quarta-feira, 24 de março de 2010

«SÓ JESUS»
“De repente, olhando em redor, já não viram ninguém, a não ser só Jesus, com eles.” (Mc 9, 8). “Só Jesus” (Mc 9, 8), nesta expressão, que conclui a narrativa da Transfiguração encerra-se todo um programa de vida.
É óbvio que, “só Jesus” (Mc 9, 8) não significa que possamos deixar de lado o Pai e o Espírito Santo e sim que Jesus é o único lugar no qual Deus-Trindade se manifesta plenamente e operante para os homens. Significa que ninguém vai ao Pai a não ser por meio dEle, por meio de Jesus (cf. Jo 14, 6).“Só Jesus” (Mc 9, 8), os pensamentos, projectos, preocupações inúteis voam para longe, fazendo-se no coração um profundo silêncio e uma paz profunda, porque habitado por Deus, Aquele Deus de que temos absoluta necessidade, de que temos uma sede abrasante.
cf. CANTALAMESSA, Raniero, “O Mistério da Transfiguração”,
Edições Loyola, São Paulo, 2001, pgs. 36-37.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Nota Pastoral sobre a Visita do Papa Bento XVI a Portugal
Segundo documento dos Bispos portugueses sobre a viagem do Papa a Portugal
A visita do Papa Bento XVI a Portugal é um acontecimento de singular importância e, por isso, deve ser preparada condignamente, não apenas no brilho exterior e no ambiente festivo, mas sobretudo no horizonte da fé, da construção da unidade eclesial e de uma sociedade mais justa e fraterna.
Vem até nós como peregrino e a Igreja em Portugal deverá caminhar com o sucessor de Pedro, redescobrindo no cristianismo uma experiência de sabedoria e missão.
Sabedoria vivida no conhecimento das realidades terrestres, a partir de uma referência a valores, de modo que, na fidelidade à identidade cristã, sejamos capazes de dar um contributo positivo à construção de uma sociedade mais justa; missão como itinerário de uma vida que se quer mergulhada no mundo, mas diferente em opções e atitudes, e que, sobretudo pelo exemplo, anuncia Cristo e a sua boa nova.
1. PREPARAÇÃO ADEQUADA
Há uma feliz coincidência entre o tempo que antecede a visita do Santo Padre e a vivência litúrgica da Quaresma e do Tempo Pascal.
1.1. Na Quaresma, será importante reflectir e responder aos desafios da mensagem preparada pelo Papa Bento XVI: “A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo” (cf. Rm 3, 21-22). Destacamos três pensamentos:
– A justiça será possível na medida em que se der ao homem o que ele verdadeiramente requer: Deus. Isto acontecerá através do testemunho de comunidades que se deixaram converter pelas interpelações de um anúncio fiel do Evangelho.
– Comprometer-se com a justiça exige trabalho interior para afastar uma “força de gravidade estranha” que permanentemente nos impele para o egocentrismo, a afirmação pessoal e o individualismo. Só vivendo em conversão permanente, a Igreja poderá apresentar‑se com credibilidade, num mundo em que se pretende impor o relativismo e o indiferentismo.
– Ser justo implica assumir uma dinâmica libertadora do pobre, do oprimido, do estrangeiro, da viúva, do órfão... “O cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver, segundo a própria dignidade de pessoa humana, e onde a justiça é vivificada pelo amor”.
1.2. A Páscoa pode e deve tornar-se tempo favorável para mostrar ao mundo um “rosto de gente salva”, feliz, porque infinitamente amada por Deus. É importante que Cristo actue em nós, nos redima, nos transforme a mente e o coração, nos liberte do mal. Só assim seremos verdadeiros rostos de Cristo no mundo onde Ele nos envia e aí assumiremos o estatuto de apóstolos corajosos que concretizam uma necessária e urgente comunicação de Cristo nos ambientes do agir quotidiano: política e saúde, indústria e comércio, agricultura e pescas, educação e ensino, trabalho e lazer.
