sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Beata Chiara "Luce" Badano
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...uma explosão de luz divina»
memória litúrgica: 29 de Outubro
(*29 de Outubro de 1971 – +7 de Outubro de 1990)
Não poderia existir lugar mais adequado para a beatificação de Chiara Badano que o Santuário do Divino Amor, aquele amor divino, que arrebatou totalmente o seu coração tão jovem e amante da vida. Todo santuário mariano é a casa de Maria, e Chiara – como todos nós – se sente bem na casa da Mãe celeste. Todo santuário mariano é também uma espécie de antecâmara do céu, pois abre a mente e o coração para o encontro com Jesus, com Maria, a mãe do Divino Amor, e com todos os anjos e santos do céu. Lembremo-nos de que a nossa Beata expirou justamente no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário, dia 7 de outubro de 1990, sussurrando à sua mãe terrena: “Adeus, esteja feliz, porque eu o sou”.
No Paraíso, a casa de Deus Amor, a Bem-aventurada Virgem Maria esperava de braços abertos esta sua filha dilecta, que tanto amava o seu Jesus e que tanto tinha sofrido em união com o Crucificado Abandonado. Maria a apertou fortemente contra o seu peito materno. Era mesmo este o desejo de Chiara: “Quando morrer, não sofrerei mais, irei para o céu e verei Jesus e Nossa Senhora”
No paraíso, também Jesus, o esposo celeste de Chiara, a saudou com as palavras de amor do Cântico dos Cânticos: “Fala o meu amado e me diz: "Levanta-te minha amada, formosa minha e vem a mim! Vê o inverno: já passou! Olha a chuva: já se foi! As flores florescem na terra, o tempo da poda vem vindo, e o canto da rola está se ouvindo em nosso campo. Despontam figos na figueira e a vinha florida exala perfume. Levanta-te, minha amada, formosa minha, vem a mim! Pomba minha, que se aninha nos vãos do rochedo, pela fenda dos barrancos... Deixa-me ver tua face, deixa-me ouvir tua voz, pois tua face é tão formosa e tão doce a tua voz!”
... Chiara, jovem de coração cristalino como a água da nascente, que encontra refúgio e consolação em Deus: “Digo a Deus: "Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim. Senhor, vós sois a minha parte de herança e meu cálice; vós tendes nas mãos o meu destino. Ponho sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita; não vacilarei. Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará seguro, porque vós não abandonareis minha alma na habitação dos mortos”. (Sal.16,2-1.5.8-10). Chiara via Deus e o mostrava nesta terra, mediante a caridade que ela tinha para com o próximo: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor [...].. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito". (1 Jo. 4,7.12). Chiara viveu ao pé da letra a palavra que Jesus nos dirigiu no Evangelho de hoje: “Permanecei no meu amor [...]. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa”. (Jo. 15,-9.11). Os dias da existência terrena de Chiara foram dias de caridade distribuída com mãos abertas. A vida que humanamente foi uma dolorosa subida ao Calvário, pela sua grande caridade se tornou uma luminosa transfiguração como num Tabor. Ela mudou a dor em alegria, as trevas em luz, dando significado e sabor também ao sofrimento do seu corpo débil. Na doença, ela se revelou uma mulher forte e sapiente: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. (Mt. 5, 13.14).
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O vestido nupcial, com o qual Chiara foi ao encontro do Senhor Jesus, estava enriquecido pelos sete diamantes da espiritualidade cristã e focolarina: Deus Amor; fazer a vontade de Deus; Palavra de Vida vivida; amor para com o próximo; amor recíproco que realiza a unidade; presença de Jesus na unidade. Mas há um sétimo diamante, o mais precioso, que brilha mais do que os outros, é o amor a Jesus Crucificado e Abandonado. Este – afirma Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares – é o ponto principal que resume a espiritualidade focolarina e que a nossa Bem-aventurada interpretou da melhor maneira. O Amor a Jesus Abandonado lhe infundiu a energia espiritual, a graça capaz de suportar toda a adversidade. Adoecendo aos 16 anos com um osteossarcoma, aceitou a cruz com sofrimento, mas com serena fortaleza. “Não tenho mais as pernas e gostaria muito de andar de bicicleta, mas o Senhor me deu asas". Sofria, mas a alma cantava. Rejeitou a morfina porque – dizia – “me tira a lucidez e eu posso oferecer a Jesus somente a minha dor”. No final de Dezembro de 1989, quando a doença a estava devorando, Chiara Lubich lhe deu a Palavra de Vida: “Quem permanece em mim e eu nele, dará muito fruto". (Jo. 15,5). No dia 26 de Julho do mesmo ano, a Lubich lhe deu um nome novo, "Luce". Nome certíssimo porque Chiara era uma explosão de luz divina, que surpreendia todos, jovens e adultos. Dizia com frequência: “Jesus é para se amar e basta”. E desde pequena, foi muito generosa no corresponder ao ideal de amor de Deus e do próximo.
