domingo, 1 de agosto de 2010

PALAVRA DE VIDA
AGOSTO de 2010
Chiara Lubich
"Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lc 1, 45).
Esta Palavra faz parte de um acontecimento muito simples, mas, ao mesmo tempo, altíssimo: é o encontro entre duas gestantes, entre duas mães, cuja simbiose espiritual e física com os seus filhos é total. Os filhos falam e sentem através das suas mães. Quando Maria fala, o menino de Isabel salta-lhe de alegria no seio. Quando fala Isabel, parece que as palavras lhe foram colocadas na boca pelo Precursor. Mas, enquanto as primeiras palavras do seu hino de louvor a Maria são dirigidas directamente à mãe do Senhor, as últimas são pronunciadas na terceira pessoa: «Feliz daquela que acreditou».
Assim, a sua «afirmação adquire um carácter de verdade universal: a bem-aventurança é válida para todos os crentes. Refere-se àqueles que acolhem a Palavra de Deus e a põem em prática, e que encontram em Maria o modelo ideal» (G. Rossé, Il Vangelo di Luca, Roma 1992, p. 67).
"Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lc 1, 45).
É a primeira bem-aventurança do Evangelho que diz respeito a Maria, mas também a todos aqueles que a quiserem seguir e imitar. Em Maria, existe uma estreita ligação entre fé e maternidade, como fruto de ouvir a Palavra. E São Lucas, aqui, sugere-nos algo que tem a ver também connosco. Mais adiante, no seu Evangelho, Jesus diz: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8, 21). Quase a antecipar estas palavras, Isabel, movida pelo Espírito Santo, anuncia-nos que cada discípulo pode tornar-se "mãe" do Senhor. A condição é que acredite na Palavra de Deus e que a viva.
"Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lc 1, 45).
Maria, depois de Jesus, é aquela que melhor e mais perfeitamente soube dizer "sim" a Deus. Está sobretudo nisto a sua santidade e a sua grandeza. E, se Jesus é o Verbo, a Palavra que se encarnou, então Maria, pela sua fé na Palavra, é a Palavra vivida, embora sendo criatura como nós, igual a nós.
O papel de Maria como mãe de Deus é excelso e grandioso. Mas Deus não chama apenas a Virgem Maria a gerar Cristo em si. Embora de outra maneira, cada cristão tem uma função semelhante: a de encarnar Cristo até poder repetir, como São Paulo: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20).
Mas como realizar isto?
Tendo a atitude de Maria em relação à Palavra de Deus, ou seja, tendo uma disponibilidade total. Acreditar, portanto, com Maria, que se irão realizar todas as promessas contidas na Palavra de Jesus e enfrentar, como Ela, se for preciso, o risco do absurdo que, às vezes, a sua Palavra comporta.
Grandes e pequenas coisas – mas sempre maravilhosas – acontecem a quem acredita na Palavra. Poder-se-iam encher muitos livros com os factos que o provam. Quem poderá esquecer quando, em plena guerra, acreditando nas palavras de Jesus «pedi, e ser-vos-á dado» (Mt 7, 7), pedimos tudo aquilo de que precisavam muitos pobres na cidade, e vinham-nos trazer sacos de farinha, latas de leite em pó e de compota, lenha, roupas? Também hoje acontecem as mesmas coisas. «Dai e ser-vos-á dado» (Lc 6, 38), e os armazéns da caridade continuam sempre cheios, mesmo se são esvaziados com regularidade.
Mas o que faz mais impressão é que as palavras de Jesus são verdadeiras sempre e em toda a parte. O auxílio de Deus chega pontualmente mesmo em circunstâncias impossíveis, e nos lugares mais isolados da Terra, como aconteceu há pouco tempo a uma mãe que vive numa grande pobreza. Um dia sentiu-se impelida a dar o último dinheiro que tinha a uma pessoa ainda mais pobre do que ela. Acreditava naquele «dai e ser-vos-á dado» do Evangelho. E sentiu uma grande paz no coração. Pouco depois, a sua filha mais nova mostrou-lhe um presente que acabara de receber de um parente idoso que, por acaso, tinha passado por ali: na sua mãozinha estava o dobro do dinheiro que ela dera.
Uma "pequena" experiência como esta impele-nos a acreditar no Evangelho. E cada um de nós pode experimentar aquela alegria, aquela bem-aventurança que nos invade quando vemos realizadas as promessas de Jesus.
Quando, na vida de todos os dias, na leitura das Sagradas Escrituras, nos encontrarmos com a Palavra de Deus, temos que abrir o nosso coração e procurar ouvi-la, acreditando que aquilo que Jesus nos pede e promete se vai realizar. Depressa vamos descobrir, como Maria e como aquela mãe, que Ele mantém as suas promessas.
Palavra de Vida, Agosto de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/14.

1 comentário:

Anónimo disse...

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