terça-feira, 13 de agosto de 2024


 O patriarca latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, convida todos os fiéis católicos a rezar à Virgem Santa pela paz na região, na solenidade da sua Assunção ao Céu.

Súplica especial pela paz

à Bem-Aventurada Virgem Maria Assunta ao Céu

Gloriosa Mãe de Deus

elevada acima dos coros dos anjos,

rogai por nós com são Miguel Arcanjo

e com todas as potências angélicas do céu e com todos os santos

ao vosso santíssimo e dileto Filho, Senhor e Mestre.

Obtenha para esta Terra Santa,

para todos os vossos filhos e para toda a humanidade

o dom da reconciliação e da paz.

Amen.

domingo, 11 de agosto de 2024

Clara de Assis

 PAPA BENTO XVI AUDIÊNCIA GERAL

Sala Paulo VI, 4ª feira, 15 de Setembro de 2010

Prezados irmãos e irmãs

Uma das Santas mais amadas é, sem dúvida, Santa Clara de Assis, que viveu no século XIII, contemporânea de São Francisco. O seu testemunho mostra-nos como a Igreja inteira é devedora a mulheres intrépidas e ricas de fé como ela, capazes de dar um impulso decisivo para a renovação da Igreja.

Portanto, quem era Clara de Assis? Para responder a esta pergunta, dispomos de fontes seguras: não apenas das antigas biografias, como a de Tomás de Celano, mas também das Actas do processo de canonização promovido pelo Papa só poucos meses depois da morte de Clara e que contém os testemunhos daqueles que viveram ao seu lado durante muito tempo.

Tendo nascido em 1193, Clara pertencia a uma família aristocrática e rica. Renunciou à nobreza e à riqueza para viver humilde e pobre, seguindo a forma de vida proposta por Francisco de Assis. Embora os seus parentes, como acontecia nessa época, começavam a programar para ela um matrimónio com uma personalidade importante, Clara, com 18 anos de idade, com um gesto audaz inspirado pelo profundo desejo de seguir Cristo e pela admiração que tinha por Francisco, deixou a casa paterna e, em companhia de uma das suas amigas, Bona de Guelfuccio, uniu-se secretamente aos frades menores na pequena igreja da Porciúncula. Era a tarde do Domingo de Ramos de 1211. Na comoção geral, foi levado a cabo um gesto profundamente simbólico: enquanto os seus companheiros seguravam nas mãos algumas tochas acesas, Francisco cortou-lhe os cabelos e Clara vestiu o rude hábito penitencial. A partir daquele momento, ela tornou-se a virgem esposa de Cristo, humilde e pobre, consagrando-se totalmente a Ele. Como Clara e as suas companheiras, inúmeras mulheres ao longo da história ficaram fascinadas pelo amor a Cristo que, na beleza da sua Pessoa divina, enche o seu coração. E a Igreja inteira, por intermédio da mística vocação nupcial das virgens consagradas, mostra-se como sempre será: a Esposa bonita e pura de Cristo.

Numa das quatro cartas que Clara enviou a Santa Inês de Praga, filha do rei da Boémia, que desejava seguir os seus passos, fala de Cristo, seu amado Esposo, com expressões nupciais que podem causar admiração, mas que comovem: «Amando-o, és casta, tocando-o, serás pura, deixando-te possuir por Ele, és virgem. O seu poder é mais forte, a sua generosidade é mais elevada, o seu aspecto é mais excelso, o amor é mais suave e todas as graças mais sublimes. Já foste conquistada pelo seu abraço, que ornamentou o seu peito com pedras preciosas... coroando-te com um diadema de ouro, marcado com o sinal da santidade» (Primeira Carta: FF, 2862).

Principalmente no início da sua experiência religiosa, Clara encontrou em Francisco de Assis não apenas um mestre cujos ensinamentos devia seguir, mas inclusive um amigo fraterno. A amizade entre estes dois santos constitui um aspecto muito bonito e importante. Com efeito, quando se encontram duas almas puras e inflamadas pelo mesmo amor a Deus, elas haurem da amizade recíproca um estímulo extremamente forte para percorrer o caminho da perfeição. A amizade é um dos sentimentos humanos mais nobres e elevados que a Graça divina purifica e transfigura. Como São Francisco e Santa Clara, também outros Santos viveram uma profunda amizade no caminho rumo à perfeição cristã, como São Francisco de Sales e Santa Joana Francisca de Chantal. E é precisamente São Francisco de Sales que escreve: «É bom poder amar na terra como se ama no céu, e aprendermos a amar neste mundo como havemos de fazer eternamente no outro. Aqui não me refiro ao simples amor de caridade, porque temos que ter este amor por todos os homens; refiro-me à amizade espiritual, no âmbito da qual duas, três ou mais pessoas permutam entre si a devoção e os afectos espirituais, tornando-se realmente um só espírito» (Introdução à vida devota, III, 19).