As manifestações desta caridade são múltiplas. Irmã Bonária conta que Chiara durante o período da escola primária dava a sua merenda a uma colega pobre. Quando Chiara contou isso à mãe, ela acrescentava todo dia duas merendas. Ainda assim Chiara continuou distribuindo para as crianças pobres, porque nelas via Jesus.
Em Sassello vivia um rapaz, [Cesare Merialdo, já falecido], um pouco doente, que dizia coisas sem nexo, fora do lugar. Quando estava na Igreja, cantava em voz alta, desafiando muito e perturbando todos. As pessoas o marginalizavam. Um dia, na Missa da tarde, Cesare estava no banco na frente da mãe de Chiara. De repente se virou e lhe pediu que se sentasse ao seu lado. Mas a mãe não se mexeu. Voltando para casa, a senhora contou o episódio à filha. Chiara ficou séria e perguntou: “Você não se mexeu? Jesus estava no Cesare”. A mãe tranquilizou a filha: logo em seguida tinha ido se sentar ao lado de Cesare. Este rapaz, quando soube da morte de Chiara, visitou o corpo, tirou o chapéu, lhe beijou os pés e sozinho rezou o terço.
Com apenas onze anos, toma a decisão de “amar quem me for antipático”. Quando convidava alguém para almoçar dizia a mãe que colocasse a toalha melhor, “porque hoje Jesus vem nos visitar”.
Na cidade havia um certa senhora Maria, uma mulher marginalizada, não considerada por ninguém e nunca ia à Igreja. Chiara, a encontrava muitas vezes pela rua, a ajudava a levar os objectos pesados e a chamava "senhora" Maria. Quando Maria soube da morte de Chiara, quis ir à igreja. Se vestiu bem, assistiu a Missa e deu como oferta ‘cinquenta mil liras’, muito para a época.
Um dia uma amiga perguntou a Chiara: "Com os amigos no café, acontece que você fale de Jesus, que procure passar algo de Deus?‟. “Não, não falo de Deus”. "Porque deixa escapar as ocasiões?" E ela: “O mais importante não é falar de Deus. Eu o devo dar”.
Com os seus actos de caridade Chiara mostrava e dava Deus. Com os seus actos de amor a nossa Bem-aventurada encheu a mala para a sua Santa Viagem. O amor a Jesus é vivido por ela quotidianamente em muitos episódios de caridade. Não são propósitos feitos no ar, mas factos concretos. A Gianfranco Piccardo, voluntário que ia escavar trinta poços de água potável no Benin, entregou a sua poupança, "um milhão e trezentas mil liras", presente recebido no seu último aniversário, dizendo: "Não me servem, tenho tudo".
No dia de São Valentino em 1990, Chiara, já quase sempre acamada, desejou que a mãe e o pai saíssem naquela noite para jantar. A mãe encontrou a desculpa de que já não dava tempo para reservar um lugar. Chiara pegou na lista telefónica e depois de algumas tentativas, conseguiu reservar um lugar para eles num restaurante de Albissola Marina. Antes que saíssem fez estas recomendações: "Olhem-se nos olhos e não voltem antes de meia-noite". Pouco antes havia dito à mãe: "Lembre-se, mamã, que antes de mim existia papá". Chiara estava treinando os pais para ficarem sozinhos, sem ela.
Todos os que a visitavam pensavam em lhe levar afecto e consolação, mas na realidade eram eles a receber conforto e encorajamento. Durante a doença doava Jesus, não fazendo pregações, mas difundindo alegria e esperança de vida eterna. O seu apostolado era unir harmoniosamente este vale de lágrimas com a Jerusalém celeste. Uma enfermeira conta que, quando chegava uma visita, pedia que pessoa aguardasse o fim do tratamento. Quando se lhe fazia notar que depois estaria muito cansada, Chiara respondia: “Não faz mal, lá fora, é Jesus quem está esperando”.
