quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Palavra de Vida
Outubro de 2008
Chiara Lubich
«Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante, será lançada no vosso regaço» (Lc 6, 38).
Nunca te aconteceu receberes uma prenda de um amigo e sentires logo o desejo de lhe retribuir? E de fazer isso não tanto para cumprir uma obrigação, mas por um sentimento verdadeiro de amor e reconhecimento? Tenho a certeza que sim.
Se isto sucede connosco, imagina como será com Deus, com Deus que e Amor.
Ele retribui sempre todas as ofertas que fazemos aos nossos próximos em Seu nome. É uma experiência que os cristãos verdadeiros fazem com muita frequência. E, de cada vez, e sempre uma surpresa. Nunca nos habituamos à imaginação de Deus. Poderia dar-te mil ou dez mil exemplos. Poderia até escrever um livro acerca disso. Verias como é verdadeira aquela imagem - «uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante, será lançada no vosso regaço» -, que representa a abundância com que Deus retribui, representa a Sua magnanimidade.
«Já era noite em Roma. No apartamento de uma cave, um pequeno grupo de raparigas, que queriam viver o Evangelho, davam as boas-noites. Nisto, toca a campainha. Quem seria àquela hora? Era um homem, em pânico, desesperado: no dia seguinte ia ser expulso de casa com a família, porque não tinha dinheiro para pagar a renda. As raparigas olharam umas para as outras e, num acordo silencioso, abriram a gavetinha onde, em envelopes separados, tinham guardado o resto dos seus salários e uma reserva para pagar o gás, o telefone e a electricidade. Deram tudo àquele homem, sem pensar duas vezes. E foram dormir, felizes. Alguém haveria de pensar nelas. Mas ainda o dia não tinha nascido, quando o telefone tocou. "Vou já para aí, de táxi", disse aquele mesmo homem. Admiradas com o meio de transporte que ia usar, as raparigas ficaram à espera. Pela expressão do visitante, qualquer coisa tinha mudado: "Ontem à noite, quando cheguei a casa, encontrei uma carta a comunicar-me uma herança que nunca pensei que fosse receber. O meu coração sugeriu-me logo que vos desse metade do dinheiro”: A quantia era exactamente o dobro daquilo que elas generosamente tinham dado».
«Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante, será lançada no vosso regaço» (Lc 6, 38).
Já alguma vez fizeste uma experiência deste género? Se ainda não, lembra-te que a nossa oferta deve ser feita desinteressadamente, a quem quer que nos peça, sem esperar que seja retribuída.
Experimenta. Mas não o faças para ver o resultado, mas só porque amas a Deus.
Vais dizer-me: «Mas eu não tenho nada».
Não é verdade. Se quisermos, temos tesouros imensos e inesgotáveis: o nosso tempo livre, o nosso afecto, o nosso sorriso, o nosso conselho, a nossa cultura, a nossa paz, a nossa palavra para convencer aqueles que podem dar qualquer coisa a quem não tem...
Vais-me dizer ainda: «Mas eu não sei a quem dar».
Olha à tua volta: lembra-te daquele doente no hospital, daquela senhora viúva sempre sozinha, daquele teu colega tão desanimado porque perdeu o ano, daquele jovem desempregado sempre triste, do teu irmãozito que precisa da tua ajuda, daquele amigo que está na cadeia, daquele aprendiz hesitante. É neles que Cristo está à tua espera.
Assume um novo tipo de comportamento, o do cristão - totalmente impregnado de Evangelho -, que é um comportamento anti-egoísta e despreocupado. Renuncia a pôr a tua segurança nos bens da Terra e apoia-te em Deus. É assim que se irá ver a tua fé n'Ele. E em breve será confirmada, pela oferta que voltarás a receber.
E é lógico que Deus não procede assim para te enriquecer ou para nos enriquecer. Ele faz isso para que outros, muitos outros, ao ver os pequenos milagres que se realizam com o nosso dar, também façam o mesmo. Ele faz isso para que, quanto mais tivermos, mais possamos dar. Para que - como verdadeiros administradores dos bens de Deus - façamos circular tudo na comunidade que nos rodeia, até que se possa dizer, como se dizia da primeira comunidade de Jerusalém: entre eles não havia nenhum pobre (cf. Act 4, 34).
Vais sentir que, assim, contribuis para dar uma segurança interior à revolução social que o mundo espera.
«Dai e ser-vos-á dado». É claro que Jesus estava a pensar, em primeiro lugar, na recompensa que vamos receber no Paraíso. Mas tudo o que acontece nesta Terra e já um prelúdio e uma garantia do Paraíso.
(Palavra de Vida, Junho de 1978. Publicada em Essere la tua Parola, Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, Roma, 1980, pp. 49-51)

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