O dinamismo da Páscoa de Cristo precisa de encarnar em atitudes e gestos de esperança perseverante e de amor criativo.
2. ACOLHER A MENSAGEM
A visita do Papa não é apenas a Lisboa, a Fátima e ao Porto, mas a todo o Portugal, a todos os portugueses e também aos nossos irmãos imigrantes que trabalham e convivem connosco. O Papa a todos quer saudar, independentemente do seu credo ou da sua ideologia.
Assim, a nossa presença nos diversos momentos e lugares do programa da visita, testemunhará o amor ao Papa e a vontade explícita de aceitar as suas propostas. Para facilitar a comunicação, foi criado um site oficial – www.bentoxviportugal.pt – onde é possível encontrar as mais variadas informações, de modo a dinamizar a preparação, a realização e a continuidade da visita.
3. CONTINUIDADE E COMPROMISSOS
A nossa tradição cristã está marcada pelo respeito, apreço e fidelidade à Igreja de Roma. A cátedra de Pedro e dos seus sucessores, como recorda S. Inácio de Antioquia, é «a que preside na caridade», entre todas as Igrejas locais.
Preparar a visita do Papa Bento XVI e acolher os seus desafios deverá desenvolver em nós os dinamismos seguintes:
– Reavivar a nossa fé através de um encontro mais consciente com a Palavra de Deus, dando às nossas comunidades um rosto missionário.
– Dinamizar a nossa esperança, para podermos abrir caminhos de solução às dificuldades e crises que a nossa sociedade atravessa.
– Revigorar a nossa caridade, dando maior consistência aos inúmeros espaços de solidariedade e acção social, como resposta aos dramas da sociedade, particularmente as novas formas de pobreza.
– Fortalecer a nossa unidade através de um projecto de pastoral comum, acolhido por todas as comunidades, com o intuito de poder responder às alterações civilizacionais em que vivemos.
4. ACÇÕES CONCRETAS A PROMOVER
Confiando na criatividade das Dioceses e Paróquias, Congregações e Movimentos, apresentamos algumas sugestões para a preparação da visita de Sua Santidade o Papa Bento XVI:
– Colocar esta visita nas intenções da oração pessoal e comunitária.
– Aproveitar as acções de formação que a Igreja costuma promover (Retiros, Cursos, Encontros, Palestras, Publicações) para abordar temas relacionados com o Papa: Igrejas particulares e Igreja universal; Missão do Bispo de Roma e Pastor da Igreja universal; Catolicidade e diversidade, obediência e liberdade na Igreja; Temas fundamentais do magistério do Papa Bento XVI, etc.
– Promover e facilitar a participação nas celebrações eucarísticas presididas pelo Santo Padre em Portugal (Lisboa, Fátima e Porto) e noutros encontros de sectores.
Queremos apelar a todos, para que não deixem que esta visita do Santo Padre se esgote num mero acontecimento passageiro, porventura muito participado e festivo, mas que seja antes uma semente que germine e dê frutos de renovação espiritual, apostólica e social.
Fátima, 1 de Março de 2010
São José
…a Igreja … implora a protecção de São José … e recomenda-lhe todas as suas solicitudes, também pelo que se refere às ameaças que incumbem sobre a família humana. Nos dias de hoje, temos ainda numerosos motivos para rezar:
«Afastai de nós, ó pai amantíssimo,
esta peste de erros e de vícios...,
assisti-nos propício, do céu,
nesta luta contra o poder das trevas ...;
e assim como outrora livrastes da morte
a vida ameaçada do Menino Jesus,
assim hoje defendei a santa Igreja de Deus
das ciladas do inimigo
e de todas as adversidades».
Hoje ainda temos motivos que perduram para recomendar todos e cada um dos homens a São José. Que São José obtenha para a Igreja e para o mundo, assim como para um de nós, a bênção do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
João Paulo II, «REDEMPTORIS CUSTOS», 31.32