O encontro com Chiara – chega a dizer uma testemunha – dava a “sensação de que se encontrava Deus”.
Esta jovem, de aparência frágil, na realidade era uma mulher forte. Mesmo no leito de morte fez um último dom, o das córneas ainda transplantáveis, porque não atingidas pelo mal. Foram transplantadas em dois jovens que hoje vêem graças a ela.
Uma testemunha, Ivana Pianta, lembra que Chiara, aos treze anos, fazia parte das gen 3 da Ligúria, e pela sua coerência de vida era por vezes criticada pelas amigas e até mesmo por algum sacerdote. Na pequena cidade onde morava era ridicularizada, porque era uma gen, porque ia à Missa também durante a semana, participava com atenção da aula de religião, procurava amar a todos os professores, mesmo os mais difíceis, era muito disponível para ajudar a todos. Por isso as suas amigas – e as crianças por vezes sabem ser ruinzinhas - chamavam-lhe "freira". Isso a fazia sofrer muito, mas na Mariápolis encontrava a resposta Nele, em Jesus Abandonado.
O coração de Chiara encerrava um amor grande como um oceano. Mesmo doente dizia: “Agora não tenho mais nada sadio. Porém, tenho ainda o coração com o qual posso sempre amar".
Amava o próximo, amava a Igreja, amava o Papa. Um dia, sua mãe foi à escola onde a filha estudava para conversar com uma professora que, assim que a viu, exclamou: “Na vida, a sua filha será juiz ou advogado”. De regresso a casa, a mãe pediu uma explicação sobre isso. Chiara então lhe explicou que uma professora, que não acreditava em Deus, fala mal do Papa, criticando-o pelas suas inúmeras viagens: “Eu me levantei e lhe disse: "Não concordo com o que a senhora disse‟. E acrescentei que o Papa viaja unicamente para evangelizar o mundo”.
Chiara, como Moisés, estava chegando ao fim da sua santa viagem, tinha alcançado o alto da montanha santa mais elevada, frente a frente com Deus Trindade. Dali irradiava luz e alegria, voltando a entregar ao seu próximo as tábuas da lei, como dez divinas palavras de amor, e as bem-aventuranças de Jesus, para orientar a vida terrena em direcção ao sol de Deus.
Não comum, extraordinário, incrível são adjectivos usados pelos médicos que a seguiam para descrever a serenidade e a fortaleza de Chiara diante da doença mortal. É verdade. A sua atitude não era normal, porque completamente sobrenatural, fruto da graça divina, da fé infinita e do heroísmo cheio de virtude. Ela falava do vestido de noiva para o seu funeral, como faria uma jovem que se prepara para o matrimónio. Dizia: “eu não choro, porque estou feliz”. Dizia à mãe: “quando me quiser encontrar, olhe para o céu, me encontrará numa estrelinha”.
Chiara Lubich, explicando o nome Luce, que havia dado a Chiara, escreveu que, olhando para uma fotografia dela, a jovem “não tinha os olhos da alegria simples e sim algo a mais, direi que a luz do Espírito”. Diante desta jovem, a Igreja agradece Deus Trindade pela sua vida de caridade e bondade. Chiara Badano, jovem moderna, desportista, positiva, transmite-nos uma mensagem de optimismo e de esperança. Também hoje, o breve período da juventude, pode ser vivido na santidade. Também hoje existem jovens íntegros, que na família, na escola, na sociedade não desperdiçam a própria vida. A Bem-aventurada Chiara Badano é uma missionária de Jesus, uma apóstola do Evangelho como boa nova para um mundo rico de comodidades, mas muitas vezes doente de tristeza e de infelicidade. Ela nos convida a reencontrarmos a frescura e o entusiasmo da fé. O convite é dirigido a todos: antes de tudo aos jovens, mas também aos adultos, aos consagrados, aos sacerdotes. A todos é dada a graça suficiente para se fazerem santos. Respondamos com alegria a este convite de santidade e agradeçamos ao Santo Padre Bento XVI pelo dom da Beatificação da nossa Chiara Luce. Trata-se de um sinal concreto da confiança e da estima que o Papa tem nos jovens, em quem vê o semblante jovem e santo da Igreja.

D. Ângelo Amato, SDB, Homilia na Beatificação de Chiara Luce Badano (25 de Setembro de 2010)

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