terça-feira, 2 de março de 2010

PALAVRA DE VIDA
Março de 2010
Chiara Lubich
«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Muda-te daqui para acolá”; e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (Mt 17, 20).
Quantas vezes não sentimos a necessidade de uma ajuda? Mas, ao mesmo tempo, percebemos que a nossa situação não pode ser resolvida só por meios humanos! É então que, sem nos darmos conta, nos dirigimos a Alguém que sabe tornar possíveis até as coisas impossíveis. Esse Alguém tem um nome: é Jesus.
Ele disse:
«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Muda-te daqui para acolá”; e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (Mt 17, 20).
É evidente que a expressão "mudar as montanhas" não deve ser tomada à letra. Jesus não prometeu aos discípulos o poder de realizar milagres espectaculares, para impressionar as multidões. De facto, se formos procurar em toda a história da Igreja, não vamos encontrar – que eu saiba - nenhum santo que tenha deslocado montanhas com a fé. "Mudar as montanhas" é uma hipérbole, uma maneira de falar propositadamente exagerada, para inculcar no espírito dos discípulos a ideia de que nada é impossível à fé.
De facto, todos os milagres que Jesus realizou - directamente, ou através dos seus discípulos - fê-los sempre em função do Reino de Deus, do Evangelho, ou da salvação dos homens. Deslocar uma montanha não serviria para este objectivo. A comparação com o "grão de mostarda" indica que Jesus não nos pede uma fé maior ou mais pequena. Pede-nos, sim, uma fé autêntica. E aquilo que caracteriza uma fé autêntica é o facto de nos apoiarmos unicamente em Deus e não nas nossas capacidades pessoais.
Se nos surgir uma dúvida ou uma hesitação na fé, isso significa que a nossa confiança em Deus não é ainda completa: temos uma fé muito fraca e pouco eficaz, que ainda se apoia nas nossas forças e na lógica humana. Pelo contrário, quem confia inteiramente em Deus, deixa que seja Ele mesmo a agir e...a Deus nada é impossível.
A fé que Jesus quer dos discípulos é precisamente aquela atitude cheia de confiança que permite que o próprio Deus manifeste o Seu poder. E esta fé, que consequentemente desloca montanhas, não está reservada só a pessoas excepcionais. É acessível a qualquer crente e é um dever para todos nós.
«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Muda-te daqui para acolá”; e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (Mt 17, 20).
Pensa-se que Jesus disse estas palavras, aos seus discípulos, quando estava para os enviar em missão. É fácil perder a coragem e assustar-se quando se tem a consciência de ser um pequeno rebanho mal preparado, sem talentos especiais, perante multidões imensas a quem é preciso levar a verdade do Evangelho. É fácil desanimar diante de pessoas cujos interesses são tudo menos o Reino de Deus.
Parece uma tarefa impossível.
É então que Jesus garante aos seus que, com a fé, "mudarão as montanhas" da indiferença, do desinteresse de todos.
Se tiverem fé, nada lhes será impossível. Esta frase, além disso, pode ser aplicada a todas as outras circunstâncias da vida, desde que se orientem para o progresso do Evangelho e para a salvação das pessoas.
Às vezes, perante dificuldades intransponíveis, pode surgir a tentação de não nos dirigirmos sequer a Deus. A lógica humana sugere: não é preciso, de que é que adianta?...
É para esses casos que Jesus nos exorta a não perdermos a coragem e a dirigirmo-nos a Deus com confiança. De um modo ou de outro Ele vai ajudar-nos.
Foi o que aconteceu com a Lella.
Havia alguns meses que começara, cheia de esperança, a seu novo trabalho na Bélgica, com o povo flamengo. Mas agora sentia-se oprimida por um sentimento de desânimo e de solidão. Parecia que entre ela e as colegas, com quem trabalhava e vivia, se tinha erguido uma barreira intransponível.
Sentia-se isolada, estrangeira, no meio daquela gente, que gostaria de servir simplesmente com amar. E isto parque tinha que falar uma língua que não era a sua nem a de quem a ouvia. Tinham-lhe dito que na Bélgica toda a gente falava francês. E ela foi aprendê-lo. Mas, quando entrou em contacto directo com aquele povo, verificou que os flamengos só estudam francês na escola e, em geral, quando têm que falar em francês, fazem-no de má vontade. Tentara muitas vezes afastar aquela montanha de marginalização que a mantinha afastada das outras, mas em vão. O que poderia fazer, por elas? Não lhe saía da memória o rosto da sua companheira Godeliève, cheio de tristeza. Naquela noite tinha-se retirado para o quarto sem tocar na comida.
A Lella tinha tentado segui-la, mas, ao chegar à porta do quarto, detivera-se, tímida e hesitante. Quisera bater... mas que palavras utilizar para se fazer compreender? Ficara ali alguns segundos. Depois, rendera-se uma vez mais.
Na manhã seguinte entrou na igreja e sentou-se lá no fundo, num dos últimos bancos. Escondeu a cara entre as mãos para ninguém ver, as suas lágrimas. Ali era o único lugar onde não era preciso falar outra língua, onde nem seque, era necessário explicar-se, porque estava ali Alguém que compreendia para além das palavras. Foi a certeza daquela compreensão que lhe deu coragem. E, com a alma cheia de angústia, perguntou a Jesus: «Porque é que não posso partilhar com as outras a sua cruz e dizer aquelas palavras que Tu mesmo me fizeste compreender quando Te encontrei: que todos os sofrimentos são amor?».
E ficou diante do tabernáculo, quase à espera de uma resposta de Quem lhe tinha iluminado todos os vazios da sua vida.
Olhou depois para o Evangelho daquele dia e leu: «Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (cf. Jo 16, 33). Aquelas palavras caíram como um bálsamo na alma da Lella, que sentiu uma grande paz.
Quando voltou para casa para o pequeno-almoço encontrou logo a Annj, que era a responsável pela ordem da casa. Cumprimentou-a e foi atrás dela até à dispensa. Depois, em silêncio, começou a ajudá-la a preparar a pequeno-almoço.
A primeira a descer do quarto foi a Godeliève. Vinha buscar o café à cozinha, à pressa, para não ver ninguém. Mas, naquele momento, parou: a paz da Lella impressionou a sua alma mais do que qualquer palavra.
À tarde, quando voltavam para casa, de bicicleta, a Godeliève aproximou-se da Lella e, procurando falar de maneira que ela compreendesse, sussurrou-lhe: «Não precisas de falar. Hoje a tua vida disse-me: "Ama tu também!"».
A montanha tinha-se deslocado.
«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Muda-te daqui para acolá”; e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (Mt 17, 20).
Palavra de Vida, Setembro de 1979, publicada em Essere la Tua Parola/2. Chiara Lubich e cristiani di tutta il mondo, Roma 1982, pp. 71-74.

1 comentário:

Gisele Resende disse...

Padre Marcelino,

obrigada pela partilha,

abraços fraternos,

Gisele