quarta-feira, 17 de março de 2010

A Alegria
“…o meu coração alegra-se com a tua salvação.”
(Sl 13, 6)
Aquele que se sabe objecto do Amor sem medida do seu Deus, só pode alegrar-se e exultar: "Os que o Senhor libertou vol­ta­rão e virão para Sião com cânticos de triunfo. Uma alegria eterna iluminará o seu rosto, um regozijo transbordante os se­guirá, e as aflições desaparecerão” (Is 51, 11). A isso nos desafia o apóstolo Paulo que diz: “…meus irmãos, alegrai-vos no Senhor” (Fl 3, 1), “Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!” (Fl 4, 4), “Sede sempre alegres” (1Ts 5, 16). Essa é a experiência dos primeiros cristãos: “Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo” (Act 13, 52).
Por tudo isto, se fazemos a profunda experiência de nos sentirmos amados e se nos sabemos membros de um povo de resgatados, alegra-mo-nos e rejubilamos para sem­­pre (cf. Is 65, 18), pois "Os que o Senhor libertou vol­ta­rão e virão para Sião com cânticos de triunfo. Uma alegria eterna iluminará o seu rosto, um regozijo transbordante os se­guirá, e as aflições desaparecerão” (Is 51, 11).
O Senhor dá uma alegria maior ao nosso coração do que àqueles que vivem em abundância (cf. Sl 4, 8). O que vive na presença de Deus é um homem de “coração alegre” (Pr 17, 22) e a alegria eterna ilumina o seu rosto (cf. Is 51, 11).
Porque nos sabemos objecto do Amor Infinito e Misericordioso de Deus, que nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino do seu amado Filho, no qual tem a redenção (cf. Cl 1, 13), alegra-mo-nos, até mesmo se tivermos de derramar o nosso sangue em sacrifício e oferta pela fé (cf. Fl 2, 17).
A alegria interior e exterior é naturalmente característica dos discípulos do Senhor Ressuscitado: “Não nos ardia o coração (?)” (Lc 24, 32), “como, na sua alegria, não queriam acreditar de assombrados que estavam” (Lc 24, 41).

segunda-feira, 8 de março de 2010

Celibato consagrado e Oração
“…há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos,
por amor do Reino do Céu.” (Mt 19, 12)

O primeiro fim do celibato consagrado é libertar para deixar lugar a Jesus, o Senhor, no amor. Como as demais formas de ascese, o celibato requer muita atenção, pois a renúncia que impõe não pode deixar de causar uma ferida, cuja cicatriz sagrará durante muito tempo. O celibato produz também um vazio afectivo que não deve reprimir a capacidade afectiva, pelo contrário, deve libertá-lo, fazê-lo disponível para o Senhor Jesus e para a sua Igreja e em primeiro lugar para os irmãos com quem vive. Isto, não se consegue de um dia para o outro, só pode ser fruto de um longo caminho no qual a oração tem um importantíssimo papel. O célibe deve recorrer espontaneamente à oração no meio de certos conflitos causados pelo desejo: “Senhor, salva-nos, que perecemos!” (Mt 8, 25).
Pouco a pouco, a oração assumirá um papel cada vez mais importante e fundamental. A força de colocar-se diante do Senhor, de agarrar-se a Ele, de tentar permanecer na Sua presença, de povoar o silêncio com a invocação do seu nome, de fixar o olhar no Seu Rosto, a parte que fica disponível em nós por causa do celibato, ficará progressivamente assumida neste abraço de fé que nos faz aderir ao Senhor Jesus. Nenhum valor, nenhum capital afectivo se perderá. No doce esforço da oração, a solidão do célibe se transformará em comunhão de amor. Tudo fica tomado e plenamente repleto e através de um laço de amor muito forte com a pessoa de Jesus Cristo abre-se à plenitude da vida divina.
(cf. LOUF, André, “El camino cisterciense - en la escuela del amor”, Editorial Monte Carmelo, Burgos, 2005, pgs. 108 e 109)
Tradução do Castelhano ao Português da responsabilidade do autor deste blog.