Depois de ter transcorrido um período de alguns meses no interior de outras comunidades monásticas, resistindo às pressões dos seus familiares que inicialmente não aprovaram a sua escolha, Clara estabeleceu-se com as primeiras companheiras na igreja de São Damião, onde os frades menores tinham organizado um pequeno convento para si mesmos. Naquele mosteiro ela viveu por mais de quarenta anos, até à morte, ocorrida em 1253. Dispomos de uma descrição de primeira mão, sobre o modo como estas mulheres viviam naqueles anos, nos primórdios do movimento franciscano. Trata-se do relatório admirado de um bispo flamengo em visita à Itália, D. Tiago de Vitry, que afirma ter-se encontrado com um grande número de homens e mulheres, de todas as classes sociais que, «deixando tudo por Cristo, fugiam do mundo. Chamavam-se frades menores e irmãs menores e são tidos em grande consideração pelo Senhor Papa e pelos cardeais... As mulheres... vivem juntas, em diversos hospícios não distantes das cidades. Nada recebem, mas vivem do trabalho das suas próprias mãos. E sentem-se profundamente amarguradas e incomodadas, porque são honradas mais do que desejariam por clérigos e leigos» (Carta de Outubro de 1216: FF, 2205.2207).

Tiago de Vitry tinha reconhecido com perspicácia uma característica da espiritualidade franciscana, à qual Clara era muito sensível: a radicalidade da pobreza, associada à confiança total na Providência divina. Por este motivo, ela agiu com grande determinação, obtendo da parte do Papa Gregório IX ou, provavelmente, já do Papa Inocêncio III, o chamado Privilegium paupertatis (cf. FF, 3279). Com base nisto, Clara e as suas companheiras de São Damião não podiam possuir qualquer propriedade material. Tratava-se de uma excepção verdadeiramente extraordinária em relação ao direito canónico então em vigor, e as autoridades eclesiásticas daquela época concederam-no, valorizando os frutos de santidade evangélica, que reconheciam no estilo de vida de Clara e das suas irmãs. Isto demonstra que, também nos séculos da Idade Média, o papel das mulheres não era secundário, mas considerável. A este propósito, é útil recordar que Clara foi a primeira mulher na história da Igreja que compôs uma Regra escrita, submetida à aprovação do Papa, para que o carisma de Francisco de Assis fosse conservado em todas as comunidades femininas, que se iam estabelecendo em grande número já naquela época e que desejavam inspirar-se no exemplo de Francisco e de Clara.

No convento de São Damião, Clara praticou de maneira heróica as virtudes que deveriam distinguir cada cristão: a humildade, o espírito de piedade e de penitência, a caridade. Não obstante fosse a superiora, ela queria servir pessoalmente as irmãs enfermas, sujeitando-se inclusive a tarefas extremamente humildes: com efeito, a caridade ultrapassa qualquer resistência, e quem ama realiza todo o sacrifício com alegria. A sua fé na presença real da Eucaristia era tão grande que, por duas vezes, se verificou um acontecimento milagroso. Só com a ostensão do Santíssimo Sacramento, ela afugentou os soldados mercenários sarracenos, que estavam prestes a invadir o convento de São Damião e a devastar a cidade de Assis.

Também estes episódios, assim como outros milagres dos quais se conservava a memória, impeliram o Papa Alexandre IV a canonizá-la apenas dois anos depois da sua morte, em 1255, delineando um seu elogio na Bula de canonização, em que lemos: «Como é vivo o poder desta luz e como é forte a resplandecência desta fonte luminosa! Na realidade, esta luz mantinha-se fechada no escondimento da vida claustral, enquanto fora irradiava clarões luminosos; recolhia-se num mosteiro angusto, enquanto fora se difundia em toda a vastidão do mundo. Conservava-se dentro e propagava-se fora. Com efeito, Clara escondia-se, mas a sua vida era revelada a todos. Clara calava-se, mas a sua fama clamava» (FF, 3284). E é precisamente assim, estimados amigos: são os Santos que mudam o mundo para melhor, que o transformam de forma duradoura, infundindo as energias que unicamente o amor inspirado pelo Evangelho pode suscitar. Os Santos são os grandes benfeitores da humanidade!

A espiritualidade de Santa Clara, a síntese da sua proposta de santidade é condensada na quarta Carta a Santa Inês de Praga. Santa Clara recorre a uma imagem muito difundida na Idade Média, de ascendências patrísticas: o espelho. E convida a sua amiga de Praga a reflectir-se naquele espelho de perfeição de todas as virtudes, que é o próprio Senhor. Ela escreve: «Sem dúvida, feliz é aquela a quem é concedido beneficiar desta sagrada união, para aderir com o profundo do coração [a Cristo], Àquele cuja beleza é admirada incessantemente por todas as bem-aventuradas plêiades dos céus, cujo afecto apaixona, cuja contemplação restabelece, cuja benignidade sacia, cuja suavidade satisfaz, cuja recordação resplandece suavemente, diante de cujo perfume os mortos voltarão à vida e cuja visão gloriosa tornará bem-aventurados todos os cidadãos da Jerusalém celeste. E dado que Ele é esplendor da glória, candura da luz eterna e espelho sem mancha, olha todos os dias para este espelho, ó rainha esposa de Jesus Cristo, e nela perscruta continuamente o teu rosto, para que assim tu possas adornar-te inteiramente no interior e no exterior... Neste espelho refulgem a bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade» (Quarta Carta: FF, 2901-2903).

