
Sim, o amor verdadeiro ama o outro como a si mesmo. E isto deve ser tomado à letra. É preciso ver no outro, realmente, a nossa imagem, e fazer ao outro aquilo que faríamos a nós mesmos. O amor verdadeiro é aquele que sabe sofrer com quem sofre, alegrar-se com quem se alegra, carregar os pesos dos outros. Que – como diz S. Paulo – sabe fazer-se um com a pessoa amada. É um amor, não apenas de sentimentos, ou de palavras bonitas, mas de factos concretos.
Aqueles que têm uma crença religiosa diferente também procuram fazer assim, através da chamada "regra de ouro" – que se encontra em todas as religiões – e que aconselha a fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós. Gandhi explica-a de um modo muito simples e eficaz: «Não posso fazer-te mal sem me ferir a mim próprio» (cf. Wilhelm Muhs, Parole del cuore, Milão 1996, p. 82).
Este mês, então, deve ser uma ocasião para pôr de novo em relevo o amor ao próximo que, assim, adquire muitos rostos: o vizinho de casa, a colega da escola, o amigo ou o parente mais chegado. Mas tem também os rostos daquela Humanidade angustiada, que a televisão traz até às nossas casas, de lugares onde há guerra ou catástrofes naturais. Antigamente, eram-nos desconhecidos e distavam de nós milhares de quilómetros. Agora, até eles se tornaram nossos próximos.
O amor sugerir-nos-á, momento a momento, o que fazer, e dilatará pouco a pouco o nosso coração até à medida do coração de Jesus.
(Palavra de Vida, Outubro de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/18, p. 7)