quarta-feira, 3 de março de 2010

2 Só em Deus descansa a minha alma,
d’Ele me vem a salvação.
3 Ele é meu refúgio e salvação,
minha fortaleza: jamais serei abalado.
4 Até quando investireis, vós todos,
contra um homem para o eliminar,
como se fora um muro em ruínas,
parede a desmoronar-se?
5 Pretendem derrubá-lo da sua altura,
comprazem-se na mentira;
abençoam com a boca,
mas amaldiçoam em seu coração.
6 Tu, porém, minha alma, só em Deus descansa;
d’Ele vem a minha esperança.
7 Ele é meu refúgio e salvação,
minha fortaleza: jamais serei abalado.
8 Em Deus está a minha salvação e a minha glória,
o meu abrigo seguro, o meu refúgio está em Deus.
9 Povo de Deus,
em todo o tempo ponde n’Ele a vossa confiança,
desafogai em sua presença os vossos corações: +
Deus é o nosso refúgio.

10 Os homens não passam dum sopro
e de uma mentira os filhos dos homens:
todos juntos na balança,
são mais leves que o fumo.
11 Não confieis na violência nem vos fieis no roubo;
se crescer a riqueza, não lhe entregueis o coração.
12 Uma vez falou Deus e duas ouvi:
a Deus pertence o poder.
Sl 61 (62) 2-12