Gratos a Deus que nos doa os Santos que falam ao nosso coração e nos oferecem um exemplo de vida cristã a imitar, gostaria de concluir com as mesmas palavras de bênção que Santa Clara compôs para as suas irmãs de hábito e que ainda hoje as Clarissas, desempenhando um papel precioso na Igreja com a sua oração e a sua obra, conservam com grande devoção. São expressões em que sobressai toda a ternura da sua maternidade espiritual: «Abençoo-vos na minha vida e após a minha morte, como posso e mais do que posso, com todas as bênçãos com as quais o Pai da misericórdia abençoou e há-de abençoar no céu e na terra os filhos e as filhas, e com as quais um pai e uma mãe espiritual abençoaram e hão-de abençoar os seus filhos e as suas filhas espirituais. Amém!» (FF, 2856).

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

 Palavra de Vida

Agosto de 2024

Silvano Malini e equipa da Palavra de Vida

«Senhor, que bom é nós estarmos aqui!» (Mt 17,4)

Jesus caminhava com os seus discípulos em direção a Jerusalém. Perante o anúncio de que ali deveria sofrer, morrer e ressuscitar, Pedro revoltou-se, expressando a consternação e a incompreensão de todos. Então, o Mestre tomou-o consigo, juntamente com Tiago e João, subiu a um alto monte, e ali se mostrou aos três numa luz nova e extraordinária: o seu rosto resplandeceu como o sol e apareceram Moisés e o profeta Elias a conversar com Ele. O próprio Pai, de uma nuvem luminosa, fez ouvir a Sua voz, convidando-os a escutar Jesus, o Seu Filho predileto. Diante desta surpreendente experiência, Pedro não queria ir-se embora, e exclamou:

«Senhor, que bom é nós estarmos aqui!» (Mt 17,4)

Jesus convidou os seus amigos mais chegados para viverem uma experiência inesquecível, para que a guardassem sempre no seu íntimo. 

Talvez também nós tenhamos experimentado com maravilha e emoção a presença e a ação de Deus na nossa vida, em momentos de alegria, paz e luz que desejávamos que nunca terminassem. É frequente experimentarmos estes momentos juntamente com outras pessoas ou graças a elas. De facto, o amor recíproco atrai a presença de Deus, porque, como Jesus prometeu: «Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles» (Mt 18, 20). Muitas vezes, nestes momentos de intimidade, Ele faz-nos ver quem nós somos e ler os acontecimentos através do Seu olhar.

Estas experiências são-nos concedidas para termos a força de enfrentar as dificuldades, as provas e o cansaço que encontramos no caminho, tendo no coração a certeza de ter sido olhados por Deus, que nos chamou para fazer parte da história da salvação.

De facto, depois de descerem do monte, os discípulos seguiram juntos para Jerusalém, onde os esperava uma multidão cheia de esperança, mas também ciladas, confrontos, ódio e sofrimentos. Dali «serão dispersos e enviados aos confins da terra para serem testemunhas da nossa morada definitiva, o Reino» de Deus [T. Radcliffe, OP, Segunda meditação aos participantes na Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, Sacrofano, 1 de outubro de 2023.]

Puderam começar a construir, já nesta vida, a casa de Deus entre os homens, porque estiveram em casa com Jesus sobre o monte.

«Senhor, que bom é nós estarmos aqui!» (Mt 17,4)

«Levantai-vos e não tenhais medo» (Mt 17,7), foi o convite de Jesus no final desta extraordinária experiência. É-nos dirigido também a nós. Como os seus discípulos e amigos, poderemos enfrentar com coragem aquilo que nos espera.

Foi o que aconteceu também a Chiara Lubich. Estava a terminar um período de férias tão rico de luz que foi designado o paraíso de 1949, devido à perceção da presença de Deus na pequena comunidade com quem transcorria esse tempo de repouso e à extraordinária contemplação dos mistérios da fé. Também ela sentia o desejo de não regressar à vida de todos os dias. Fê-lo com um novo ímpeto, porque compreendeu que, precisamente por essa experiência de iluminação, devia descer do monte e colocar-se em ação como instrumento de Jesus na realização do seu Reino, injetando o Seu amor e a Sua luz onde eram mais necessários, mesmo através de fadiga e de sofrimentos.

«Senhor, que bom é nós estarmos aqui!» (Mt 17,4)

Mas, se porventura nos vier a faltar a luz, devemos voltar com o coração e com a mente aos momentos em que o Senhor nos iluminou. Se ainda não tivermos feito a experiência da sua proximidade, procuremo-la. Será preciso fazer o esforço de subir ao monte para ir ao Seu encontro no próximo, para O adorar nas nossas igrejas, e também para O contemplar na beleza da natureza. 

Porque Ele está sempre ali para nós: basta que caminhemos com Ele e, fazendo silêncio, nos coloquemos humildemente à escuta, tal como Pedro, João e Tiago  [Cf. Mt 17, 6.].