terça-feira, 2 de março de 2010

PALAVRA DE VIDA
Março de 2010
Chiara Lubich
«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Muda-te daqui para acolá”; e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (Mt 17, 20).
Quantas vezes não sentimos a necessidade de uma ajuda? Mas, ao mesmo tempo, percebemos que a nossa situação não pode ser resolvida só por meios humanos! É então que, sem nos darmos conta, nos dirigimos a Alguém que sabe tornar possíveis até as coisas impossíveis. Esse Alguém tem um nome: é Jesus.
Ele disse:
«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Muda-te daqui para acolá”; e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (Mt 17, 20).
É evidente que a expressão "mudar as montanhas" não deve ser tomada à letra. Jesus não prometeu aos discípulos o poder de realizar milagres espectaculares, para impressionar as multidões. De facto, se formos procurar em toda a história da Igreja, não vamos encontrar – que eu saiba - nenhum santo que tenha deslocado montanhas com a fé. "Mudar as montanhas" é uma hipérbole, uma maneira de falar propositadamente exagerada, para inculcar no espírito dos discípulos a ideia de que nada é impossível à fé.
De facto, todos os milagres que Jesus realizou - directamente, ou através dos seus discípulos - fê-los sempre em função do Reino de Deus, do Evangelho, ou da salvação dos homens. Deslocar uma montanha não serviria para este objectivo. A comparação com o "grão de mostarda" indica que Jesus não nos pede uma fé maior ou mais pequena. Pede-nos, sim, uma fé autêntica. E aquilo que caracteriza uma fé autêntica é o facto de nos apoiarmos unicamente em Deus e não nas nossas capacidades pessoais.
Se nos surgir uma dúvida ou uma hesitação na fé, isso significa que a nossa confiança em Deus não é ainda completa: temos uma fé muito fraca e pouco eficaz, que ainda se apoia nas nossas forças e na lógica humana. Pelo contrário, quem confia inteiramente em Deus, deixa que seja Ele mesmo a agir e...a Deus nada é impossível.
A fé que Jesus quer dos discípulos é precisamente aquela atitude cheia de confiança que permite que o próprio Deus manifeste o Seu poder. E esta fé, que consequentemente desloca montanhas, não está reservada só a pessoas excepcionais. É acessível a qualquer crente e é um dever para todos nós.
«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Muda-te daqui para acolá”; e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (Mt 17, 20).
Pensa-se que Jesus disse estas palavras, aos seus discípulos, quando estava para os enviar em missão. É fácil perder a coragem e assustar-se quando se tem a consciência de ser um pequeno rebanho mal preparado, sem talentos especiais, perante multidões imensas a quem é preciso levar a verdade do Evangelho. É fácil desanimar diante de pessoas cujos interesses são tudo menos o Reino de Deus.
Parece uma tarefa impossível.
É então que Jesus garante aos seus que, com a fé, "mudarão as montanhas" da indiferença, do desinteresse de todos.
Se tiverem fé, nada lhes será impossível. Esta frase, além disso, pode ser aplicada a todas as outras circunstâncias da vida, desde que se orientem para o progresso do Evangelho e para a salvação das pessoas.
Às vezes, perante dificuldades intransponíveis, pode surgir a tentação de não nos dirigirmos sequer a Deus. A lógica humana sugere: não é preciso, de que é que adianta?...
É para esses casos que Jesus nos exorta a não perdermos a coragem e a dirigirmo-nos a Deus com confiança. De um modo ou de outro Ele vai ajudar-nos.
Foi o que aconteceu com a Lella.
Havia alguns meses que começara, cheia de esperança, a seu novo trabalho na Bélgica, com o povo flamengo. Mas agora sentia-se oprimida por um sentimento de desânimo e de solidão. Parecia que entre ela e as colegas, com quem trabalhava e vivia, se tinha erguido uma barreira intransponível.
Sentia-se isolada, estrangeira, no meio daquela gente, que gostaria de servir simplesmente com amar. E isto parque tinha que falar uma língua que não era a sua nem a de quem a ouvia. Tinham-lhe dito que na Bélgica toda a gente falava francês. E ela foi aprendê-lo. Mas, quando entrou em contacto directo com aquele povo, verificou que os flamengos só estudam francês na escola e, em geral, quando têm que falar em francês, fazem-no de má vontade. Tentara muitas vezes afastar aquela montanha de marginalização que a mantinha afastada das outras, mas em vão. O que poderia fazer, por elas? Não lhe saía da memória o rosto da sua companheira Godeliève, cheio de tristeza. Naquela noite tinha-se retirado para o quarto sem tocar na comida.
A Lella tinha tentado segui-la, mas, ao chegar à porta do quarto, detivera-se, tímida e hesitante. Quisera bater... mas que palavras utilizar para se fazer compreender? Ficara ali alguns segundos. Depois, rendera-se uma vez mais.
Na manhã seguinte entrou na igreja e sentou-se lá no fundo, num dos últimos bancos. Escondeu a cara entre as mãos para ninguém ver, as suas lágrimas. Ali era o único lugar onde não era preciso falar outra língua, onde nem seque, era necessário explicar-se, porque estava ali Alguém que compreendia para além das palavras. Foi a certeza daquela compreensão que lhe deu coragem. E, com a alma cheia de angústia, perguntou a Jesus: «Porque é que não posso partilhar com as outras a sua cruz e dizer aquelas palavras que Tu mesmo me fizeste compreender quando Te encontrei: que todos os sofrimentos são amor?».
E ficou diante do tabernáculo, quase à espera de uma resposta de Quem lhe tinha iluminado todos os vazios da sua vida.
Olhou depois para o Evangelho daquele dia e leu: «Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (cf. Jo 16, 33). Aquelas palavras caíram como um bálsamo na alma da Lella, que sentiu uma grande paz.
Quando voltou para casa para o pequeno-almoço encontrou logo a Annj, que era a responsável pela ordem da casa. Cumprimentou-a e foi atrás dela até à dispensa. Depois, em silêncio, começou a ajudá-la a preparar a pequeno-almoço.
A primeira a descer do quarto foi a Godeliève. Vinha buscar o café à cozinha, à pressa, para não ver ninguém. Mas, naquele momento, parou: a paz da Lella impressionou a sua alma mais do que qualquer palavra.
À tarde, quando voltavam para casa, de bicicleta, a Godeliève aproximou-se da Lella e, procurando falar de maneira que ela compreendesse, sussurrou-lhe: «Não precisas de falar. Hoje a tua vida disse-me: "Ama tu também!"».
A montanha tinha-se deslocado.
«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Muda-te daqui para acolá”; e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (Mt 17, 20).
Palavra de Vida, Setembro de 1979, publicada em Essere la Tua Parola/2. Chiara Lubich e cristiani di tutta il mondo, Roma 1982, pp. 71-74.